Descrição de chapéu

Como lidar com os riscos que permeiam os projetos sociais

Mapeamento de boas práticas de gestão aumenta chances de projeto ser bem-sucedido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ivan Aires

Gerente de Projetos na Ink Inspira, consultoria especializada na gestão de projetos sociais, referência na formação e certificação de profissionais da área

No mundo da gestão de projetos é uma ideia bem estabelecida que, em geral, eles estão fadados ao fracasso. De acordo com a pesquisa Chaos Report, atualizada em 2015, quase 53% deles não alcançam os objetivos traçados, seja do ponto de vista de prazo, orçamento ou por entregar um produto ou serviço diferente do que foi prometido.

Por este motivo são oferecidos diversos cursos e graduações que se baseiam em uma metodologia concisa e bem estabelecida, com mapeamento de parâmetros de boas práticas de gestão, na expectativa de se aumentarem as chances de um projeto ser bem-sucedido.

Dito isto, é possível afirmar que o risco é uma característica inerente à gestão de projetos. E quando falamos de projetos sociais, não é diferente.

De forma bastante simplificada, podemos considerar que riscos são as incertezas do projeto —todo evento que, caso se confirme, terá impacto nos resultados ou objetivos esperados.

Essa incerteza poderá ter duas perspectivas. Se for prejudicial, é uma ameaça; mas se for benéfica, pode se tratar de uma oportunidade.

Um jeito fácil de visualizar isso é imaginar um projeto de aquisição e distribuição de cestas básicas, por exemplo. Dependendo do cenário econômico, a variação na cotação do dólar ou da inflação poderá representar uma queda ou aumento da quantidade de cestas que poderão ser adquiridas pela iniciativa.

Antes de continuar, é importante fazer uma distinção entre risco e problema. Ao contrário do risco, cuja natureza é a incerteza, o problema é a confirmação de um cenário que pode ou não ter sido mapeado.

Como boa prática de gestão dos riscos, o ideal é que se faça um registro e mapeamento abrangentes destas incertezas, para que se possa tomar decisões estratégicas caso o cenário previsto venha a se confirmar.

Quando sabemos identificar as incertezas, é importante distinguir como cada risco se relaciona com o projeto. Trata-se de uma análise profunda para vincular os riscos identificados às categorias adaptadas à realidade do projeto.

Ainda fazendo uso do exemplo sugerido anteriormente, a flutuação do câmbio ou inflação pode representar um risco categorizado como econômico. E como usualmente estes projetos contam com voluntários fazendo a coleta e distribuição, a incidência de chuvas pode representar um risco climático. Ou, até mesmo, como estamos vivendo uma situação de pandemia, o risco de contaminação da equipe pode ser tratado como de saúde.

Probabilidade versus impacto

Assim como o risco é uma característica intrínseca a projetos, as incertezas também preenchem o nosso cotidiano. Seja com a informação de que há uma probabilidade de 40% de chuva em determinada região, ou a probabilidade de 80% de contaminação pelo coronavírus, caso não se tome os cuidados necessários.

Esses são exercícios de quantificação das incertezas, fundamentais para qualquer projeto. Devemos sempre comparar a probabilidade de o risco eventual acontecer com o impacto gerado sob a perspectiva do escopo, prazo e custo.

Para tanto, podemos dividir os riscos de acordo com sua probabilidade e gravidade. Os valores podem ser divididos entre alto, médio ou baixo ou até mesmo é possível atribuir valores numéricos para fazer a comparação. Assim, é possível priorizar e definir as próximas ações e priorizar o risco através de um parâmetro coerente dentro do projeto.

Uma vez que os riscos foram identificados, categorizados e avaliados, é o momento de se perguntar se há como evitar que o risco se concretize. Se não, há como mitigar ou transferir essa responsabilidade a alguém que possa neutralizá-lo?

Agora, se o risco for baixo e o impacto pequeno, é melhor aceitá-lo e seguir em frente.

Riscos se alteram com o tempo

Uma certeza em uma realidade dinâmica como a de hoje é que os riscos evoluem conforme o tempo. O ideal é que a avaliação do risco do projeto seja realizada no contexto do desenho do projeto e seja acompanhada pelo gerente e pela equipe responsável por seus resultados e objetivos.

Durante a implementação, este acompanhamento poderá ser feito tanto do ponto de vista de monitoramento dos riscos, mas também a própria avaliação poderá mudar conforme o tempo. Eventuais riscos podem surgir, desaparecer e a sua relação entre probabilidade e impacto poderá até mesmo mudar o plano de resposta anteriormente traçado.

Portanto, não adianta elaborar um plano de gerenciamento de riscos e abandoná-lo na gaveta, é preciso revistá-lo sempre que o contexto se modificar. Com isto, temos um método para tomar decisões assertivas sobre como nos relacionamos com o risco.

A partir do que já falamos aqui, podemos utilizar os critérios indicados acima para embasar escolhas, refletindo e analisando de forma prática todos os riscos que a pandemia nos traz. Quer um exemplo? Profissionais essenciais seguem circulando, enfrentando transporte público e, muitas vezes, atendendo clientes potencialmente contaminados.

Primeiro identificamos o risco: No caminho do trabalho, há o risco de contaminação por Covid-19, na utilização do transporte público. Categoria: Saúde. Probabilidade versus impacto: O vírus é altamente transmissível via ar e predominância dos casos leves em relação aos casos graves.

Respostas possíveis: Teletrabalho, se possível (evitar); utilizar máscaras certificadas (mitigar). Monitoramento: Seguir acompanhando as recomendações sanitárias e o calendário de vacinação.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.