Descrição de chapéu câncer

Crianças aguardam remédios para câncer não cobertos pelo SUS; hospital pede doações

Metástase no pulmão desapareceu, diz mãe que aguarda continuidade do tratamento do filho

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma única dose da medicação para conter o crescimento do câncer de Leonardo de Oliveira, de 8 anos, custa R$ 13 mil. Ele e outras crianças aguardam o resultado da campanha de doação que o Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci) lançou em abril para retomar as sessões no hospital.

O câncer de Leonardo é raro não reage à quimioterapia. “Tivemos vários ciclos sem resposta”, conta a mãe, Erika de Oliveira. O caso foi levado para a Universidade Harvard, com vaquinha feita pela família, que apontou a metástase pelo corpo. Sem conseguir identificar o tumor primário, médicos do Itaci decidiram testar o medicamento novo na criança.

Parte das doações arrecadadas na campanha, que tem a meta de R$ 220 mil, será destinada à compra de remédios de alto custo, sintetizados fora do Brasil, não cobertos pelo SUS.

“Para tratamento do câncer básico, temos praticamente tudo em nosso país” diz Vicente Odone, titular de Oncologia Infantil na Faculdade de Medicina da USP e coordenador clínico do Itaci. “Quando há progressão das moléstias, somos obrigados a usar novas drogas e muitas delas não são liberadas pela Anvisa”, completa o médico.

A compra das drogas fora do país, por meio de doações de empresas e pessoas, é suportada por organizações como a Fundação Criança, mantenedora do hospital. “Medicamentos complementares podem custar até R$ 50 mil reais por dose”, diz Douglas Boscato, gerente da fundação.

Quando não tem o recurso disponível, o Itaci oferece alternativas para o tratamento –nem sempre tão eficientes. “As crianças são tratadas por um período prolongado e com custos materiais que se assemelhariam ao tratamento com as drogas novas”, diz Odone.

Segundo o médico, faltam estudos farmacoeconômicos no país que quantifiquem e comparem esses custos. “Uma criança tratada [com os novos medicamentos] terá menos transfusões e menos internações”, exemplifica.

Leonardo fez duas sessões em outubro do ano passado. “Depois o hospital ficou sem verba e ficamos sem tratamento”, diz Erika de Oliveira. Em janeiro, a família fez uma vaquinha e garantiu, junto com o Itaci, mais seis ciclos que melhoram a qualidade de vida de Leonardo. “Depois das sessões, os exames mostraram que a metástase no pulmão desapareceu”.

Com 95% do público proveniente do SUS, o Itaci fez 4.000 quimioterapias e 48 transplantes de medula óssea em 2020. Para Vicente Odone, o desempenho do hospital durante a pandemia foi surpreendente.

“Na hora em que começou, confesso que fiquei mal. Achei que teríamos um índice de mortalidade brutal”, afirma, explicando que, com o tempo, tendências mundiais apontavam que crianças com câncer evoluíam de maneira semelhante a outras crianças quando infectadas com o coronavírus.

“Tivemos 35 crianças que desenvolveram a doença e nenhuma delas faleceu em função da Covid-19”, diz o médico. “À medida que essa surpresa agradável ocorreu, fomos mudando nosso comportamento”.

As doações para a campanha podem ser feitas em www.itaci.org.br/doacao-financeira até 22 de maio, quando o Itaci realiza o tradicional Dia do Abraço.

Nesta data, desde 2017, profissionais de saúde, voluntários, pacientes e apoiadores promovem um abraço coletivo ao redor do hospital, incentivando o diagnóstico precoce da doença.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.