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Protagonismo cívico urgente

Brasil é celeiro de trabalhos incríveis que inspiram sociedade mais justa e com menos desigualdades

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Vera Cordeiro

Médica, empreendedora social e fundadora do Instituto Dara

Recentemente me deparei com uma foto que me chocou em todos os sentidos. A imagem era de uma família coletando ossos de um caminhão para garantir o jantar daquela noite.

Fiquei atônita por alguns minutos, sem conseguir reagir. Senti um misto de revolta, impotência, desespero e indignação. Muita compaixão por aquelas pessoas que se aglomeravam para ter algo que era aquém do básico da dignidade humana.

Caminhão carregado de restos de carne e ossos no Rio de Janeiro atrai moradores - Domingos Peixoto/Agência O Globo

Aquele registro é apenas um exemplo do quadro da pobreza no Brasil de hoje: segundo dados recentes da Fundação Getúlio Vargas, o número de pessoas que vive abaixo da linha da pobreza triplicou, atingindo cerca de 27 milhões de brasileiros, que vivem com R$ 246 (US$ 43,95) por mês.

Já imaginou como seria a vida da sua família, caro leitor, com menos de R$ 300 por mês? Como podemos alterar este quadro absolutamente grave?

Eu acredito que é possível e extremamente necessária uma mudança em nossa cultura para que realmente possamos viver em uma sociedade mais justa e com menos desigualdade social.

As transformações políticas e sociais não ocorrem somente através do voto, mas principalmente com efetivo engajamento de todos no dia a dia, com pequenas ações que, ao longo do tempo, trazem impacto na vida —não só dos chamados menos favorecidos, mas nas diversas classes sociais.

A meu ver, essa é uma forma bastante eficaz de "suturar" o esgarçado tecido social em que todos estamos imersos.

Em um país tão injusto como o nosso, que figura entre os dez mais desiguais do mundo, a felicidade é impossível de ser alcançada individualmente. Estagnação e falta de esperança só terão fim quando houver uma verdadeira organização da sociedade civil em torno de causas que afetam a vida de cada um de nós.

A grande transformação vem da elevação do grau de consciência de cada cidadão, que faz com que reconheçamos a inter-relação entre todos nós. O momento chegou, o Brasil é um celeiro de trabalhos incríveis.

As mudanças sistêmicas na sociedade são possíveis e chegou a hora dessa transformação ganhar força e viabilizar o tão sonhado bem-estar e felicidade coletiva.

Um exemplo de trabalho coletivo que consegue combater a pobreza de forma estrutural é o Instituto Dara, que fundei há 30 anos e hoje é considerado a melhor organização da América Latina e a 21ª. do mundo.

Por meio da metodologia "Plano de Ação Familiar", criada ouvindo a quem a gente servia, atuamos, de maneira integrada, com famílias vulneráveis nas áreas de saúde, educação, renda, moradia e cidadania.

Impactamos diretamente mais de 75 mil pessoas no Brasil e, indiretamente, mais de um milhão em quatro continentes, por meio de empreendedores que aprenderam conosco e implementaram a metodologia em diversos países.

E o impacto de longo prazo é sustentado no decorrer dos anos. Uma pesquisa da Universidade Georgetown provou que, de três a cinco anos após a alta de nosso programa, a renda familiar praticamente dobra e caem em 86% as reinternações hospitalares.

E pensar que tudo começou em 1991, quando promovi a rifa de um lençol para custear os principais documentos que viabilizariam a criação de uma instituição. A partir daí, a vida de muitas pessoas foi transformada, gerando autonomia, dignidade, protagonismo e esperança.

Nós, os primeiros voluntários, queríamos cobrir o mundo no sentido de promover o desenvolvimento humano. Hoje, temos a certeza que já transformamos a vida de milhares de pessoas no Brasil e no exterior.

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