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Casal lança NoonApp, que gera renda e propósito no mundo digital

Criadores de plataforma colaborativa, Reinaldo e Suzana Pamponet movimentaram R$ 15 milhões em rede social

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São Paulo

"Meu brother, é você mesmo? Por onde andava o branco mais preto da Bahia?" Assim Reinaldo Pamponet, 49, foi saudado ao fazer uma visita ao centro histórico de Salvador nas últimas férias de julho, oito anos depois de ter encerrado as atividades da Eletrocooperativa, ONG que ali funcionou de 2003 a 2013.

O morador fazia festa ao reencontrar o ex-executivo da Microsoft que transformou um sobrado do Pelourinho em uma usina de produção cultural digital.

Foi com essa imagem fabril que Regina Casé definiu a ONG, ao gravar um programa sobre o misto de estúdio e produtora audiodigital fundado por Pamponet.

casal de homem e mulher está sentada em beira de calçada de praça bem arborizada
Suzana Barros Pamponet, 51, e Reinaldo Pamponet, 49, são fundadores da Itsnoon Tecnologia, vencedores da Escolha do Leitor - Renato Stockler/Folhapress

"O tambor afro foi o primeiro computador da humanidade. Passava mensagens, organizava ritos, anunciava inimigos e quando ia chover. Comunidades na Bahia ainda se comunicam assim", diz o baiano radicado em São Paulo.

Pamponet fez uma mudança drástica de carreira. Trocou o crachá numa gigante de tecnologia pelo de empreendedorismo social, ao se reconectar com as origens e a influência de blocos afro como Olodum, Ilê e Muzenza do Reggae.

"Como a gente junta o computador ao tambor? A ancestralidade e a modernidade?", indagava o executivo, em plena crise dos 30, a amigos como Dudão Melo, apresentador do programa Jazzmasters; o publicitário Mário Zorzella; e Fernando Ferrel, produtor que trabalhou com Charlie Brown Jr. e Spice Girls.

O quarteto varava madrugadas em papos que deram origem ao projeto social e a uma tecnologia de inclusão replicada em cinco países. "A música nos uniu", diz Pamponet, sobre os parceiros mobilizados diante de reflexões como o fim da indústria fonográfica. Como é que ficam as pessoas que dependem dela?

Como a gente junta o computador ao tambor? A ancestralidade e a modernidade?

Reinaldo Pamponet

NoonApp

"O estúdio público no Pelourinho tangibilizou nossas inquietações", afirma Zorzella. Nessa jornada subindo e descendo a ladeiras do Pelourinho, Pamponet se inspirou em mentores como Cesare La Rocca, o italiano que fundou o lendário Projeto Axé e faleceu em setembro, aos 83 anos. "O Axé foi o referencial da nossa metodologia. É a base da arte-educação brasileira."

Caminho que influenciou política pública. A Eletrocooperativa ganhou edital do Ministério da Cultura para desenhar novo modelo de inclusão digital na gestão Gilberto Gil.

Duas décadas depois, o publicitário avalia como natural o percurso do ex-sócio na era digital. "Reinaldo é visionário. Era uma evolução natural sair do Pelourinho e ganhar o mundo com um projeto de distribuição de renda focado na indústria criativa."

Nessa nova empreitada, Pamponet tem como sócia a mulher, Suzana, 51, mãe de seus dois filhos, Tomás, 18, e Joana, 14. Em 2010, o casal concebeu a plataforma Itsnoon, que nasce como negócio social para integrar demandas de pessoas, instituições e empresas no mundo digital. "Nossa vocação sempre foi potencializar pessoas", define Suzana.

Graduada em administração pela FGV, ela passou por agências, como F/Nazca e Talent. Em 2012, já freelancer, atuava como interface com o mercado para viabilizar projetos com clientes como Natura e Vivo.

A empresa social financiava 50% dos custos da ONG, que nos dois primeiros anos foi mantida com economias do casal. "Nós éramos classe média metidos a filantropos. Nunca deixamos de fazer por não ter dinheiro", diz Pamponet. "Isso faz parte da nossa essência", completa Suzana.

Em 2013, o casal decide encerrar as atividades da ONG. "Foi difícil fechar quando ia bem, com parcerias com governos", explica Suzana. "Não queríamos virar uma instituição do terceiro setor por si só. Cumprimos nossa missão."

Era hora de mergulhar em novos ambientes de inovação. Em 2015, aceitaram convite da Prefeitura de Auckland, na Nova Zelândia, para colocar de pé o projeto Upsouth. "Aplicamos nossa tecnologia para criar uma comunidade online de engajamento cívico, conectando a prefeitura com os cidadãos para resolverem juntos questões da cidade", explica Suzana.

Aplicamos nossa tecnologia para criar uma comunidade online de engajamento cívico, conectando a prefeitura com os cidadãos para resolverem juntos questões da cidade

Suzana Pamponet

empreendedora social, cocriadora da plataforma digital NoonApp

A plataforma foi reconhecida como solução para governos em todo o mundo pelo Global City Teams Challenge, promovido pelo Departamento de Comércio dos EUA.

"Para sermos uma smart city temos que investir em smart people, e fizemos isso ao aprender a falar a língua dos cidadãos e trocar valor com eles", afirma Gael Surgenor, diretora do projeto Upsouth, sobre a tecnologia social "made in" Bahia.

A família Pamponet se mudou para Waiheke Island, ilha onde vivem 8.000 moradores, muitos estrangeiros e ex-hippies. Matricularam os filhos na escola pública onde aprenderam a língua maori. Pamponet virou técnico de futebol do time local. "Vimos de perto o poder efetivo do capital social, de como construir uma sociedade com valores e o papel de cada um em prol da comunidade", pontua Suzana.

Depois da experiência australiana, a família passou temporada na Califórnia, no universo tecnológico do Vale do Silício. "Lá tivemos a ideia do aplicativo", lembra Suzana. O casal frequentou cursos abertos na Universidade Stanford sobre o futuro da internet, blockchain e novos modelos de sociedade na era digital.

Minha História

Depoimento de uma pessoa beneficiada pelo projeto

De volta a São Paulo em 2018, começaram a fazer o protótipo do NoonApp, lançando em 2020, na pandemia.

"Após a experiência na Nova Zelândia, trabalhando com pessoas comprometidas com o desenvolvimento da cidade e do país, encontramos um Brasil em frangalhos", compara Pamponet. "Enquanto o país da Oceania era referência positiva no enfrentamento da Covid-19 no mundo, disputávamos o ranking de pior gestão da crise sanitária."

Em meio a isolamento social e medo, a dupla usou a simbologia da vacina para estimular o time e acelerar a criação do aplicativo, uma ferramenta de geração de trabalho e renda. "Criamos uma vacina digital para saúde mental, inteligência coletiva e dar dignidade a todos", diz Suzana.

Por meio de colabs, desafios propostos por empresas ou pessoas físicas, a Noon remunera os participantes com moedas digitais, que viram reais.

"A proposta é de uma plataforma onde pessoas expressam ideias e criações com o objetivo de ganhar dinheiro", resume Reinaldo.

Itsnoon significa meio-dia em inglês. "Momento do dia em que ninguém faz sombra pra ninguém. Tem gente talentosa sem lugar ao sol", diz ele. "Nosso propósito nasce daí, de propor à sociedade que talentos não sejam escondidos."

Suzana Pamponet, 51, e Reinaldo Pamponet, 49, são os vencedores da Escolha do Leitor, categoria de voto popular do Prêmio Empreendedor Social em Resposta à Covid-19 em 2021.

Suzana e Reinaldo Pamponet, criadores do NoonApp, falam sob o olhares dos apresentadores Adriana Couto e Leo Madeira e da editora Eliane Trindade, após vencerem na categoria Escolha do Leitor no Prêmio Empreendedor Social, em cerimônia realizada nesta terça (30 de novembro)
Suzana e Reinaldo Pamponet, criadores do NoonApp, falam sob o olhares dos apresentadores Adriana Couto e Leo Madeira e da editora Eliane Trindade, após vencerem na categoria Escolha do Leitor no Prêmio Empreendedor Social, em cerimônia realizada nesta terça (30 de novembro) - Jardiel Carvalho/Folhapress

O casal que deixou o mundo corporativo para criar uma rede social com propósito foi destaque ao usar sua plataforma colaborativa para gerar renda e fortalecer a saúde mental na pandemia.

A Escolha do Leitor ofereceu ao público a chance de conhecer os 12 finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2021, votar e doar em suas favoritas. A votação ficou aberta de 29 de outubro a 29 de novembro em folha.com/escolhadoleitor_2021.

Ao todo 317 projetos se inscreveram nesta segunda edição com foco no enfrentamento da pandemia da premiação realizada pela Folha em parceria com a Fundação Schwab.

O Prêmio Empreendedor Social tem patrocínio de Gerdau, Ambev, Sesi/Senai, Coca-Cola e Vedacit e parceria estratégica de Ashoka, ESPM, Fundação Dom Cabral, Pacto Global e UOL.

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