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'Depois do curso de azulejista, coloquei piso no meu banheiro e tenho profissão'

Moradora do Jardim Colombo (SP) reforma sua casa e de vizinhos em projeto da ONG Fazendinhando, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2021

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São Paulo

Há 40 anos no Jardim Colombo, a diarista Maria Gorete Ribeiro, 53, perdeu o marido na pandemia. No mesmo período, participou do projeto Fazendeiras, da arquiteta Ester Carro, que levou cursos de empoderamento feminino para a comunidade.

Com as aulas, realizadas nas casas das próprias moradoras da favela, Maria Gorete reformou seu banheiro e fez um quarto de bebê. Em depoimento à Folha, ela conta como enxerga a viela como parte de seu quintal e como aprendeu a fazer "o que homem faz" para seguir a vida.

mulher de blusa branca posa em frente a sua casa, que fica numa viela
Maria Gorete Ribeiro, 53, mora há 40 anos no Jardim Colombo e, com apoio do projeto Fazendeiras pôde reformar sua casa e de vizinhos - Gabriela Caseff

Minha mãe trabalhava em obra, gostava de serviço pesado. Nosso primeiro barraco foi ela quem fez, depois o pessoal foi chegando.

Eu nasci em Pernambuco, vim para São Paulo com dois anos de idade. A mãe foi cedo, teve um AVC aos 38. Não sabia que estava passando mal, achei que era fome.

O corpo ficou em casa três dias, era no alto e as portas estavam trancadas. Eu e meus irmãos colocamos fogo em um papel para atrair os vizinhos.

Fomos criados pela minha tia, que era severa, maltratava a gente. Estudei pouco, não tive uma educação correta. Fui trabalhar em casa de família.

Aos 18, casei. Parei para cuidar das filhas. Tenho quatro filhos mais as netas. Casei de novo e deu certo, fiquei 30 anos com ele.

Digo fiquei porque ele nos deixou agora em janeiro. Meu marido estava acima do peso, fumava e bebia muito. Não foi Covid. Teve dias que fiquei baqueada, só queria ficar deitada, mas passa, fica a saudade.

Eu moro no Jardim Colombo há 40 anos. Em comunidade você tem que viver bem com Deus e o diabo.

mulher de blusa branca posa em frente a sua casa, que fica numa viela
Maria Gorete Ribeiro, 53, mora há 40 anos no Jardim Colombo e, com apoio do projeto Fazendeiras pôde reformar sua casa e de vizinhos - Gabriela Caseff

Umas meninas viviam fumando aqui do lado. Dia desses minha gata estava deitada na porta. Mostrei para elas e falei que tinha desmaiado com a fumaça. Nunca mais apareceram. Não é tudo com grito.

Eu gosto de cuidar da comunidade, ajudo como posso. Limpo a viela quase todo dia. Também lavo, mas agora a água está faltando.

Apesar da coleta, as pessoas jogam lixo onde não deve. Nós não temos quintal, então a viela é o nosso quintal.

Essa casa era só um barraquinho, um cômodo, o piso era o grosso da rua. Não tinha porta, meu filho amarrou um bambu. Teve uma chuva forte e perdemos tudo. Reconstruímos com ajuda do meu patrão.

Na pandemia, consegui o auxílio do governo. Agora vai ter outro nome, né? Tive muita ajuda da Ester e do Ivanildo, da Associação de Moradores. Cesta básica, cartão alimentação, foi uma bênção, a cesta de legumes chega até hoje.

Entrei no projeto Fazendeiras, fiz curso de azulejista e coloquei piso no banheiro. Aprendi a deixar chão nivelado, mexer massa, assentar azulejo, tudo o que homem faz.

É um trabalho pesado. Até fiz um quarto enorme para um bebê. Assim ganho dinheiro e tenho uma profissão.

Também dei uma oficina de vaso de cimento para os moradores no festival de cultura no parque. Faço tapeçaria em quadro, gosto de pintura. Outro dia achei folhas de palmeira na rua, pintei, fiz um arranjo lindo para minha sala.

E, quando aparece uma faxina, uma roupa para passar, eu também vou. Trabalho no que aparecer, mas queria fazer o que gosto.

Meu sonho é abrir um orquidário para vender plantas e vasos. Quem sabe um dia?

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