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'Faz diferença na saúde um local projetado', diz enfermeira sobre reforma na Covid

UBS em Porto Alegre recebe intervenção do Coletivo Arquitetos Voluntários, finalista do Empreendedor Social do Ano, e não registra surto interno da doença

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São Paulo

O posto de saúde em Porto Alegre é a "casa" de Raquel Michels da Rosa, 59, há mais de 20 anos. É de lá que a enfermeira obstetra que luta pelos direitos das mulheres da comunidade viu a pandemia chegar.

Com apoio dos Arquitetos Voluntários, iniciativa liderada por Daniela Giffoni e Bianca Russo que foi finalista no Prêmio Empreendedor Social em Resposta à Covid-19, ela garantiu que o posto não tivesse surto interno e ganhou reforma que deixou sua "casa" ainda mais acolhedora.

mulher de cabelos brancos e cursos veste jaqueta azul e sorri
Rachel Michels, 59, enfermeira obstetra da UBS Parque dos Maias, em Porto Alegre - Arquivo pessoal

Sempre gostei de trabalhar com mulheres. O que chama a atenção é a desassistência que elas têm no parto. Seus direitos são tolhidos. Não há incentivo ao empoderamento do seu corpo.

Isso me motivou a trabalhar como enfermeira obstetra. E há 20 anos estou no posto de saúde Parque dos Maias, em uma comunidade carente da zona norte de Porto Alegre.

Esse lugar me escolheu, e eu o escolhi, questão de afinidade. Aqui eu me sinto em casa.

Veio 2020. As grávidas ficaram com medo, pois bebês nasceriam com ou sem pandemia. Uma pessoa ofereceu um apartamento vazio e ali montamos um ambulatório de atendimento pré-natal. Mas ainda tinham todos os outros pacientes.

O posto fica numa praça, com chão de terra batido e uma única porta de entrada. As pessoas esperavam do lado de fora. Como evitaríamos a contaminação na pandemia? Nem hospital estava dando conta, imagina nosso posto.

profissionais de saúde em frente a um posto
Entrada da UBS Parque dos Maias, em Porto Alegre, foi reformada com apoio de voluntários na pandemia - Arquivo pessoal

A gente viu o que os arquitetos estavam fazendo nos hospitais. Enviamos o nosso projeto. E elas vieram em abril.

Conheceram o espaço, souberam das nossas intenções de modificar a entrada da unidade para organizar o atendimento de pacientes com Covid. E foram além.

Pavimentaram, colocaram toldo e bancos lá na frente. Dividiram em áreas verde e vermelha. Fizeram consultórios e sala de apoio. Pintaram, sinalizaram e embelezaram. Elas até criaram uma sala de descompressão.

Temos que estar fortes na frente dos pacientes. Estamos há muito tempo nessa comunidade, temos vínculos, conhecemos as famílias, participamos de perdas.

Enquanto tu és ombro para outros chorarem, tu tens que estar firme. Então é bom ter um lugar para soltar um pouquinho os ombros.

A gente vê arquitetura como fazer casa bonita, prédio diferente, tem esse imaginário. E não percebemos a diferença que faz na saúde um local bem projetado, em que movimentos do paciente e do profissional são pensados.

A equipe se sentiu valorizada. Uma senhora disse que parecia atendimento particular. A reforma manteve a unidade saudável, foi a única que não teve surto interno de Covid.

As palmas na janela foram boas e nos valorizaram. Mas a ação prática de pessoas que deixam seu afazer para dar apoio concreto para equipes de saúde que estão na fronteira, na periferia, deu sentido ao que estávamos fazendo.

Se tem uma palavra que ficou disso tudo na nossa vida, foi dignidade.

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