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Você tem fome de quê?

Um apelo para pensarmos novos modelos de negócios cujo objetivo seja o bem-estar coletivo

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Fátima Matos

Médica, doutora em cardiologia pela UFRJ, presidente do Instituto Refazer e membro do Catalyst 2030

Vanderlucia da Silva

Fundadora da Impac.to-Negócios Sustentáveis, é administradora e membro do Catalyst 2030

Em uma sociedade marcada por desigualdades e problemas socioambientais, recentemente agravados pela pandemia de Covid-19, nosso olhar tende a focar a falta. Por outro ângulo, porém, temos um cenário de abundância à frente.

Abundância de oportunidades, que nos conectam de maneira colaborativa para construção de soluções que resolvam problemas ambientais e sociais, seja de uma comunidade, cidade, país ou até mesmo de todo o planeta.

Entrega de cartão alimentação para moradores de Paraisópolis na pandemia - Oba/Divulgação

O cenário atual é um convite a pensarmos, coletivamente, novos modelos de negócios, de atuação e de intervenção, cujo objetivo seja o bem-estar coletivo. Com união, visão sistêmica e propósito, podemos gerar impacto em educação, saúde, alimentação e meio ambiente.

O que nos falta? Como estamos nos comportando neste momento que apela pela solidariedade, pela empatia, pela colaboração?

Segundo Pesquisa Doação Brasil 2020, realizada pelo Idis, o percentual de doadores de dinheiro, bens e/ou trabalho voluntário caiu.

Esse resultado é atribuído à prolongada crise social e econômica enfrentada nesse período. Em 2015, 77% da população fez algum tipo de doação; em 2020 o percentual ficou em 66%.

Quando se trata de doação em dinheiro, a proporção caiu de 52% para 41%. E no caso de doações para organizações ou iniciativas socioambientais, a redução foi de 46% para 37%.

Se por um lado estamos ajudando menos, de outro, o desemprego se mantém elevado e a informalidade não para de crescer. O país tem mais de 14 milhões de trabalhadores desocupados, segundo dados do IBGE de julho passado.

E o que dizer de famílias com filhos doentes, pais desempregados, em risco social, que não conseguem arcar com despesas de tratamento ou cujos filhos não conseguem ser desospitalizados por longo tempo por falta de recursos?

São crianças que sofrem com limitações para respirar, se alimentar, se mover —sem falar de jovens com condições crônicas complexas de saúde, muitas vezes invisíveis para a sociedade.

Dificuldades também enfrentadas por refugiados em nosso país. De acordo com o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), em 2020 tínhamos 45 mil refugiados no Brasil.

Destes, cerca de 38 mil são da Venezuela. Também há sírios, congoleses e angolanos, em sua maioria. São cidadãos que abandonaram seus países de origem devido a conflitos armados, perseguições políticas ou religiosas, desastres ambientais ou crises econômicas.

Ações promovidas por organizações do terceiro setor ajudam a minimizar os efeitos destas condições. Os apoios são uma maneira de manter a dignidade que refugiados, crianças e suas famílias nem sempre encontram em seus lugares de origem.

Mas uma ONG sozinha pode não dar conta de suprir todas as necessidades que estes grupos carecem. Quadros complexos que nos remetem à questão: temos fome de quê?

Temos fome de compaixão, proteção, fraternidade, união. Enquanto não agirmos como corresponsáveis na solução de problemas, as adversidades se perpetuarão por mais tempo do que gostaríamos. A colaboração traz o máximo de inteligência coletiva e força para que se superem os obstáculos.

Temos urgência em sentar com pessoas que pensam no bem comum, na justiça, na inclusão, na diversidade, com coerência.

Temos fome de que alimento, saúde, educação e direitos básicos sejam garantidos, e que sejam acessíveis e de qualidade. E você? Tem fome de quê?

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