Voltei ao Brasil no começo de fevereiro, mais de três anos após a minha última visita, impedida de retornar antes devido às limitações impostas pela Covid-19. Assim como muitos setores afetados ao redor do mundo, fiquei extremamente apreensiva com os danos que a pandemia poderia causar no ecossistema de impacto.
Durante minha passagem pelo país, visitei três dos doze negócios investidos pela Yunus Negócios Sociais no Brasil. Foi uma grata surpresa confirmar pessoalmente os resultados positivos que eles têm gerado, mesmo com os desafios impostos pela crise sanitária.
O Grupo Muda fechou 2021 com mais de 500 condomínios com coleta seletiva e 14 cooperativas de reciclagem beneficiadas. A Escola do Mecânico adaptou suas aulas para o modelo remoto e impactou, até o final do ano passado, mais de 40 mil pessoas. O Meu Chapa conectou 2.500 profissionais em situação de vulnerabilidade a cem empresas com demandas de carga e descarga de caminhões.
A Provi, fintech de crédito estudantil, aumentou sua oferta de crédito para estudantes de medicina durante a pandemia, impactando mais de 170 mil pessoas. O Portal Telemedicina conectou pacientes de regiões remotas a médicos e especialistas e já atendeu mais de 30 milhões de pessoas.
Todos esses números revelam não só a capacidade de resiliência, adaptabilidade e foco no crescimento do impacto como diferenciais para a conquista de resultados tão significativos como também mostram que negócios sociais são mecanismos indispensáveis para navegarmos em tempos de crise.
Também pude notar o aumento na conscientização e ação sobre questões socioambientais no Brasil. Do lado dos investidores, percebi um novo impulso indescritível na busca por investimentos de impacto.
Pela Yunus, nossas discussões com investidores locais está aquecida e reforçamos o convite para que todos olhem para seu dinheiro também como ferramenta de transformação social, e não somente para especular ou maximizar lucro.
Do outro lado, me impressionou bastante o movimento de grandes empresas dentro da agenda de impacto e inovação social. Tanto no Brasil quanto globalmente, vimos empresas incorporando indicadores de impacto como metas de negócios, falando de capitalismo de stakeholders e se conectando verdadeiramente com pautas prementes do país.
Desde 2016, temos uma área dedicada a trabalhar com grandes empresas, chamada de "corporate innovation" e, portanto, acompanhamos de perto o amadurecimento dessa conversa.
Nosso foco é desenvolver estratégias e projetos com a missão de conectar o "core business" das empresas aos desafios mais urgentes do país. Hoje chamamos essa atuação de "impacto além do ESG", já que o ESG como está hoje não dá conta de todos os desafios da humanidade.
Nesses anos de pandemia, trabalhamos com Ambev, Reckitt, Itaú, Neo Química, Sanofi, Azeites Andorinha, Grupo Volkswagen, entre outros. Em 2022, já estamos coordenando dois grandes projetos. Junto à Raia Drogasil, temos apoiado a empresa a pensar como atuar, a partir do seu negócio, no acesso e promoção da saúde integral para populações de baixa renda no Brasil. Outro cliente, o Grupo Boticário, quer impactar a vida de um milhão de brasileiros através da redução da desigualdade por meio do seu próprio negócio social corporativo.
Também lançaremos no Brasil, em março, um manual inédito sobre 'procurement' de impacto socioambiental que, além de ser um guia prático de como integrar negócios de impacto na cadeia de valor das grandes empresas, também reforça o poder de compra corporativo como mecanismo para metas socioambientais e criação de valor para todas as partes interessadas.
Estamos completando dez anos de existência, e muita coisa mudou desde então. Quando começamos, o setor era pequeno e restrito, e explicar o conceito de negócios sociais em si já era uma tarefa árdua.
Hoje é senso comum que o mundo precisa de negócios que façam a diferença no mundo. Por isso, 2022 é um ano importante para a Yunus, um ano de maturidade.
Com nossa experiência, metodologias e parceiros vamos continuar entregando o que o mundo precisa: uma sociedade mais inclusiva e regenerativa.
Tendo o Brasil como nossa principal operação globalmente, é um orgulho ver o que nosso time local tem feito e, principalmente, testemunhar o potencial do Brasil em influenciar o ecossistema de impacto no mundo. Não vejo a hora de voltar!
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