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Stella Maris Moraes

'Mulheres com Asas', uma problemática, muitas soluções

Documentário mostra abordagem multidisciplinar que apoia mulheres e mães de favelas na garantia de seus direitos

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Stella Maris Moraes

Fundadora da ONG Anjos da Tia Stellinha. Assistente social, especialista em direitos humanos e mestranda em desenvolvimento local

Quando trabalhamos com projetos sociais contra a desigualdade de gênero, frequentemente vemos iniciativas com intervenções únicas, como projeto para o empreendedorismo feminino, para garantia de direitos de mulheres negras, com temáticas de saúde mental ou bem-estar.

É difícil pensar em ações para mulheres em situação de vulnerabilidade que tenham abordagens unilaterais. Eu vejo a complexidade da desigualdade de gênero como uma questão social multidimensional e interdisciplinar.

Mulher está sentada sobre mesa de jogos. Usa calça de oncinha e blusa azul, está mostrando o muque com um dos braços e sorrindo
Stella Maris Monteiro Moraes é presidente da ONG Grupo Anjos da Tia Stellinha - Folhapress

Não tem como colocar todas as experiências da pobreza feminina em um saco só e tentar resolver como uma massa de bolo pronta. São muitas as especificidades, independentemente de os atravessamentos sociais se repetirem em cada narrativa.

Violência intrafamiliar infantil, violência sexual, violência contra a mulher, exclusão social, racismo, baixa escolaridade, desemprego, insegurança alimentar, falta de qualificação profissional, precariedade da moradia, baixa qualidade de vida e saúde mental.

Estas são problemáticas de todas, mas é muito peculiar como cada uma dessas questões se desenvolve em cada uma. E é difícil puxar uma das temáticas para trabalhar se uma está intimamente ligada a outra.

É pensando nisso que, há sete anos, a ONG Anjos de Tia Stellinha desenvolveu uma metodologia própria, chamada "Quadrilátero de Apoio", para apoiar mulheres, mães em situação de vulnerabilidade social.

Ela tem como base quatro eixos estruturantes, em forma de programas: terapias, integração social, educação e proteção social integral. Com esses nichos, trabalhamos com diversos projetos e profissionais interdisciplinares, que estudam de forma individual cada trajetória para aplicarmos as intervenções mais assertivas e eficazes.

No primeiro mini documentário da ONG, "Mulheres com Asas", exemplificamos essa metodologia. São histórias de três mulheres em situação de pobreza extrema, moradoras da mesma comunidade, com os mesmos atravessamentos sociais, mas com desdobramentos distintos em suas vidas.

Não tem como replicar a intervenção feita com a Aline, ex-dependente de crack por mais de uma década, para a Rita, cujo filho morreu, em depressão profunda, que morava em uma casa de madeira e não tinha acesso a serviços sociais básicos. Muito menos para Inês, em extrema insegurança alimentar, mas que já tinha Ensino Médio completo, e com uma visão mais ampliada de emancipação social.

Todas são mulheres, mães, pobres, mas são histórias completamente diferentes. As resoluções precisam ser diferentes também.

O documentário explora essa crítica reflexiva, evidenciando a qualidade do nosso trabalho técnico, feito com muito afeto, e a necessidade de um olhar sensível e multidisciplinar para a desigualdade de gênero, para que a intervenção possa vir em conjunto, de forma sistemática.

A emancipação dessas mulheres precisa ser social, no sentido de ganhar autonomia orientada dos seus direitos, buscá-los e garanti-los, se sentir segura para ocupar espaços e outros meios sociais.

Precisa também ser emocional, quando esta mulher cria resiliência para resolver de maneira equilibrada seus conflitos internos e mediar os externos, com ganho de qualidade de vida e saúde mental.

E, principalmente, emancipação financeira, pois um indivíduo sem produção econômica cai em um ostracismo societário, onde outras abordagens de emancipação também são prejudicadas.

Acredito que apenas dessa maneira holística consigamos trazer propostas eficientes de combate à desigualdade, sem desperdício de tempo e de recursos.

E sempre trabalhando em rede, unindo os três setores com cada um propondo o que sabe fazer de melhor. Unir políticas públicas perenes ao engajamento da sociedade civil organizada, aos recursos do corporativismo.

É como eu falo no documentário: pode parecer trabalho de formiguinha, uma gota no oceano, mas o oceano sem essa gota seria menor, parafraseando outra mulher fazedora do bem, Madre Teresa de Calcutá.

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