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Após visita a favela, executivos estrangeiros propõem soluções para moradia digna

Desafio proposto pela Vedacit, em parceria com FDC, traz ao Brasil estudantes de MBA de vários países para conhecer desafios da habitação social

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São Paulo

Executivos de grandes empresas de países como Canadá, Itália e Índia estiveram no começo de abril em uma favela em São Paulo. Sua missão, como estudantes de um programa de MBA internacional, era propor soluções para as moradias inadequadas que viram.​

"Despertou profunda raiva perceber que, em 2022, ainda há dificuldades para viver", diz a estudante italiana Eva Majidi, 45, diretora do Grupo Damiani. "Desde o acesso à água potável até graves problemas de mofo nas casas."

Alunos de MBA internacional visitam Jardim Ubirajara, favela da zona sul de São Paulo
Altos executivos de MBA internacional visitam Jardim Ubirajara, favela da zona sul de São Paulo - Divulgação/FDC

Assim como Eva, muitos deles visitaram uma favela pela primeira vez. Entraram em casas com rachaduras e goteiras e andaram entre vielas com reboco e lixo à mostra.

"O que mais impactou o grupo foi a resiliência e a solidariedade. Como perfeitos estranhos, nos inserimos na intimidade dessas famílias e, apesar de condições de vida extremamente precárias, encontramos pessoas generosamente acolhedoras", conta a executiva.

Na manhã de 8 de abril, os estudantes apresentaram suas propostas em um encontro na Fundação Dom Cabral (FDC).

Entre as ideias, fazer obras padronizadas, diversificar o crédito para reformas e criar produtos a partir do lixo gerado na comunidade. A proposta do grupo de Eva foi construir habitações modulares com materiais como aço, bambu e plástico reciclado.

Alunos de MBA internacional visitam Jardim Ubirajara, favela da zona sul de São Paulo
Visita guiada pela Comuta Arquitetura ajudou alunos de MBA internacional a entender desafios da habitação social no Brasil - Divulgação/FDC

"Ver o problema real, a falta de moradia digna na favela, foi impactante", diz Heiko Spitzeck, professor de sustentabilidade corporativa e diretor do Núcleo de Sustentabilidade da FDC.

"Os moradores da comunidade precisam de filantropia, mas também precisam das soluções que empresas e negócios de impacto trazem."

O desafio foi proposto pela Vedacit, que tem como compromisso a redução de 1,6 milhão de moradias inadequadas até 2025. "É uma meta arrojada e temos consciência de que sozinhos não vamos executar", diz Luis Fernando Guggenberger, executivo de marketing, inovação e sustentabilidade da Vedacit.

"Por isso temos a estratégia de acelerar e fortalecer uma rede de novos negócios que atuam com moradia para baixa renda. É esta rede que vai atingir a meta."

Em seus programas de inovação aberta e em parceria com a Artemisia, organização pioneira no fomento de negócios de impacto, a Vedacit acelerou 60 negócios e ONGs em todo o país.

Caso da Comuta Arquitetura, que guiou a visita dos executivos pelo Jardim Ubirajara, favela da zona sul de São Paulo. "O envolvimento deles foi especial para a comunidade", diz Guilherme Mazon, CEO do escritório popular de reformas.

Segundo ele, criar modelos padronizados de projetos arquitetônicos e treinar trabalhadores locais para serviços de construção civil foram ideias bem-vindas.

"É um mercado novo, estamos testando hipóteses e é importante ter um campo fértil para que possamos ter novas ideias."

Prêmio Empreendedor Social

Destinado a projetos que combateram a Covid, iniciativas em direitos humanos e meio ambiente e mais

Entretanto, eles lembraram os executivos de que o financiamento no Brasil nem sempre é facilitado a populações mais vulneráveis. Se há pouco crédito disponível para compra de imóveis novos, para reformas é quase inexistente.

"A moradia é um desafio complexo porque há pessoas em diferentes situações nas favelas. Há aqueles que têm acesso a crédito, outros não podem pagar por isso", afirma Mazon.

A grande maioria das propostas levou em conta o empoderamento da população, enxergando que moradia digna vai muito além de uma casa sem trincas na parede.

"Quando se fala em habitação de baixo custo, existe a cultura de fazer tudo igual, mas a comunidade tem sua identidade, não dá para pintar tudo de branco ou fazer telhado sempre do mesmo jeito", diz Anderson Passos, gerente de marca e relacionamento da Vedacit.

Para a empresa que tem um produto impermeabilizante como carro-chefe, apostar em impacto positivo tem a ver com negócios. "Precisamos mudar as regras do jogo", diz Marcos Bicudo, presidente da Vedacit, que participou do encontro virtualmente.

Marcos Bicudo é o CEO da Vedacit
Marcos Bicudo é o CEO da Vedacit, que tem impermeabilizantes como carro-chefe - Divulgação

"Estamos olhando para a inovação social como forma de criar mercado e fazer a transição para sermos uma empresa de serviços."

No sábado (9), os executivos retornaram a seus países. As ideias que emergiram do encontro vão servir de inspiração para a rede fomentada pela Vedacit, mas também inspiraram os estudantes.

"Foi uma experiência significativa e sincera", diz Eva Majidi. "Tomamos a decisão de criar uma incubadora de startups para trabalharmos juntos em nível internacional."

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