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Expo Favela lota WTC com presença de políticos, famosos e 350 negócios

Com público de 30 mil pessoas em três dias, evento se coloca como movimento para mostrar potencial de empreendedores da favela

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São Paulo

"Essa plateia aqui foi tudo que eu sonhei um dia", diz Celso Athayde, ex-camelô e CEO da Favela Holding. Ele é aplaudido por parte das 11 mil pessoas que tiraram o domingo de Páscoa para participar de um evento dedicado aos negócios emergentes de comunidades.

A Expo Favela começou na sexta-feira (15) no complexo empresarial WTC, em São Paulo. A conferência que juntou Luciano Huck e Neca Setubal (Fundação Tide Setubal) a Adriana Barbosa (Feira Preta) e Hamilton da Silva (Saladorama) deu o tom de como seriam aqueles três dias de encontro.

foto mostra espaço de um evento que juntou empreendedores da favela e investidores do asfalto
Teatro do WTC foi palco de diversas conferências durante a Expo Favela, em São Paulo - Marcelo Pereira/Secom Prefeitura de São Paulo

Dividiam a mesma plateia 'Vovó Tutu', cozinheira negra da Brasilândia que alimentou milhares com seus pães na pandemia, e Felipe d'Avila, candidato à Presidência pelo partido Novo.

A mistura de CEPs, cores e sotaques que se manifestou em toda a feira foi o que Celso Athayde prometeu ao anunciar o evento: conectar asfalto e favela.

"A favela tem que estar em todos os lugares, do empreendedorismo à política, e esse evento é símbolo disso", disse Huck.

Prêmio Empreendedor Social

Voltado a projetos que combateram a Covid, iniciativas em direitos humanos e meio ambiente e mais

Para Adriana Barbosa, que criou o maior festival de cultura negra da América Latina, estar no palco do WTC requer musculatura emocional. "É um processo de convencimento porque ainda olham para a favela com a ótica da escassez", diz ela, que entrevistou o DJ Alok no domingo.

"Falar de dinheiro era pecado, mas o sucesso não pode só vir com representatividade ou mídia. Sucesso na comunidade negra é mobilidade social."

"Em uma orquestra sinfônica, num time de futebol que dá certo ou no bom jornalismo, o que tem é diversidade", disse Felipe d'Avila, que estava na primeira fileira na plateia. Mesmo espaço ocupado pela rapper carioca Nega Gizza, por Ester Carro, arquiteta de Paraisópolis, e pelo deputado federal Vinicius Poit (Novo-SP).

"Estou aqui aprendendo um novo vocabulário para me conectar com as pessoas", completou Felipe d'Avila.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB-SP), também esteve por lá. "Participar da primeira Expo Favela nesse lugar chique que a favela tomou conta é motivo de muita alegria", disse à plateia na abertura do evento.

Além das conferências, os três andares da feira abrigaram sala de cinema, feira literária, exposição com fotos de Paraisópolis, salas de mentoria, entre outras atrações.

foto mostra espaço de um evento que juntou empreendedores da favela e investidores do asfalto
Galeria com fotos da favela de Paraisópolis no Beco Visceral, na Expo Favela - Marcelo Pereira/Secom Prefeitura de São Paulo

Na sexta-feira, a reportagem encontrou áreas lotadas, com filas para conferências, que atrasaram e deixaram parte do público irritado na fila.

"Eu paguei para ver todas as palestras, não vou sair daqui", disse uma pessoa à produção do evento, que pedia que o público da palestra anterior saísse do teatro para dar lugar aos que aguardavam do lado de fora.

Famosos como Alok, Luiza Helena Trajano, Kondzilla, Emicida, Natuza Nery e Marcelo Tas tornavam concorridas as conferências no teatro com capacidade para pouco mais de 500 pessoas.

homem ri sentado em poltrona branca em palco
Emicida participou de uma das mesas na Expo Favela - Divulgação/Expo Favela

A circulação era mais fácil nas áreas de exposição dos 350 empreendedores à frente de negócios de favelas de todo o país.

"Conhecer outras pessoas que estão na mesma batalha que eu é algo único", afirmou Tulani Nascimento, CEO da Favelacult.

A agência de comunicação de Salvador (BA) produz experiências criativas e potencializa profissionais e artistas periféricos. "Estou em busca de financiamento e de mentores para ampliar o serviço e aqui é o lugar ideal."

Roupas recicladas, plataformas de podcast, arquitetura popular, games, delivery de comida, hortas caseiras e até um "Loolaperifa" eram alguns dos negócios expostos ao público.

Os 30 mil visitantes da Expo Favela vieram de todas as regiões do país e com motivações variadas.

foto mostra espaço de um evento que juntou empreendedores da favela e investidores do asfalto
Área de exposição dos empreendedores na Expo Favela, que aconteceu no fim de semana da Páscoa em SP - Marcelo Pereira/Secom Prefeitura de São Paulo

"Estamos querendo inovar no campo social, talvez incentivando projetos, e viemos conhecer as ideias", afirma Milene Zaratini, sócia de uma corretora de seguros de Belo Horizonte (MG).

"Encontrar pessoas que trabalham com empreendedorismo na favela faz com que a gente consiga identificar onde estão nossas fragilidades e as pontes que podemos construir", diz Janaína Augusto, que trabalha em uma ONG em Rio Claro (SP).

Ela estava ansiosa para ver a palestra com Edu Lyra (Gerando Falcões) e Tia Dag (Casa do Zezinho). "As políticas públicas demoram para chegar até nós, mas não significa que somos carentes."

À frente da Central Única das Favelas (Cufa), Preto Zezé aposta que o evento ajuda a tirar do imaginário coletivo a ideia da comunidade como lugar de tragédia, tiroteio e morte. "Desta vez a favela está no palco, na plateia, atrás e na frente das câmeras."

"Esse é o desdobramento de uma revolução social silenciosa feita por um ex-mendigo que prometeu nunca mais pedir dinheiro. Não é só uma feira, é um movimento que não tem volta", completou Celso Athayde.

"Não é só uma feira, é um movimento que não tem volta"

Celso Athayde

CEO da Favela Holding

O evento que começou apontando que o número de favelas brasileiras dobrou na última década —são 13.151 em todo o território— e que há 17 milhões de pessoas vivendo nelas, dos quais 67% são negros, terminou em festa, com um baile de favela.

"Eu só quero é ser feliz…", cantarolou Athayde para as 4.000 pessoas em torno do palco no domingo à noite. E a plateia cantou de volta: "E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar."

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