Estamos chafurdando na caricaturização do outro, diz Francisco Bosco

Escritor encerra o terceiro dia do Fiis com masterclass sobre o momento político brasileiro

Francisco Bosco
Escritor, filósofo e apresentador do programa Papo de Segunda, Francisco Bosco ministra masterclass no Fiis - Keiny Andrade/Folhapress
Beatriz Maia
Poços de Caldas (MG)

Escritor, filósofo, poeta, compositor e apresentador do programa Papo de Segunda, no canal GNT, Francisco Bosco levou ao palco do Fiis (Festival de Inovação e Impacto Social) uma reflexão autocrítica sobre o momento político que o país atravessa.

Para ele, o Brasil está tomado por uma lógica de grupo na qual os indivíduos só dialogam com aqueles que pensam exatamente da mesma forma. “Um aliado crítico se transforma em inimigo mortal”, definiu o escritor. A impossibilidade de, com a mínima discordância, estabelecer pontes entre pessoas com ideais comuns é o que ele chama de caricaturização do outro.

“Se você reduz o outro a uma caricatura ele tende a reproduzir essa lógica contra você. E sabemos como é difícil reconhecer a legitimidade do outro quando ele está com o dedo na sua cara”, afirmou Bosco.

Se há alguns anos se dizia que todo brasileiro era técnico de futebol, o escritor defendeu que hoje todos viraram analistas de conjuntura ou militantes. Segundo ele, o problema disso está na baixa formação política da população, e na qualidade das informações compartilhadas por WhatsApp.

Quando as redes sociais surgiram, apontou, as pessoas viram a promessa de descentralização da grande imprensa, demasiadamente concentrada e desacreditada, em suas palavras. O modelo tradicional foi substituído por uma ferramenta na qual a circulação de informações não passa pelo crivo de um órgão privado, mas por parentes e conhecidos, o que daria mais credibilidade. “Deu no que deu”, disse. 

“Agora precisamos entender como regular esses meios para que eles cumpram uma missão civilizatória e não manipuladora”, concluiu o escritor. Para recuperar o espaço de diálogo dentro das regras democráticas, Bosco lembrou das iniciativas de pessoas que foram às ruas conversar com eleitores indecisos no segundo turno, e ofereceram bolo e café. 

“Bolo e cafezinho civilizam a sociedade. Temos que pensar em oferecer isso para a sociedade”, disse, fazendo uma analogia do lanche com uma atitude simpática para escutar ideias diferentes.

Para ele, é preciso que os cidadãos sejam capazes de reconstruir um solo comum social mínimo, pautado pelos pilares comuns de um regime democrático. Em sua visão, isso se expressa no sistema de contrapeso dos poderes, defesa da liberdade de expressão, reconhecimento da legitimidade do voto e um programa mínimo de recusa à violência.

O escritor, que se define alinhado com as ideias da esquerda, contou que vem fazendo esforços para discutir honestamente com o campo adversário. “Eu tenho grandes amigos na minha lista de contatos do WhatsApp que são grandes expoentes do pensamento de direita. Quando você é capaz disso, sua própria perspectiva sofre uma mudança enorme”, afirmou. 

FESTIVAL

O Fiis movimenta Poços de Caldas entre os dias 2 e 7 de novembro no Palace Cassino, no centro da cidade. O evento agrega o encontro anual da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, formada por cem líderes, o Congresso Sorriso do Bem, da Turma do Bem, correalizadora desta edição, e o Fórum Melhores Práticas para Saúde no Terceiro Setor, da Aliança Latina.

Na programação, temas como o futuro dos negócios sociais e das ONGs, captação, mobilização e conexão, inovação e novo significado do voluntariado serão discutidos durante masterclasses, workshops e painéis que contarão com a participação de empreendedores, investidores e empresas que atuam por impacto positivo.

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