Ex-executivos dizem no Fiis que carreira de propósito está hoje mais perto dos jovens

CEO de Propósito foi um dos painéis apresentados ao longo do festival em Poços de Caldas (MG)

Cristiano Cipriano Pombo
Poços de Caldas (MG)

Uma cena surpreendeu a todos os participantes durante um dos eventos no Fiis (Festival de Inovação e Impacto Social), em Poços de Caldas (MG), na segunda-feira (5).

Conduzidos pelo professor e consultor Ricardo Voltolini, referência em liderança e sustentabilidade, o administrador de empresas Bernardo Bonjean (Avante), a pedagoga e gestora administrativa Cynthia Betti (Plan International) e o engenheiro Ricardo Podval (Civi-Co) tinham acabado de explicar os motivos que os levaram a empreender no painel CEO de Propósito quando veio a surpresa.

Comovido pelos depoimentos, o professor e ouvidor federal André Luiz da Silva indagou Podval. “Você sabe por que não tem o domínio civico.com.br? E quem é dono?”, questionou.

“Puxa, eu procurei esse dono, pesquisei e até mandei um email a ele”, respondeu Podval, que tem sua empresa alocada no civi-co.net.

“Eu nem abri seu email. O dono sou eu. E eu digo aqui na frente de todos que abro mão do direito do domínio para você usar no Civi-co, que vejo que ajudará muita gente”, disse Silva.

Quando adquiriu o domínio, em janeiro de 2014 o professor imaginou criar algo para impulsionar as pessoas a participarem do Estado. E, ao saber da história do Civi-Co, cuja criação motivou Podval a trocar o mundo empresarial para o do empreendedorismo social, não titubeou.

“Eu queira comprar o domínio dele. Procurei bastante. E agora vejo essa atitude bonita dele, num ambiente como este do Fiis, que motiva todos nós a queremos causar mais impacto em nossas ações”, afirmou Podval.

Ele tinha sido o último a falar no painel, que discutiu a transição da carreira executiva para o empreendedorismo e teve três consensos. 

O primeiro, o de que não há uma receita de bolo para migrar a carreira. “Isso não ocorre do dia para a noite. Eu diria que é um processo, que envolve desde sentimentos, avaliação da situação financeira e até conversas e apoio da família”, afirma Cynthia, que, aos 47 anos, fez deixou a diretoria de uma seguradora para trabalhar na Plan International, ONG que defende os direitos de crianças, adolescentes e jovens, com foco na promoção da igualdade de gênero. 

“Eu tinha propósito em minhas ações. Mas agora vejo propósito em meu trabalho”, diz ela, cuja organização atua em cinco estados brasileiros e beneficiou mais de 6.500 crianças e cerca de 3.000 familiares. 

O segundo consenso foi o de que o capitalismo sem consciência social impõe um relação de perdas para muitos e ganhos para poucos. “Eu daria nota 4 para o capitalismo, porque assim ele não passaria de ano, já que não faz pelas pessoas”, disse Bonjean, que largou a carreira em bancos para empreender socialmente na Avante --ele foi finalista do Prêmio Empreendedor Social em 2017.

“Hoje, quando eu coloco meu filho para dormir, em vez da história de heróis, eu conto a histórias do meus clientes e beneficiários”, diz ele, que oferece microcréditos e serviços bancários humanizados para a base da pirâmide e hoje atende a 100 mil pessoas.

O terceiro, e último ponto de consenso da mesa com os ex-executivos, foi que o sentimento que levou os quatro a mudar o rumo das carreiras está mais precoce.

“É com grande alegria que vejo jovens trainees com os pensamentos que passamos a ter após os 40 anos, de empreender, trabalhar com um propósito, de questionar o que aquele trabalho vai agregar na vida, na comunidade, nas pessoas”, afirmou Voltolini.

“Esse é o que propósito nos move”, concluiu Podval, que vê o Civi-co ajudar 62 organizações e atingir 5 milhões de pessoas.

FESTIVAL

O Fiis ​contece entre os dias 2 e 7 de novembro no Palace Cassino, em Poços de Caldas (MG). O evento agrega o encontro anual da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, formada por cem líderes, o Congresso Sorriso do Bem, da Turma do Bem, correalizadora desta edição, e o Fórum Melhores Práticas para Saúde no Terceiro Setor, da Aliança Latina.

Na programação, temas como o futuro dos negócios sociais e das ONGs, captação, mobilização e conexão, inovação e novo significado do voluntariado serão discutidos durante masterclasses, workshops e painéis que contarão com a participação de empreendedores, investidores e empresas que atuam por impacto positivo.

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