Ferramentas para melhorar trabalho de ONG são discutidas em encontros do Fiis

Uso de dados e relacionamento com imprensa foram destaque no quarto dia do festival

Beatriz Maia
Poços de Caldas (MG)

Formas de utilizar recursos disponíveis para alavancar as causas defendidas pelos empreendedores sociais fizeram parte das discussões no quarto dia do Fiis (Festival de Inovação e Impacto Social). Uma das possibilidades para isso é o uso das informações já disponíveis no Datasus, plataforma aberta do Ministério da Saúde que disponibiliza dados mapeados pela pasta.

Um exemplo do que pode ser feito com este tipo de dado é o Observatório da Oncologia, criado pela Abrale (Associação Brasileira de Talassemia). O projeto analisa as informações da plataforma como incidência e mortalidade de tipos da doença e disponibiliza estudos com linguagem acessível aos pacientes.

“Quando o Ministério disponibiliza estas informações não dá para ter a dimensão de todas as possibilidades de uso”, afirmou o consultor independente de gestão de informação Claudio Cavalcanti, defendendo a capacitação da sociedade civil para o manejo de dados.

Para dar o próximo passo no uso das informações de saúde, segundo o consultor, é preciso que o país avance na implantação de prontuários online, realidade em cerca de 20% das unidades de saúde no Brasil.

No entanto, há cuidados a serem tomados para a proteção dos pacientes, o que foi reconhecido com a aprovação da lei 13.709/18, de proteção de dados virtuais. Entre as determinações está o consentimento explícito do paciente para a abertura dos dados, e a capacidade de registrar e rastrear todo uso dessas informações.

Câncer

O aplicativo Wecancer é outro exemplo do uso de tecnologias da informação para a saúde do paciente. Baseado na coleta de dados sobre o tratamento de câncer de seus usuários, o programa monitora aspectos relacionados ao bem-estar. Engloba também chats com profissionais da saúde e alertas quando são registradas informações de sintomas graves.

Estima-se que 50% das internações de pacientes em tratamento de câncer são evitáveis com aconselhamento adequado, segundo César Filho, um dos fundadores do aplicativo. Sintomas como náusea, febre e desidratação poderiam ser controlados em casa, aumentando a qualidade de vida e diminuindo custos do tratamento, disse.

“Propomos uma nova lógica de tratamento com o manejo ativo do paciente”, afirmou. Assim como ele, os outros três fundadores do aplicativo perderam pais para a doença. O projeto é incubado pelo Hospital Albert Einstein, e tem a Universidade de Harvard entre seus parceiros.

Mídia

Como trabalhar com a mídia a favor das causas é outra ferramenta importante para os empreendimentos sociais. As jornalistas Betânia Lins e Ellen Nogueira, produtora do Jornal Nacional, deram dicas de como emplacar causas nos noticiários.

Ellen apontou que a lógica de funcionamento da imprensa pede respostas rápidas dos entrevistados. “É preciso aproveitar as oportunidades quando elas aparecem, mas entender também que às vezes um acontecimento urgente vai ocupar todo o jornal, e não haverá espaço para outras histórias”, afirmou a jornalista.

Estar disponível é o primeiro passo. Um bom site e contatos disponíveis aceleram a comunicação com a imprensa. Na falta de recursos para contratar profissionais para a tarefa, uma saída indicada por Betânia é procurar desenvolver projetos com faculdades de jornalismo da região da organização. “Assim se envolve jovens profissionais em formação, que, sensibilizados, se lembrarão da causa para sempre”, afirmou.

O caminho para chamar a atenção da imprensa é oferecer histórias inspiradoras, exemplos que possam atrair o público. Além disso, oferecer fatos objetivos e números que deem dimensão da importância do trabalho, explicaram as jornalistas.

Festival

O Fiis movimenta Poços de Caldas entre os dias 2 e 7 de novembro no Palace Cassino, no centro da cidade, e deve atrair um público de cerca de mil pessoas nos seis dias de programação.

O evento agrega o encontro anual da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, formada por cem líderes, o Congresso Sorriso do Bem, da Turma do Bem, correalizadora desta edição, e o Fórum Melhores Práticas para Saúde no Terceiro Setor, da Aliança Latina.

Na programação, temas como o futuro dos negócios sociais e das ONGs, captação, mobilização e conexão, inovação e novo significado do voluntariado serão discutidos durante masterclasses, workshops e painéis que contarão com a participação de empreendedores, investidores e empresas que atuam por impacto positivo.

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