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Ricardo Cardim

Quem é ele?

Ricardo Henrique Cardim, 32, ambientalista, pesquisador e dentista.

Organização: Associação Amigos das Árvores
Ano de fundação: 2008
www.arvoresdesaopaulo.wordpress.com

Ambientalista e pesquisador, criou a Associação Amigos das Árvores, blog que trabalha para o resgate da paisagem paulistana, visando melhoria da qualidade de vida em cenários urbanos. Com olhar científico no contexto e na formação da cidade, tenta recuperar árvores ou áreas nativas da região, para preservar o patrimônio histórico social de uma das capitais mais áridas do planeta, São Paulo. Com pouco mais de um ano de existência, o empreendedor social já conseguiu transformar em parque municipal um fragmento de cerrado localizado no Jaguaré (região oeste). O blog também atingiu mais de 300 mil acessos com origem em 92 países.

Sementes no concreto

Ambientalista lança blog em que incentiva a rearborização da maior cidade do país com o uso de plantas nativas

RACHEL AÑÓN
DA AGÊNCIA FOLHA

Um desenho feito na adolescência mostra um menino com uma mochila nas costas e um facão nas mãos, preparado para desbravar a floresta que ele mesmo plantou. É a tradução perfeita da paixão de Ricardo Cardim, 32, pelas árvores e pela natureza.

"É uma coisa que sempre esteve comigo. Uma conexão imediata. Quando eu via uma árvore, eu sentia que estava vendo uma pessoa amiga."

Uma anotação feita pela mãe em um álbum, expressando a alegria dele ao brincar com as sementes, mostra que era uma criança diferente. A vontade de investigar a natureza logo se manifestou.

No pequeno apartamento onde a família morava, não faltou espaço para criar um laboratório em um armário antigo no quarto de empregada para "dissecar as folhas" e seu próprio campo a pequena varanda onde germinava sementes.

Porém todo aquele mundo que o menino valorizava ruiu por terra na adolescência. "Comecei a ser incompreendido pelos colegas, que me achavam esquisito. Isso me gerou muita dor", relembra.

Para sobreviver à pressão dos colegas, o seu amor caiu na clandestinidade. Mas a vergonha em ser descoberto não o impedia de sair com uma enxadinha e plantar escondido suas mudas na vizinhança.

A hostilidade da cidade foi compensada quando passou a ir ao sítio de um tio na serra da Mantiqueira no fim de semana. Foi lá que aprendeu a andar a cavalo e usar o facão para desbravar florestas. "Intensifiquei minhas pesquisas botânicas e descobri a beleza do Brasil, que virou meu prazer de viver", diz.

Após repetir o primeiro colegial, trocou de escola. A fotografia substituiu os desenhos e trouxe novos colegas. "Não mostrei logo de cara a riqueza do meu mundo, mas ficou harmônico e voltei a ser popular."

Vestibular

Ambiente ainda era coisa de "bicho-grilo" para a família de Ricardo, que fez pressão para o garoto de 18 anos escolher uma carreira tradicional. A opção foi odontologia.

Tentou seguir "direitinho" a receita: concluiu o curso, mestrado, consultório e namorava para casar. Mas, sufocado, resolveu acabar com tudo em 2005 e assumir o amor da sua vida.

"Um dia, olhando meu consultório, num lugar bonito e chique, vi que não era a que queria pra mim. Tomei a decisão de ir atrás do meu sonho."

Sem ter alguém conhecido para conversar, a estratégia do então dentista foi procurar instituições ligadas à ecologia. "Bati nas portas, e elas se abriram! Conheci mais de 60 pessoas e todas me receberam muito bem!", ainda se espanta.

Nem tudo foram flores. Demorou três anos e alguns empreendimentos frustrados para as sementes brotarem. Uma delas foi o mestrado em Botânica na USP (Universidade de São Paulo).

O Amigos das Árvores começou a surgir no final de 2007. Apesar dos 30 interessados das primeiras reuniões, o formato tradicional de associação não vingou por causa da falta de tempo das pessoas.

Mas os dedos verdes de Ricardo foram para o teclado de um computador, após uma parceira sugerir a criação de blog, em julho de 2008. Deu certo.

"Foi um sucesso inimaginável de mobilização. O modo mais eficiente de acessar as pessoas hoje é pela internet e posso realizar o meu sonho da infância: trazer o verde de volta à paisagem urbana."

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Mídia inclusiva

Conheça mais sobre o Instituto de Pesquisas Ecológicas

A Associação Amigos das Árvores é uma iniciativa pioneira na forma de mobilização virtual (via blog) para atingir a melhoria da qualidade vida e o resgate do contexto histórico-social da cidade de São Paulo e de outros contextos urbanos com foco no ambiente e no paisagismo.

Por meio da pesquisa científica, a organização trabalha com preservação, plantio e resgate de árvores nativas como meio para atingir políticas públicas.

Mesmo saindo do formato de associação tradicional "não por opção própria, mas devido às circunstâncias", tornou possível e acessível a transformação da realidade urbana. Ao atingir um total de 350 mil acessos de 92 países, provou que a iniciativa é válida, útil e necessária.

O empreendedor social tornou-se referência na questão ambiental urbana pela qualidade e ineditismo do material publicado no site, fruto de sua extensa pesquisa que vai virar livro.

As atividades da associação também extrapolaram o mundo virtual. Ao identificar áreas remanescentes de vegetação nativa em São Paulo, como o cerrado, e a existência de plantas supostamente extintas, o empreendedor conseguiu incentivar a criação de um miniparque municipal, situado no Jaguaré, região oeste de São Paulo.

São com os honorários de sua segunda profissão, a odontologia, que o empreendedor social banca todas as despesas com a ação. Ele afirma reverter quase que integralmente os cerca de R$ 2.000 que recebe, por mês, em prol da iniciativa. Isso, quando recebe.

Na lista de despesas, contabiliza gastos com transporte, alimentação, visitas técnicas, custeio e manutenção do blog, como registro de domínio e documentação para publicação na plataforma.

Por ter adquirido notoriedade na mídia, começa a trilhar rumo à sustentabilidade financeira, por conta de cinco consultorias remuneradas:

  • gestão de árvores do Museu da Casa Brasileira e plantio de exemplares relacionados a madeiras nacionais R$ 7.000;
  • plantio de árvores na rua Funchal (região sul de São Paulo) por uma ação mundial, promovida pelo Discovery Chanel R$ 2.890;
  • consultoria para arborização na raia da USP - R$ 1.200 (pagos por uma pessoa física)
  • palestra para alunos do Colégio Magno sobre a biodiversidade paulistana com ênfase nos cerrados R$ 500;
  • venda de foto veiculada no blog para a editora Saraiva R$ 200.

No ar, desde julho de 2008, o blog Amigos das Árvores registra, até o momento:

  • 358 mil acessos;
  • 1.366 consultas e comentários emitidos;
  • 92 países atingidos;
  • média de mil acessos por dia;
  • 184 textos publicados;
  • mais de 600 fotos publicadas de espécies nativas.

Com o trabalho de pesquisa de campo, em São Paulo, já conseguiu:

  • um "viveiro informal" com mais de 142 mudas retiradas de espécies nativas e com risco de extinção;
  • identificação, coleta de sementes e cultivo de mais de 220 exemplares de árvores nativas;
  • plantio de mais de cem árvores ameaçadas de extinção com genética paulistana em vários pontos da cidade;
  • palestras e apresentações sobre ambiente urbano em universidades, unidades do Sesc, congressos e cursos de paisagismo.

No âmbito da educação, também forneceu, gratuitamente, material educativo a 50 professores de escolas públicas e particulares em diversas cidades do país.

Focando o viés da sustentabilidade ambiental, efetuou 102 inserções em sua grade de notícias.

A associação está fortemente ligada à cidade de São Paulo e parte da região metropolitana, mas é fácil constatar que o interesse das pessoas parte de outras cidades do país e do exterior (92 países já acessaram o blog).

O empreendedor social afirma ter auxiliado pessoas interessadas em criar ação semelhante ao "Amigo das Árvores" em outras localidades do país.

Também está documentando, em livro, "A História da Vegetação da Cidade de São Paulo", que poderá contribuir para identificar, preservar e perpetuar a paisagem paulistana, além de atrair a biodiversidade.

Descobriu dois remanescentes campos de cerrado, presumidamente extintos em São Paulo.

  • A Secretaria do Verde reconheceu e tombou uma área do Jaguaré (zona oeste de São Paulo), descoberta no início do ano pelo empreendedor social. A área tornou-se, em 18 de junho, Parque Municipal Drº Alfred Usteri, pelo decreto-lei 51.563. Ricardo Cardim atua no conselho gestor desse parque.
  • Outra área de campos de cerrado localizada dentro da USP (Universidade de São Paulo) está atualmente em processo de análise para reconhecimento, por lei, da área a ser preservada. No trabalho da USP, o empreendedor social conta apoio do diretório acadêmico de Biologia. No começo de outubro, uma equipe do Instituto de Botânica visitou e descobriu uma espécie de orquídea rara supostamente extinta no local.

No caso da preservação da figueira-das-lágrimas, árvore rara com cerca de 200 anos, localizada no bairro do Sacomã (região sul), o empreendedor está elaborando um relatório, a pedido da própria Prefeitura Municipal de São Paulo, para preservação do local.

O que sempre moveu Ricardo a empreender seus sonhos foi a paixão com que ele carrega desde a infância. Fez dele leitor voraz, apaixonado por tudo que o levasse a preservar.

Dedicado, tornou-se catedrático no assunto e hoje tem retórica definida. Mesmo após ter optado por odontologia, não deixou de ter gosto pelas plantas, em especial as nativas, raras e escassas na paisagem paulistana.
Ao trocar a estabilidade financeira para atingir seu alvo, foi bater em porta alheia. Mas, para sua surpresa, seu saber logo foi reconhecido. Conseguiu seu mestrado na Botânica da USP, onde cursa, assiduamente, sua vocação.

Com a criação do blog, logo apareceram as consultorias. Gratuitas ou não, sempre foram levadas a sério por ele. Não demorou muito pra que fosse referência na mídia.

Atualmente, o empreendedor está diretamente envolvido em cinco frentes:

  • Parque Municipal Ecológico de Campos Cerrado Dr. Alfred Usteri: é membro do conselho gestor;
  • figueira-das-lágrimas: elaboração de relatório solicitado pela Prefeitura de São Paulo para preservação da árvore mais antiga da cidade;
  • cerrado da USP: elaboração de memorial para reconhecimento e tombamento da área para preservação ambiental. Também avalia a criação de corredor ecológico unindo com o remanescente do Jaguaré;
  • finalização do seu livro "A História da Vegetação de São Paulo";
  • manutenção do viveiro informal para multiplicação de espécies raras ou não.

"Um dia [há cinco anos], recebi uma ligação de um rapaz que se apresentou, dizendo: 'Meu nome é Ricardo Cardim e soube que você é ecologista. Quem me falou sobre você foi fulana de tal...". Nos encontramos na Assembleia Legislativa.

Eu tinha um compromisso [assessoria ambiental para o PV], e ele me deu uma carona. Quando entrei no carro dele, vi um monte de sementes e uma 'orelhinha' de uma pessoa. Levei um susto, mas ele foi me explicando tudo que fazia. Nossa identificação foi imediata.

Quem olha hoje o resultado [do trabalho dele] não sabe das dificuldades que ele transpassou. Não foi fácil. Ele precisou lutar. Tem uma missão e transformou isso numa maneira de viver e contribuir com o mundo, além de ser economicamente viável.

Em linguagem de empreendedorismo, ele tinha um nicho de mercado, só que não fez uma pesquisa para saber. Ele colocou amorosamente para o mercado alguma coisa que ele acreditava e começou a falar de uma coisa que é a razão da vida dele. Ao colocar isso num blog, descobriu que tinham milhares de pessoas a fim de saber aquilo.

A minha participação no Amigos das Árvores foi de fortalecer suas ações interiores para se manifestar na exteriores. Como? Incentivando, encorajando, apoiando, estabelecendo as pontes, apresentando pessoas. Mas ele, por si só, ganhou seu caminhar.

Eu o vejo como alguém que tem, em primeiro lugar, consistência: estudo, pesquisa. E fez uma descoberta não intencional: ao colocar amorosamente para o universo aquilo que ele acreditava, obteve uma resposta.

As pessoas também estavam querendo aquilo que ele ofereceu. Ele não tem só paixão. Tem paixão e razão. Tem coração e cabeça. Ele estava pronto para esse momento.

É uma alma muito sensível, no sentido humano de compreender o outro. As plantas dão a ele essa sensibilidade. Um livro aberto, franco. Ele é meio único, tem uma complexidade só dele.

Você acha que foi por um acaso que ele descobriu tudo aquilo na cidade de São Paulo? No meio dessa história toda existe algo magnífico."

Lavínia Aires, 57, ambientalista e assessora parlamentar do PV

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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