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Maioria dos pais que trabalham sofre burnout, diz estudo

Mães são as mais afetadas; 66% dos entrevistados satisfazem os critérios da síndrome

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Catherine Pearson
The New York Times

Faz dois anos que os pais que vivem e trabalham nos Estados Unidos estão esgotados, quase no limite de suas forças –castigados pelo estresse do ensino escolar à distância, do fechamento de creches, instabilidade econômica e isolamento social.

Um estudo que acaba de ser lançado diz que 66% dos pais que trabalham satisfazem os critérios de síndrome de burnout parental, um termo não clínico que significa que eles estão tão exaustos com a pressão de cuidar dos filhos que sentem que não têm mais nada para dar.

Publicado na quinta-feira (5) por pesquisadores da Ohio State University, o estudo é baseado numa pesquisa online feita entre janeiro e abril de 2021 com 1.285 pais e mães que trabalham. A pesquisa traça um curto cenário de um tempo diferente, quando os EUA estavam mergulhados em lockdowns devidos à pandemia.

A maioria dos pais que trabalham sofrem com a síndrome de burnout - Jacob Lund/Adobe Stock

Mas seus autores acreditam que o burnout parental se perpetue, isso porque os pais que trabalham não contam com apoio estrutural prático suficiente para superar o implacável estresse, que não está diminuindo. Qualquer mãe ou pai pode sofrer burnout, mas o estudo enfoca os pais que trabalham e que, para os pesquisadores, correm risco especial de esgotamento.

"O burnout parental não vai simplesmente acabar num toque de mágica quando a pandemia terminar", disse Bernadette Melnyk, diretora da Faculdade de Enfermagem da Ohio State University e autora do estudo. "A cronicidade da pandemia cobrou seu preço e esgotou as reservas de força de muitos pais, que vão demandar tempo e paciência para voltar a crescer."

Quais são os sinais de burnout parental?

O burnout parental não é um diagnóstico clínico que possa figurar na ficha médica de qualquer pessoa, mas muitos psicólogos o reconhecem como um subtipo do burnout, um fenômeno relacionado ao trabalho hoje reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma síndrome. (Não está incluído no DSM-5, a chamada "bíblia" da psiquiatria dos EUA.)

"Como é o caso com o burnout, o burnout parental é definido como esgotamento físico, emocional e mental devido às demandas contínuas de cuidar dos filhos", disse a dra. Jennifer Yen, psiquiatra da UTHealth Houston.

É claro que criar filhos é algo que demanda muito dos pais de todas essas maneiras e dificulta a diferenciação clara entre períodos normais de estresse e burnout.

Yen disse que os pais devem ficar atentos para sinais como fadiga, irritabilidade, mudanças no sono, apetite e humor, além de dores corporais diversas. O que diferencia o burnout parental é a gravidade desses sintomas e até que ponto eles estão afetando o dia a dia da pessoa.

"É um estado em que você fica dando, dando, dando, dando, até se esvaziar completamente", comentou a assistente social clínica Kate Kripke, fundadora do Postpartum Wellness Center, em Boulder, Colorado.

Yen também chamou a atenção para outros indícios reveladores que são específicos do burnout parental, como sentir raiva ou ressentimento por ter de cuidar dos filhos e começar a distanciar-se física ou emocionalmenter deles. Os pais com burnout também podem se sentir presos numa armadilha ou tecer fantasias sobre abandonar tudo, ela acrescentou.

O novo estudo pode ser útil para profissionais de saúde, mas os pesquisadores o escreveram diretamente para os pais que trabalham.

O estudo inclui uma nova escala que os autores esperam que pais possam usar para avaliar como estão. Inclui dez afirmações como "acordo exausta ao pensar em passar mais um dia com meus filhos" ou "sinto que mal estou sobrevivendo como mãe (pai)".

Os pais podem concordar ou discordar de cada afirmação numa escala que vai desde "discordo totalmente" até "concordo plenamente". Eles então recebem um escore final que ajudará a indicar se têm ou não algo que os pesquisadores interpretariam como um burnout leve, moderado ou grave.

O que fazer sobre o burnout parental

Independentemente de onde eles se situam nesse espectro, pode ser útil aos pais começar por reconhecer que muitos dos desafios que enfrentam estão fora de seu controle. É impossível ser ao mesmo tempo um profissional dedicado e cuidador dedicado, a não ser que você conte com o apoio necessário. A autocompaixão é importante, disse Melnyk.

Mas os pais que enfrentam burnout talvez possam fazer modificações imediatas que os impeçam de sofrer esgotamento mais grave.

Procure alguma maneira de pedir ajuda, recomendaram os pesquisadores. Peça a uma pessoa da família ou um vizinho para cuidar de seu filho de vez em quando, nem que seja apenas para te dar uma folga breve. Se você é responsável por levar seu filho à escola e outras atividades, procure outras pessoas com quem dividir essa tarefa para não ficar exausto.

O estudo constatou que 68% das mães que trabalham disseram estar com burnout, contra 42% dos pais que trabalham. Logo, talvez seja especialmente importante para as mulheres ter intervalos para descansar e pedir ajuda (mesmo que isso não seja nem simples nem fácil).

Outra coisa que pode ajudar pais estressados é buscar um senso de calma e tranquilidade, praticando mindfulness. Pesquisas revelam que o mindfulness pode ajudar a reduzir o estresse parental e isso, por sua vez, pode ajudar a melhorar o estado psicológico dos filhos. Para Kripke, pode ser algo tão simples quanto você intencionalmente sentir a sola do pé apoiada sobre o chão e respirar fundo.

Mas respirar fundo não resolverá o problema sozinho. Os diagnosticados com a síndrome mais grave devem buscar imediatamente um clínico geral ou profissional de saúde mental, que poderão identificar questões como ansiedade e depressão.

Também é bom saber que alguns profissionais de saúde mental têm dúvidas em relação à noção de burnout parental.

"É a primeira vez que ouço esse termo", disse a dra. Catherine Birndorf, CEO e diretora médica do Motherhood Center, em Nova York. Ela disse que gosta do conceito e da ideia da escala de burnout parental se isso puder ajudar pais que de outro modo não reconhecerão que estão tendo dificuldades. Mas ela receia que alguns pais possam descartar o que estão sentindo, atribuindo-o a burnout, em vez de buscar tratamento para uma condição subjacente como ansiedade ou depressão.

Tradução de Clara Allain

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