Penetras vão de indesejados a bem-vindos nas festas de casamento

Desistências e restrições impostas pela pandemia fazem noivos convidarem desconhecidos para a celebração

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Sara Clemence
The New York Times

Para o casamento deles, em 3 de janeiro, Dazzle Deal e Levi Dunn planejaram inicialmente comprar um pacote com o mínimo possível de convidados permitido pelo local onde iam se casar, Sunset Castle, em Henderson, Nevada.

Além da pandemia, o casal estava prevendo que poucas pessoas iam comparecer porque seus familiares são conhecidos por nem sempre cumprirem seus compromissos, contou Dazzle Dunn-Deal, que tem 42 anos e trabalha com atendimento ao consumidor. (Ela e seu marido, guia turístico de 30 anos, juntaram seus sobrenomes depois de se casar. "Dunn-Deal" soa como "done deal", ou "acordo fechado".)

Com o dinheiro que economizariam com um evento menor, os dois, que moram em Las Vegas, pretendiam passar a lua de mel no Egito.

Bastidores de casamento na novela "Orfãos da Terra" - Ellen Soares/Globo

Mas depois, com os convites já enviados, mais parentes do que eles previam disseram ao casal que pretendiam comparecer; alguns já haviam comprado passagens aéreas. Os Dunn-Deal decidiram cancelar seus planos de viagem, desistir de contratar um fotógrafo e, em vez disso, usar o dinheiro para fazer uma festa maior.

Mais perto da data do casamento, porém, alguns convidados começaram a dizer que não iriam. Alguns desistiram devido ao mau tempo, outros por razões diversas. O irmão de Dazzle, engenheiro num cassino em Laughlin, Nevada, não foi autorizado a faltar ao trabalho.

Quando perceberam que teriam um déficit sério de convidados, Dazzle e Levi recearam que teriam que pagar pelas pessoas que não iam comparecer. Perguntaram ao buffet se havia alguma flexibilidade em relação ao número de convidados. Mas, disse Dazzle, a resposta que receberam foi que "uma vez que vocês assinaram o contrato, não há mais como mudar".

Então ela compartilhou um convite aberto ao evento num grupo do Facebook para casamentos em Las Vegas. Oito pessoas que eles não conheciam acabaram comparecendo.

"Fiz novos amigos", disse Dazzle. Ela convidou alguns deles para o churrasco de aniversário de seu marido na semana seguinte.

As pessoas geralmente preferem que não haja desconhecidos presentes em seu casamento. Ninguém quer pagar pelo champanhe de um estranho, nem quer ver alguém que não conhece passando uma cantada numa das damas de honra. Mas uma confluência de fatores está mudando essa situação.

As listas de convidados a casamentos são fluidas por natureza, mas devido à pandemia ainda está mais difícil prever quantas pessoas estarão presentes. E a Covid não é a única razão da imprevisibilidade: num ano em que estão previstos 2,5 milhões de casamentos nos Estados Unidos, um número recorde, alguns convidados podem não ter espaço em suas agendas. Além disso, estão aumentando os casamentos celebrados em dias úteis, aos quais a escola ou o trabalho podem dificultar o comparecimento.

Ao mesmo tempo, as firmas que organizam eventos, muitas das quais sofreram prejuízos grandes nos últimos dois anos, estão deixando suas regras sobre número de convidados mais claras e inflexíveis, comentou a advogada Leah Weinberg, proprietária da Color Pop Events, de Nova York.

"Praticamente todos os organizadores de casamentos alteraram seus contratos depois da Covid", disse ela, destacando que o número de convidados geralmente é definido quando o espaço é reservado, embora o pagamento seja feito mais perto da data do evento. "Eles dizem que você pode aumentar o número de convidados, mas não reduzi-lo."

Para evitar o constrangimento de mesas vazias ou impedir o desperdício de centenas ou até milhares de dólares quando convidados desistem de comparecer, mais casais agora vêm preenchendo os lugares vazios com pessoas que são apenas suas leve conhecidas, ou mesmo com desconhecidos –penetras bem-vindos, por assim dizer.

Em outubro passado Jessica e Anthony Fanara, ambos de 27 anos, foram ao casamento de uma mulher desconhecida perto da casa deles em Holtsville, Nova York. Jessica Fanara, que cuida de seu filho em casa, tomou conhecimento do evento realizado no Three Village Inn, em Stony Brook, Nova York, através de um convite aberto compartilhado num grupo no Facebook para casamentos em Long Island.

"As pessoas perguntaram ‘com você conheceu a noiva?’. E eu falei ‘pelo Facebook’", disse Jessica.

Ela e Anthony Fanara, que trabalha para a FedEx, gostaram de conhecer as pessoas com quem dividiram uma mesa, tanto que convidaram duas delas para preencher lugares no casamento deles, em janeiro.

No mesmo mês, semanas antes do casamento de Carla Marie Stehman e Mehul Doshi, em Chicago, uma festa que durou três dias, de 10 a 12 de fevereiro, a prefeitura de Chicago começou a exigir comprovantes de vacinação em restaurantes e outros espaços fechados. Um desses espaços era o Radisson Blu Aqua Hotel, onde a recepção deles teria lugar.

"Perdemos 25 pessoas por conta da exigência de vacina em Chicago", contou Stehman, 40 anos, que é oficiante profissional de casamentos. Nas semanas antes do casamento, 45 dos 340 convidados previstos avisaram que não poderiam comparecer. Stehman e Doshi haviam acordado um número mínimo de 330 convidados, ao custo de US$250 por cabeça.

Devido à pandemia, eles já tinham adiado duas vezes o casamento, que combinou elementos das tradições dela, americana, e dele, indiana. E, como a data era no inverno, o casal, que vive em Chicago, não poderia facilmente fazer o evento ao ar livre.

"Falei: ‘Não quero que isso seja desperdiçado. Aposto que há muita gente que curtiria ver como é um casamento ‘fusion’", disse Stehman.

Além de chamar amigos que não constavam da lista original de convidados, Stehman e Doshi, arquiteto de 42 anos, postaram um convite num grupo particular no Facebook. Dezenas de desconhecidos se ofereceram para ir ao casamento e 30 de fato foram, enchendo mais de suas mesas na recepção.

"Diante do custo por prato", disse Stehman, "não podíamos deixar aqueles lugares desocupados. As pessoas não me conheciam, mas compareceram, participaram, conheceram nossos amigos e familiares e passaram a noite dançando conosco."

Desde então ela dividiu um brunch com alguns dos desconhecidos que foram a seu casamento. Um deles até contratou Stehman, pastora da igreja Universal Life, para oficiar seu próprio casamento.

"E já fui convidada a dois casamentos dessas pessoas", ela contou. "Uma delas está com os lugares lotados, mas me pediu: ‘Se alguém recusar, você vem?’."

Tradução de Clara Allain

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