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Acne aparece com mais frequência em momentos de estresse; veja como tratar

O segredo é relaxar. Meditar ou respirar fundo pode não resolver seus problemas, mas ao menos te livrar das espinhas

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Jessica DeFino
The New York Times

Tudo começa no útero.

Uma massa de células se divide e se desenvolve, se separa e se estende, e de uma única camada de tecido embrionário nascem dois sistemas aparentemente separados, mas inerentemente conectados: o cérebro e a pele.

Eles estão ligados para toda a vida. Quando um sente vergonha, o outro cora. Quando um sente dor, o outro a processa. E quando um carrega o fardo de uma pandemia, agitação política, racismo estrutural e as consequências cada vez mais graves da mudança climática... bem, aparece uma espinha no outro.

acne persistente
Estresse pode ser o causador da acne - Jacob Lund/Adobe Stock

​Ou talvez, dependendo das predisposições genéticas da pessoa, não seja uma espinha, mas um surto de eczema. Uma crise de psoríase. Uma erupção de acne. Uma aparência desidratada, sem brilho, oleosa ou até mesmo –suspiro– mais velha. Uma chateação, se você quiser.

Essa é a sua pele sob estresse.

"Existem dois tipos diferentes de estresse: o agudo e o crônico", disse a dra. Whitney Bowe, dermatologista e autora de "The Beauty of Dirty Skin" (A beleza da pele suja, em português). Um rápido acesso de estresse pode ser uma coisa boa. Pode reforçar seus sentidos, melhorar a clareza mental e ajudar a criar colágeno para facilitar o reparo de feridas. Ele chega e vai embora.

É o estresse crônico e contínuo, do tipo que todo ser senciente provavelmente está experimentando hoje, que afeta a pele.

Ele afeta o ser inteiro, é claro, e uma pele comprometida é a menor de suas consequências. Mas "a pele é o órgão que vemos", disse Loretta Ciraldo, dermatologista e fundadora da linha de cuidados da pele Dr. Loretta.

E numa sociedade onde o estresse insustentável não é apenas a norma, mas às vezes um bem-vindo sinal de sucesso, que melhor maneira para o subconsciente gritar do que "pele estressada"? (Afinal, é mais fácil ignorar seus sentimentos do que seu rosto.)

Como o estresse afeta a pele

Grande parte da conexão pele-psique se resume à superprodução de cortisol, o principal hormônio do estresse, e seu efeito na barreira da pele.

"A barreira retém a umidade e mantém alérgenos, irritantes e poluentes do lado de fora", disse Bowe. Ela efetivamente faz o trabalho da maioria dos produtos de tratamento da pele que há no mercado, sem produtos, e precisa de três coisas para funcionar: óleo, água e o microbioma. O cortisol esgota todos eles.

Durante períodos de estresse, o cortisol retarda a produção de óleos benéficos. "Ficamos secas, ásperas e muito mais irritadas porque esses óleos saudáveis atuam como uma camada protetora para nós", disse Ciraldo. Sem lipídios adequados para selar a hidratação, a pele começa a "vazar" água num processo conhecido como perda de água transepidérmica (TEWL na sigla em inglês).

Ao mesmo tempo, o cortisol estimula a superprodução de sebo, o óleo que está envolvido na acne. "Então, para muitas pessoas, a pele parece mais oleosa quando estão sob estresse, e é mais propensa à acne", disse ela.

Tudo isso altera o pH da pele, o que compromete o manto ácido e cria um ambiente inóspito para o 1 trilhão de microrganismos simbióticos que existem na barreira da pele –também conhecidos como microbioma.

Sob condições ideais, o microbioma torna os cuidados tópicos com a pele quase supérfluos.

Existem micróbios que se alimentam de sebo, o que ajuda a manter níveis saudáveis de oleosidade. Existem micróbios que se alimentam de células mortas da pele –os esfoliantes originais! Existem micróbios que produzem peptídeos e ceramidas, dois ingredientes de beleza que mantêm a pele firme e hidratada. Existem ainda aqueles que oferecem proteção contra poluição, luz solar e patógenos invasores.

"Se você não estiver produzindo o suficiente dessas gorduras saudáveis e não mantiver uma barreira saudável, vai alterar o terreno onde esses micróbios crescem e prosperam", disse Bowe. "Imagine tirar do solo todos os nutrientes e ver se sua horta vai crescer. É o mesmo para a pele."

Por sua vez, o microbioma pode experimentar um crescimento excessivo das chamadas bactérias ruins (como C. acnes, a cepa associada à acne) e uma escassez de boas bactérias. O microbioma torna-se mais propenso a infecção, irritação, inflamação e hiperpigmentação. Torna-se mais sensível a agressores externos como os radicais livres gerados pela poluição.

O estresse também leva o corpo a produzir radicais livres internos. "Você pode pensar nos radicais livres como pequenos mísseis", disse Bowe, pois eles visam as células para destruição e causam estresse oxidativo.

Quando os radicais livres atingem o DNA, levam ao câncer de pele. Quando os radicais livres têm como alvo a elastina e o colágeno, levam a linhas finas e rugas. Quando os radicais livres têm como alvo os lipídios, levam à desidratação e danos na barreira da pele e acne.

A exposição crônica ao cortisol também inibe a produção de ácido hialurônico e colágeno. "É isso que mantém a pele viçosa e jovem", disse Bowe. "Quando você não consegue produzir o suficiente, a pele fica mais fina."

Infelizmente, soros de ácido hialurônico e cremes de colágeno não conseguem neutralizar o cortisol. Os ingredientes tópicos não têm a mesma finalidade biológica que os produzidos no corpo, e raramente penetram na camada inferior da derme, onde o colágeno e o ácido hialurônico naturalmente estão.
Na verdade, os produtos de cuidados da pele não são a resposta para a pele estressada.

"A maioria dos produtos se destina a consumidoras que têm uma barreira de pele saudável", disse Ron Robinson, químico cosmético e fundador da BeautyStat Cosmetics. Expor uma barreira já quebrada a ingredientes ativos –ou a um excesso de ingredientes– apenas agrava os problemas existentes.

Por isso, Ciraldo recomenda remover da rotina de pele estressada ingredientes que degradam a barreira, como ácido glicólico, ácido salicílico, peróxido de benzoíla e retinol. "Eles são muito secantes e realmente esgotam a função de barreira normal e saudável", disse ela.

Trate o estresse para curar a pele

Gerenciar o estresse pode parecer quase impossível, considerando que muitos fatores de estresse modernos são sistêmicos. No entanto, de acordo com a dermatologista Heather Woolery-Lloyd, "90% do nosso estresse não são o estressor em si, mas como lidamos com esse estressor".

Em outras palavras: embora a meditação não possa mitigar o aquecimento global, ela pode, no mínimo, limpar sua pele.

Meditar, disse Woolery-Lloyd, inicia "a resposta de relaxamento", que ativa o sistema nervoso parassimpático do corpo e diminui o cortisol e a inflamação. Com prática consistente, a barreira da pele pode parar de vazar e começar a bloquear a umidade, sugerindo que o lendário brilho interno é mais científico do que simbólico.

Ciraldo diz a suas pacientes que pensem na meditação como "A mágica transformadora da organização" para a mente.

"Tente encontrar um lugar onde você possa ficar sentada quieta durante 20 minutos por dia e realmente reveja seus pensamentos como se fosse seu closet", disse ela. "Se algo vier à sua mente que não lhe dê alegria, aplique energia para descartar esse pensamento."

Não gosta de meditação? Não importa. A respiração, que pode superar a ingestão de água como a dica mais simples de cuidados da pele –mas inegavelmente eficaz–, é suficiente.

Uma pesquisa do doutor Herbert Benson, da Escola de Medicina de Harvard, mostra que respirar lenta e profundamente desencadeia a resposta de relaxamento e, segundo Bowe, "pode impedir que o estresse psicológico seja traduzido em inflamação física na pele". Aulas de respiração, como as oferecidas no centro de cura holística ALTYR, podem ajudar na técnica.

Para tratar e prevenir os danos causados pelos radicais livres, encha seu prato de antioxidantes, que estabilizam essas moléculas instáveis e deixam a pele mais clara, mais calma, mais brilhante e mais uniforme. Vitaminas A e C (abundantes em frutas e vegetais), licopeno (encontrado no tomate), astaxantina (salmão) e polifenóis (chá verde, chocolate amargo) são ótimas opções, de acordo com Bowe.

O exercício também aumenta os antioxidantes. (Veja só, o corpo produz por conta própria mais um ingrediente popular de cuidados da pele.) Reduz os níveis de cortisol, o que significa menos erupções e uma barreira de pele mais forte. E se você se exercitar ao ar livre? Melhor ainda.

"Acredito muito no poder curativo da natureza", disse Woolery-Lloyd. "As pessoas dizem: 'Eu não tenho tempo', mas não precisa ser uma coisa demorada. Apenas sair e ver uma árvore, observar alguns pássaros, comprovadamente reduz os marcadores inflamatórios em nosso corpo."
Se tudo o mais falhar, chore.

"Chorar alivia o estresse e ajuda a diminuir os níveis de cortisol", disse a dra. Purvisha Patel, dermatologista e fundadora da Visha Skincare. "Isso pode resultar em menos crises." Ela observa que os orgasmos têm um efeito semelhante no cortisol (e são, segundo todos os relatos, mais agradáveis).

"Isso não é bobagem", disse Ciraldo. "São coisas que podemos fazer pela nossa pele e por nós mesmas que não custam nada, mas a recompensa é grande."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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