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Bebidas de baixa caloria têm efeito semelhante ao da água na perda de peso, diz estudo

Pesquisa comparou líquidos para entender qual apresentava os melhores resultados no emagrecimento

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São Paulo

Os adoçantes são ingredientes com um sabor intensamente doce, mas que não acrescentam calorias à dieta. Seja em gotas no cafezinho ou na composição de alimentos industrializados, eles são alternativas ao açúcar para quem tem diabetes, síndrome metabólica ou está simplesmente tentando emagrecer.

Sua eficiência já era conhecida, mas uma nova revisão de estudos publicada no JAMA (Jornal da Associação Médica Americana, em português), mostrou que seus benefícios podem ser comparados até mesmo com os da água.

Xícara de café expresso com adoçante - Matuiti Mayezo/Folhapress

Os cientistas de diversas instituições europeias e norte-americanas selecionaram 17 ensaios clínicos que compararam os efeitos de bebidas açucaradas e adoçadas de baixa ou nenhuma caloria com a água, observando os resultados no processo de redução de peso.

No total, as pesquisas contaram com a participação de 1.733 adultos acima do peso ou obesos que tinham diabetes ou corriam risco de desenvolver a doença. Eles foram acompanhados por 12 semanas.

No fim da análise, os experts concluíram que a substituição de bebidas açucaradas por adoçadas foi associada a perda de 1,06 kgs e uma significativa redução no IMC (índice de massa corporal), gordura corporal e gordura no fígado – todos fatores de risco cardiometabólicos, que levam ao infarto e AVC (acidente vascular cerebral).

Além disso, o consumo dessas bebidas com adoçante estava relacionado a uma pequena diminuição de peso e maior redução da pressão arterial sistólica em relação à água. Em outras palavras, quando falamos de perder peso, beber líquidos adoçados de baixa ou nenhuma caloria apresenta resultados semelhantes ao da água no emagrecimento. Mas será que os adoçantes são tudo isso mesmo?

De acordo com o endocrinologista Clayton Macedo, da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), o resultado da pesquisa precisa ser olhado com cuidado. Apesar de ter sido publicada em uma revista científica conceituada, ele frisa que a conclusão demonstra uma associação, e não uma uma relação de causa e efeito.

"Além disso, a perda de peso encontrada foi de 1,06 quilos. Tudo foi estatisticamente significativo, mas o que esse número significa no universo de uma população com excesso de peso? Não estou invalidando, mas precisamos ver o propósito da mensagem final", avalia.

A nutricionista Gisele Haiek, especialista em Controle Higiênico Sanitário dos Alimentos pela Pró Alimento, em São Paulo, acrescenta que o período da análise é muito baixo para tirar grandes conclusões. "Três meses é muito pouco para afirmar que aquela conduta é a melhor ou que a gente tenha um resultado tão bom quanto o da água", afirma.

Já Márcia Terra, nutricionista e diretora da Sban (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição) e membro do Conselho Científico da Anad (Associação Nacional de Atenção ao Diabetes), defende a qualidade da pesquisa, lembrando o fato de ser uma meta-análise sistemática, o que mostra que é um estudo robusto e importante, e que os próprios autores apontam a moderação na força das evidências.

"Esta pesquisa mapeou trabalhos em importantes bancos de dados científicos e teve cuidado com o risco de vieses. O resultado, pelo menos a meu ver, foi o esperado. O estudo foi bacana porque as bebidas com adoçantes sempre são alvo de críticas e muitos trabalhos mostram resultados negativos, mas muito questionáveis", aponta.

Uma substância controversa

A revisão publicada no JAMA também concluiu que não há nenhuma evidência de danos ou efeitos colaterais associados à troca das bebidas açucaradas pelas que contém adoçante. No entanto, há discussão entre os próprios especialistas da área sobre a segurança do produto em longo prazo.

Diversas pesquisas investigam a relação entre os adoçantes e problemas na microbiota intestinal. Uma recente revisão, feita por cientistas americanos, caribenhos e nigerianos, demonstrou alterações no intestino relacionadas ao consumo de vários tipos artificiais.

"Essa desregulação é determinante para o desenvolvimento de obesidade e para o mecanismo de resistência à insulina. Talvez os adoçantes estejam contribuindo com essa piora", afirma o endocrinologista Macedo.

Uma outra revisão, divulgada pela Associação Médica Canadense, sugere que a ingestão frequente deste ingrediente estaria associada ao aumento do IMC e ao risco cardiometabólico.

"Como é artificial, o adoçante é uma substância que não temos no corpo. Então, o organismo acaba não tolerando bem e pode ler como se fosse uma toxina, que por sua vez tem afinidade pelo tecido gorduroso. Em médio a longo prazo, ele se tornaria um estímulo para o aumento desse tecido", diz a nutricionista Gisele Haiek.

A maioria dos estudos que indicam esses eventos, porém, são realizados em animais e células in vitro ou são observacionais. Isso significa que são necessárias mais investigações – controladas e feitas em seres humanos – para bater o martelo.

Quem deve consumir adoçante e quais os mais indicados

Os adoçantes são aprovados para consumo e passam por extensos processos para atestar sua segurança. Na visão de Haiek, a utilização deles é válida na reeducação alimentar de diabéticos, portadores de síndrome metabólica ou indivíduos que desejam emagrecer apenas como uma ferramenta de adaptação.

"Para quem não consegue simplesmente interromper a ingestão, é uma alternativa muito pontual. A ideia é fazer um desmame, ir diminuindo e tirando o vício do paciente no sabor doce", recomenda.

Além disso, a nutricionista indica dar preferência às versões naturais, como xilitol, estévia e eritritol, ao invés dos artificiais sucralose, ciclamato e acessulfame. Nesses casos é importante checar o rótulo dos alimentos.

"Lembrando apenas que xilitol e eritritol, por serem polióis, fermentam. Por isso, para quem sofre de gases ou síndrome do intestino irritável, eles não são recomendados porque podem causar desconforto", completa Haiek.

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