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Como apoiar filhos jovens adultos com problemas de saúde mental

Especialistas aconselham oferecer ajuda e compaixão delicadamente

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Julie Halpert
The New York Times

Katie Bradeen, de Colorado Springs, no Colorado (Estados Unidos), começou a se preocupar com seu filho de 20 anos, Ryan, quando ele foi passar as férias de Natal em casa em 2020. Ela disse que ele tinha um "comportamento cinzento" e "parecia estar em câmera lenta".

Embora Ryan estivesse no segundo ano de faculdade, o distanciamento social e as aulas virtuais durante a pandemia foram desafiadores, especialmente para ele que estuda teatro. O inverno de 2021 "foi ainda mais difícil e excruciante do que o semestre de outono de 2020", disse ele.

Sua mãe não achou que ele aceitaria uma conversa cara a cara, então deixou um bilhete sobre o travesseiro dele, escrito em papel com corações rosa. Dizia que não queria se intrometer, mas estava "disponível para escutar quando ele quisesse".

Ilustração mostra duas pessoas sentadas em uma sofá, uma em cada extremo do móvel, mas o braço de uma está esticado, envolvendo a outra
Andrea D'Aquino/The New York Times

Ryan disse que estava querendo receber aconselhamento havia algum tempo, mas ao levantar o assunto sua mãe o fez sentir que tinha sua aprovação. Ele começou a terapia no início de 2021, e Katie disse que já vê a diferença: há "mais risadas e brincadeiras, menos mau humor".

Muitos pais e mães como Bradeen já percorriam o terreno delicado de ajudar jovens adultos com problemas de saúde mental muito antes da Covid-19. Mas a pandemia trouxe desafios maiores, sobrecarregando ainda mais os jovens já vulneráveis.

Dados de 26 de maio a 7 de junho da Pesquisa de Pulso Domiciliar do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano) mostram que 43,6% dos adultos de 18 a 29 anos experimentaram sintomas de ansiedade ou transtorno depressivo nos sete dias anteriores.

O Centro Nacional de Estatísticas de Saúde fez parceria com o Departamento do Censo dos EUA nas perguntas da pesquisa, que se baseiam em relatos pessoais e não são um diagnóstico clínico; os dados são ponderados para serem nacionalmente representativos.

A pesquisa Estresse na América, da Associação Americana de Psicologia, de 2020, descobriu que 34% das pessoas de 18 a 23 anos disseram que sua saúde mental piorou em comparação com antes da pandemia, um número maior do que qualquer outra geração.

Risa Garon, assistente social clínica licenciada em Silver Spring, em Maryland, e diretora-executiva do Centro Nacional de Resiliência Familiar, viu em sua clínica que a pandemia fez muitos jovens adultos perderem "o ritmo de vida", disse ela.

Mesmo antes da crise sanitária, muitos jovens lutavam com grandes dívidas de empréstimos estudantis, incertezas econômicas gerais e expectativas irreais de sucesso nas redes sociais, segundo Garon. Então veio a Covid-19, e o isolamento obrigatório interrompeu amizades e namoros.

A coisa nem sempre vai tão bem como foi para Bradeen e seu filho. Garon disse que pode ser comum filhos adultos recusarem a sugestão dos pais de que precisam de ajuda.

David Palmiter, professor na Universidade Marywood com consultório particular em Clarks Summit, na Pensilvânia, e autor do livro "Working Parents, Thriving Families: 10 Strategies That Make a Difference" (Pais que trabalham, famílias prósperas: 10 estratégias que fazem diferença, em português), disse que se um pai ou mãe tentar intervir da maneira errada pode "afetar o relacionamento com o filho ou a filha".

Mas existem estratégias eficazes que podem pelo menos abrir a porta para um jovem adulto receber ajuda se os pais virem sinais de que ele passa por dificuldades.

Se os filhos não estão no local, disse Palmiter, os pais podem agendar um telefonema ou videoconferência semanal e esperar estabelecer essa conexão antes de abordar o assunto de obter ajuda.

Garon disse que, se os pais temem que um jovem adulto possa ser suicida ou possa prejudicar outras pessoas, é apropriado agir imediatamente e ligar para emergência.

Mostre empatia

Os pais devem evitar a tentação de fazer sermões, que soam como críticas e podem interromper a comunicação, disse o dr. Palmiter.

Em vez disso, ele sugeriu uma sequência que chamou de "dor, empatia, pergunta". Comece fazendo perguntas que ajudem os pais a entender como o jovem adulto está sofrendo, com linguagem como: "Como está seu humor ultimamente? Você está fazendo muita coisa".

O próximo passo, a empatia, pode promover um compartilhamento mais aberto. Se um filho reclama que seu chefe grita com ele o tempo todo, não interfira tentando resolver o problema.

Em vez disso, diga: "É terrível ir para o trabalho e ouvir gritos quando se trabalha duro como você. Lamento que esteja passando por isso". Em seguida, o pai pode levantar a questão de procurar apoio.

Se isso não levar o filho ou filha a ser mais abertos à ajuda, ele disse: não lute contra isso. Diga apenas: "Se você mudar de ideia, ficarei feliz em fazer uma parceria para pensarmos em possíveis soluções".

Laura Dollinger, de Beaver, na Pensilvânia, tentou essa abordagem. Ela começou a se preocupar com o estado mental de sua filha Emily após dois fatos angustiantes: o rompimento com o namorado em novembro de 2018 e a perda de uma de suas melhores amigas num acidente de carro em fevereiro de 2019.

Uma estudante nota 10, Emily, agora com 19 anos, disse que começou a "afastar as pessoas, dormir muito, faltar às aulas e fazer amizade com pessoas que preenchiam seus próprios vazios com coisas insalubres". Preocupada com a filha, Dollinger recebeu uma recomendação de um bom terapeuta.

"Minha mãe apresentou de uma forma não ameaçadora; eu sabia que ela se importava comigo e me amava", disse Emily Dollinger.

Ela aceitou a recomendação e disse que seu conselheiro a ajudou a desenvolver habilidades saudáveis de enfrentamento, que ela usou para lidar com um rompimento recente. A diferença que a terapia fez "foi como noite e dia", disse Laura, a mãe.

Mirean Coleman, gerente clínica da Associação Nacional de Assistentes Sociais, com consultório particular em Washington D.C., concorda que normalizar a situação é fundamental.

Diga a seu filho ou filha que muitas pessoas lutam com a saúde mental e que muitas vezes ajuda conversar com alguém sobre como elas estão se sentindo. "Deixe-os saber que você estará com eles a cada passo do caminho" e ajude-os a chegar a um lugar melhor, disse ela.

Garon encoraja seus pacientes jovens adultos a abordarem o tratamento da saúde mental da mesma forma que fariam com uma doença física. Transmitir a mensagem de que os problemas de saúde mental são igualmente tratáveis fornece uma "sensação de esperança".

Ofereça ajuda com cuidado

Se um jovem adulto estiver disposto a procurar tratamento e não puder pagar, Garon disse que os pais que podem ajudar devem, com delicadeza, se oferecer para pagar.

Garon sugere dizer algo como: "Queremos ajudar. Sabemos que o pagamento pode ser um problema. Não queremos que isso seja um obstáculo". Ela disse que também é importante respeitar a escolha de tratamento e de medicamentos dos jovens adultos.

O dr. Palmiter disse que na maioria das circunstâncias com jovens adultos "os pais devem perceber que eles têm um controle limitado".

Foi o que Kelly Kerlin, de Greenwood, em Minnesota, veio a entender quando sua filha Hayley, hoje com 25 anos, começou a perder muito peso em 2015. Ela achava que era uma maneira de ter o controle de sua vida.

"Eu estava num relacionamento abusivo, então sentia que a comida e meu corpo eram duas coisas sobre as quais eu tinha controle, quando todo o resto parecia caótico e esmagador", disse Hayley Kerlin.

Quando sua mãe percebeu que era um distúrbio alimentar e sugeriu que ela fizesse tratamento, a jovem Kerlin inicialmente recusou.

Um ano depois, quando estava tão exausta que não conseguia cumprir seus deveres trabalhando num restaurante, ela se internou em um centro residencial de tratamento de distúrbios alimentares. Sua mãe se lembra que ela dizia: "Estou muito magra. Não gosto da minha aparência e não quero morrer".

Apesar de não ter seguido imediatamente o conselho da mãe, Hayley Kerlin disse que quando procurou tratamento sentiu que ajudou ter o apoio dela.

Procurar tratamento é um grande passo, disse ela, então os pais devem continuar incentivando, sendo respeitosos e "dando espaço ao jovem adulto para trabalhar suas experiências em seus próprios termos".

Hayley Kerlin também sugere que os pais considerem procurar terapia para ajudar a lidar com essas situações complexas.

Ela concluiu o tratamento há pouco mais de três anos e disse que está indo bem. Vai iniciar um programa para obter seu mestrado em educação no outono.

Mesmo que procurar ajuda como um jovem adulto possa ser assustador, ela disse que é importante não ter medo de entrar em contato com amigos ou familiares para que você não passe por isso sozinho.

"A doença mental tende a prosperar em segredo", disse ela. Então, contar a alguém "pode tirar um peso enorme dos seus ombros". No início ela sentiu medo de procurar ajuda, mas "acabou sendo uma das melhores decisões que já tomei".

SERVIÇO

Se precisar de ajuda psicológica, encontre em:

Rede de Apoio Solidário

CVV (Centro de Valorização da Vida)
Fone gratuito: 188
www.cvv.org.br

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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