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Como se sentir melhor pelado? Ficar mais tempo nu ajuda na aceitação

Focar no que o corpo sente e ver imagens de diferentes tipos corporais são dicas de ativistas, psicólogos e nudistas

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Catherine Pearson
The New York Times

Quando Carolyn Hawkins foi a seu primeiro resort de nudez, quatro décadas atrás, tinha 37 anos e estava determinada a não tirar a roupa.

"Falei: ‘Eu vou, mas não vou tirar a roupa’", disse Hawkins, que estava visitando o resort com seu segundo marido. Mas, cercada por um caleidoscópio de corpos imperfeitos aproveitando o sol da Flórida, ela fez o que dissera que não faria. "Gostei na mesma hora", contou Hawkins, que hoje tem 79 anos e é diretora de relações com clubes e sócios da Associação Americana de Recreação Nua.

Nem todos ficam igualmente à vontade estando nus. Para muitos de nós, a nudez –ou a simples perspectiva de deixar o corpo mais à mostra— pode provocar ansiedade.

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Estratégias de psicólogos, ativistas e nudistas podem te ajudar a se sentir melhor soobre seu próprio corpo - Hyosun Hwang/The New York Times

​"Mesmo estar nus a sós pode nos deixar vulneráveis à voz crítica presente na mente", disse Renee Engeln, professora de instrução em psicologia e diretora do Body and Mind Lab da Northwestern University, que pesquisa questões ligadas à imagem corporal feminina.

O objetivo de sentir-se bem estando nua tende a se chocar com padrões culturais de beleza que poucas de nós alcançamos, ela comentou. Mas terapeutas, ativistas da imagem corporal e nudistas dizem que há motivos convincentes para as pessoas procurarem criar uma relação de mais alegria com seu próprio corpo nu, ou no mínimo uma relação de neutralidade.

Pesquisas indicam, por exemplo, que as percepções que as mulheres têm de quão atraentes são podem influenciar seu desejo sexual. Sentir-se relativamente à vontade com a própria aparência é vinculado à maior autoestima e satisfação geral com a vida.

"Para mim, isso se assemelha à discussão sobre usar biquíni", comentou Virgie Tovar, ativista de imagem corporal e autora de "The Body Positive Journal". Ela recordou a primeira vez que usou biquíni em público, sendo uma mulher plus size.

"Fiquei chocada ao ver como é fantástico sentir o sol sobre minha pele, sentir o vento batendo em meu corpo –uma parte de meu corpo que nunca antes tinha ficado exposta em qualquer lugar fora de minha casa", disse Tovar. "Foi uma experiência mais forte do que eu poderia ter imaginado."

As quatro estratégias expostas a seguir foram sugeridas por vários especialistas que passam tempo refletindo sobre nudez e imagem corporal. Elas não vão necessariamente transformar a relação que você tem com seu corpo no momento em que encontra mais oportunidades para expor mais pele, mas são um ponto de partida.

Passe mais tempo nu

Aprender a se sentir de bem com seu corpo pode ser um processo longo e árduo, e muitos dos obstáculos a isso ainda são sociais. Mesmo assim, Engeln diz que para algumas pessoas, a chave para se sentirem melhor nuas "é simplesmente passar mais tempo peladas".

Erich Schuttauf, diretor executivo da Associação Americana de Recreação Nua, concorda que simplesmente fazer coisas comuns sem roupa exerce um efeito catártico. Você pode lavar suas roupas pelado, ele sugeriu, ou, se tiver um quintal que não fique exposto a olhares de terceiros, pode tomar um banho de sol de 20 minutos sem roupa, curtindo o calor e a brisa sobre seu corpo nu.

"Acostume-se à liberdade de não precisar usar roupa", recomendou Schuttauf. Para ele, praticamente todas as tarefas domésticas ficam mais divertidas quando feitas ao natural.

Stephanie Yeboah, ativista de imagem corporal e autora de "Fattily Ever After: A Black Fat Girl’s Guide to Living Life Unapologetically" (Gorda para sempre: guia de uma garota negra e gorda para viver a vida sem remorso, em português), disse que passar uma ou duas horas nua vários dias por semana foi um passo crucial no início de sua própria jornada de aceitação corporal. Ela tirava a roupa para ler, assistir à TV ou arrumar sua casa.

Mas é importante certificar-se de estar num espaço em que você se sente segura, quer seja na privacidade de seu quarto ou num ambiente mais público, como uma praia ou resort de nudismo.

"Não basta amor próprio para você escapar de um sistema opressivo" disse Yeboah, contando que já foi chamada de "gorda" ou insultada assim que pôs os pés para fora de sua casa.

Foque no que o seu corpo sente

Tovar não pensa que se esforçar para se sentir mais à vontade nua seja um passo necessário para alcançar uma aceitação maior do próprio corpo. Mas ela incentiva qualquer pessoa que tenha dificuldade em ficar nua a imaginar como seria se sentir em paz com seu corpo quando ela precisa estar nua, como no chuveiro, por exemplo.

Para chegar a esse ponto, ela recomenda o uso de estratégias de mindfulness, para deslocar o foco da aparência de seu corpo e passá-lo para as sensações. O chuveiro é um bom ponto de partida.

"Concentre-se nas sensações", disse Tovar. "Qual é a sensação da pele quando você entra debaixo do chuveiro? Como está a temperatura da água? Qual é o efeito sobre seu corpo?"

Centrar-se sobre os sentidos pode ajudar as pessoas a vincular cérebro e corpo.

Yeboah converteu o momento do banho de chuveiro numa meditação diária. Ela usa loções e óleos agradáveis e toma o tempo necessário para aplicar os produtos lentamente, observando o perfume e a sensação dos produtos sobre sua pele.

"Isso foi uma coisa que comecei a fazer em minha jornada para o amor próprio, para me conformar com meu corpo e reaprender a gostar dele", ela explicou.

Estou evitando ficar nu?

Zoë Bisbing é assistente social clínica e diretora fundadora da Body-Positive Therapy NYC. Ela frequentemente atende pacientes que se encontram no que ela descreve como "um estado de evitar o próprio corpo". Eles fazem questão de cobrir certas partes do corpo e raramente ou nunca se olham realmente. Em muitos casos, evitam atividades como ir à praia, sair de casa em dias de calor ou fazer sexo.

Bisbing recomenda que as pessoas observem cuidadosamente, ao longo de um ou dois dias, os momentos em que estão evitando olhar para o próprio corpo nu (ou para certas partes dele). Se isso ocorre, pode ser útil experimentar uma espécie de terapia caseira de exposição –uma intervenção cognitiva muito conhecida que visa dessensibilizar as pessoas para seus medos.

"Digamos que você se sente realmente constrangida em deixar os braços expostos, mesmo quando está sozinha", disse Bisbing. "Comece com um minuto por dia usando uma roupa de manga curta ou sem mangas." Então você aumenta isso para dois minutos. Depois de algum tempo, experimenta ficar assim na presença de outras pessoas.

Segundo ela, também pode ser útil olhar para o próprio corpo no espelho por períodos de tempo curtos e treinar seu cérebro para descrever seu corpo usando linguagem simples, sem fazer julgamentos.

Mas, disse Bisbing, para qualquer pessoa com problemas como dismorfia corporal ou transtornos alimentares, é essencial buscar a ajuda de um terapeuta. Portanto, fique atenta para potenciais sinais de um problema mais sério de saúde mental, incluindo imagem corporal distorcida ou sentimentos de vergonha em relação ao que você come.

Veja imagens de tipos corporais diferentes

Para Tovar, a cultura popular e as redes sociais nos condicionaram a enxergar "corpos esbeltos, jovens e em forma" como sendo o padrão e o modelo mais válido. "Mas isso simplesmente não corresponde à realidade." Por isso mesmo, ela encoraja todas as pessoas a cercar-se de imagens de tipos corporais diversos.

"Imprima 20 fotos de corpos que são mais semelhantes ao seu e corpos maiores", recomendou Tovar. Salve as imagens no seu telefone ou cole-as em volta de seu espelho, para vê-las com frequência.

Controle os conteúdos que você segue no Instagram, Facebook ou TikTok. Embora o vínculo entre redes sociais e imagem corporal negativa não seja tão nítido e claro quanto às vezes se supõe –e o movimento de positividade corporal tem enfrentado algumas críticas–, pesquisas revelam que passar tempo olhando para conteúdos de positividade corporal online pode melhorar nosso estado de ânimo.

"Vale lembrar que quase todos os corpos nus adultos balançam ou são flácidos, têm pelos, celulite, cicatrizes, ostentam as marcas da vida", disse Engeln. "É fácil esquecer-se disso se você vive afundado num mundo de mídia que só inclui imagens photoshopadas de pessoas jovens e magras."

Tradução de Clara Allain

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