Dieta pobre em carboidrato e rica em gordura pode melhorar saúde do coração, diz estudo

Pesquisa foi feita com pessoas obesas e com sobrepeso que também aumentaram o consumo de fibras

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Anahad O'Connor
The New York Times

Fazer uma dieta com baixo teor de carboidratos tem sido uma estratégia habitual para perder peso. Mas alguns médicos e especialistas em nutrição desaconselharam fazê-la por medo de que pudesse aumentar o risco de doenças cardíacas, já que essas dietas –chamadas "low-carb" em inglês– geralmente preveem a ingestão de muitas gorduras saturadas, do tipo encontrado na carne vermelha e na manteiga.

Mas um estudo de 2021, um dos maiores e mais rigorosos já feitos sobre o assunto, sugere que uma dieta pobre em carboidratos e rica em gorduras pode ser benéfica para a saúde cardiovascular se a pessoa estiver acima do peso.

O novo estudo, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, descobriu que pessoas com sobrepeso e obesas que aumentaram a ingestão de gordura e reduziram a quantidade de carboidratos refinados em sua dieta –e comeram alimentos ricos em fibras, como frutas frescas, vegetais, nozes, feijões e lentilhas– reduziram mais seus fatores de risco para doenças cardiovasculares do que as que seguiram uma dieta semelhante, porém com menos gorduras e mais carboidratos.

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Fazer uma dieta com consumo baixo de carboidratos pode ajudar na saúde do coração - Ricka Kinamoto/Adobe Stock

Mesmo as pessoas que substituíram os carboidratos "saudáveis" como arroz integral e pão integral por alimentos mais ricos em gordura, mostraram melhoras impressionantes em diversos fatores de risco para doenças metabólicas.

O estudo sugere que ingerir menos carboidratos processados e mais gordura pode ser bom para a saúde do coração, disse o Dariush Mozaffarian, cardiologista e reitor da Escola Friedman de Ciência e Políticas da Nutrição da Universidade Tufts, que não participou da pesquisa.

"Acho este estudo importante", disse ele. "A maioria dos americanos ainda acredita que alimentos com baixo teor de gordura são mais saudáveis, e este estudo mostra que, pelo menos para esses resultados, o grupo com alto teor de gordura e baixo teor de carboidratos se saiu melhor."​

"É um estudo bem controlado, que mostra que comer menos carboidratos e mais gordura saturada é realmente bom para as pessoas, desde que tenham muitas gorduras insaturadas e estejam comendo principalmente uma dieta do tipo mediterrâneo", acrescentou Mozaffarian.

Muitos médicos recomendam uma dieta tradicional de estilo mediterrâneo, rica em frutas e vegetais, peixes e gorduras boas para o coração, como nozes e azeite, para a saúde cardiovascular. Outros estudos rigorosos concluíram que seguir uma dieta mediterrânea pode ajudar a evitar infartos e derrames.

O novo estudo incluiu 164 adultos com sobrepeso e obesidade, na maioria mulheres, que participaram de duas fases. Primeiro, os participantes foram submetidos a dietas rigorosas de baixas calorias, que reduziram seu peso corporal em cerca de 12%. Em seguida, cada um deles foi designado para seguir uma de três dietas, nas quais 20%, 40% ou 60% das calorias vinham de carboidratos.

A proteína foi mantida estável em 20% das calorias nas duas dietas, com as calorias restantes provenientes de gordura. Os participantes foram alimentados apenas com calorias suficientes para manter seus pesos estáveis. Eles seguiram os planos alimentares durante cinco meses, com todas as refeições fornecidas para garantir que seguissem as dietas.

O americano médio obtém cerca de 50% de suas calorias diárias de carboidratos, a maioria deles na forma de alimentos ricos em amido altamente processado, como bolos, pães e rosquinhas, e alimentos e bebidas açucarados.

No novo estudo, o grupo com baixo teor de carboidratos consumiu significativamente menos carboidratos do que o americano médio. Mas eles não fizeram uma dieta cetogênica, superbaixa em carboidratos, que restringe severamente os carboidratos a menos de 10% das calorias diárias e força o corpo a queimar gordura em vez de carboidratos. Tampouco comeram quantidades ilimitadas de alimentos ricos em gorduras saturadas, como bacon, manteiga e carne bovina.

Em vez disso, os pesquisadores criaram o que consideraram dietas práticas e relativamente saudáveis para cada grupo. Todos os participantes fizeram refeições como omeletes de legumes, panquecas de frango com feijão preto, rosbife marinado, feijão picante, sopa de couve-flor, salada de lentilhas tostadas e salmão grelhado. Mas o grupo rico em carboidratos também comeu alimentos como pão integral, arroz integral, bolinhos ingleses multigrãos, geleia de morango, macarrão, leite desnatado e iogurte de baunilha.

O grupo de baixo teor de carboidratos não comeu pão, arroz, geleia de frutas e iogurtes açucarados. Em vez disso, suas refeições incluíram mais ingredientes ricos em gordura, como leite integral, creme, manteiga, guacamole, azeite, amêndoas, amendoins, nozes pecã e macadâmia e requeijão.

Após cinco meses, as pessoas na dieta baixa em carboidratos não experimentaram nenhuma mudança prejudicial em seus níveis de colesterol, apesar de obterem 21% das calorias diárias de gordura saturada.

Essa quantidade é mais que o dobro do que a recomendada nas diretrizes dietéticas do governo dos Estados Unidos. Seu colesterol LDL, o chamado "ruim", por exemplo, permaneceu quase o mesmo das pessoas que seguiram a dieta rica em carboidratos, que ingeriram apenas 7% das calorias diárias de gordura saturada.

Os testes também mostraram que o grupo com baixo teor de carboidratos teve uma redução de aproximadamente 15% nos níveis de lipoproteína (a), uma partícula gordurosa no sangue que está fortemente ligada ao desenvolvimento de doenças cardíacas e derrames.

O grupo com baixo teor de carboidratos também teve melhoras nas medidas metabólicas ligadas ao desenvolvimento do diabetes tipo 2. Os pesquisadores avaliaram suas notas de resistência à insulina de lipoproteína, que analisa o tamanho e a concentração de moléculas portadoras de colesterol no sangue.

Grandes estudos descobriram que pessoas com altas notas de LPIR são mais propensas a desenvolver diabetes. Nesta pesquisa, as pessoas na dieta baixa em carboidratos tiveram sua pontuação de LPIR reduzida em 15% –diminuindo o risco de diabetes–, enquanto as na dieta rica em carboidratos tiveram notas 10% mais altas. As pessoas na dieta moderada em carboidratos não tiveram alterações na pontuação de LPIR.

O grupo low carb também teve outras melhoras. Eles tiveram uma queda nos triglicerídeos, um tipo de gordura no sangue que está ligado a infartos e derrames. E tiveram aumentos em seus níveis de adiponectina, hormônio que ajuda a diminuir a inflamação e tornar as células mais sensíveis à insulina, o que é bom. Altos níveis de inflamação em todo o corpo estão ligados a uma série de enfermidades relacionadas à idade, incluindo doenças cardíacas e diabetes.

O estudo custou US$ 12 milhões e foi amplamente financiado pela Nutrition Science Initiative, grupo de pesquisa sem fins lucrativos. Também foi apoiado por doações dos Institutos Nacionais de Saúde, New Balance Foundation e outros.

Mozaffarian disse que sua mensagem para as pessoas é adotar o que ele chama de dieta mediterrânea rica em gordura. Isso implica comer menos carboidratos altamente processados e alimentos açucarados e focar em frutas, legumes, nozes, sementes, peixe, queijo, azeite e produtos lácteos fermentados, como iogurte e kefir. "Essa é a dieta na qual as pessoas devem se concentrar", disse ele. "É para onde toda a ciência está apontando."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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