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Estresse é gatilho para ataques cardíacos fatais, diz estudo

Condição pode ser aguda ou crônica, além de ser desencadeada por eventos como demissão ou dificuldade econômica

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Jane E. Brody
The New York Times

Você provavelmente conhece os principais fatores de risco para doenças cardíacas: pressão alta, colesterol elevado, tabagismo, diabetes, obesidade e sedentarismo. É provável que seu médico o tenha verificado mais de uma vez quanto a esses riscos e, espero, oferecido conselhos ou tratamento para ajudar a evitar um infarto ou derrame.

Mas seu médico também lhe perguntou sobre o nível de estresse em sua vida? O estresse psicológico crônico, como indicam estudos recentes, pode ser tão importante –e possivelmente mais– para a saúde do seu coração quanto os fatores de risco cardíaco tradicionais.

De fato, em pessoas com corações menos saudáveis, o estresse mental supera o estresse físico como potencial gatilho para ataques cardíacos fatais e não fatais e outros eventos cardiovasculares, de acordo com estudo recente.

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Estresse pode ser prejudicial ao coração - Catarina Pignato

O novo relatório, publicado em novembro na JAMA (Jornal da Associação Médica Americana, em português), avaliou a evolução de 918 pacientes conhecidos por terem doenças cardíacas subjacentes, mas estáveis, para ver como seus corpos reagiriam ao estresse físico e mental.

Os participantes foram submetidos a testes padronizados de estresse para ver se seus corações desenvolviam isquemia miocárdica –um fluxo sanguíneo significativamente reduzido para os músculos do coração, que pode ser um gatilho para eventos cardiovasculares– durante uma ou ambas as formas de estresse. Em seguida, os pesquisadores os acompanharam por quatro a nove anos.

Entre os participantes do estudo que sofreram isquemia em um ou ambos os testes, essa reação adversa ao estresse mental teve um impacto significativamente maior no coração e na vida dos pacientes do que o estresse físico. Eles tinham maior propensão a sofrer um ataque cardíaco não fatal ou morrer de doença cardiovascular nos anos seguintes.

Eu gostaria de ter sabido disso em 1982, quando meu pai teve um infarto que quase o matou. Ao sair do hospital, ele foi avisado sobre o risco de estresse físico, como não levantar nada mais pesado que 30 quilos. Mas nunca foi advertido sobre estresse emocional indevido, ou os riscos de reagir exageradamente a circunstâncias frustrantes, como quando o motorista à sua frente dirige muito devagar em uma zona de passagem proibida.

As novas descobertas ressaltam os resultados de um estudo anterior que avaliou a relação entre fatores de risco e doenças cardíacas em 24.767 pacientes de 52 países. Descobriu-se que os pacientes que experimentaram um alto nível de estresse psicológico durante o ano anterior à entrada no estudo tinham duas vezes mais propensão a sofrer um ataque cardíaco durante um acompanhamento médio de cinco anos, mesmo quando os fatores de risco tradicionais eram levados em consideração.

O estudo, conhecido como Interheart, mostrou que o estresse psicológico é um fator de risco independente para ataques cardíacos, semelhante em efeitos prejudiciais ao coração aos riscos cardiovasculares mais comumente medidos, explicou o dr. Michael T. Osborne, cardiologista do Hospital Geral de Massachusetts.

Mas e os efeitos do estresse em pessoas cujos corações ainda estão saudáveis? O estresse psicológico vem em muitas formas. Pode ocorrer de forma aguda, causada por incidentes como a perda do emprego, a morte de um ente querido ou a destruição da casa num desastre natural.

Um estudo recente na Escandinávia descobriu que na semana seguinte à morte de uma criança, o risco de os pais sofrerem ataque cardíaco era mais de três vezes a taxa esperada.

O estresse emocional também pode ser crônico, resultante, por exemplo, de insegurança econômica contínua, de viver em uma área de alta criminalidade ou de sofrer depressão ou ansiedade implacáveis. No estudo escandinavo, pais enlutados continuaram experimentando um risco cardíaco elevado anos depois.

​Como o estresse prejudica o coração

O dr. Osborne fez parte de uma equipe de especialistas liderada pelo dr. Ahmed Tawakol, também do Hospital Geral de Massachusetts, de uma análise das reações corporais ao estresse psicológico. Ele disse que as evidências acumuladas de como o cérebro e o corpo respondem ao estresse psicológico crônico sugerem fortemente que a medicina moderna tem negligenciado um perigo criticamente importante para a saúde do coração.

Tudo começa no centro do medo do cérebro, a amígdala, que reage ao estresse ativando a chamada resposta de lutar ou fugir, desencadeando a liberação de hormônios que ao longo do tempo podem aumentar os níveis de gordura corporal, pressão arterial e resistência à insulina.

Além disso, como a equipe explicou, a cascata de reações ao estresse causa inflamação nas artérias, promove a coagulação do sangue e prejudica a função dos vasos sanguíneos, todos os quais promovem a aterosclerose, doença arterial subjacente à maioria dos infartos e derrames.

A equipe do dr. Tawakol explicou que os exames avançados de neuroimagem tornaram possível medir diretamente o impacto do estresse em vários tecidos do corpo, incluindo o cérebro.

Um estudo prévio com 293 pessoas inicialmente livres de doenças cardiovasculares, que foram submetidas a exames de corpo inteiro que incluíam atividade cerebral, tiveram um resultado revelador. Cinco anos depois, os indivíduos com alta atividade na amígdala mostraram níveis mais altos de inflamação e aterosclerose.

Isso quer dizer que as pessoas com nível elevado de estresse emocional desenvolveram evidências biológicas de doenças cardiovasculares. Em contraste, disse o dr. Osborne, "as pessoas que não são muito tensas" tendem menos a experimentar os efeitos do estresse no coração.

Os pesquisadores agora estão investigando o impacto de um programa de redução de estresse chamado Smart-3RP (que significa Programa de Resiliência de Resposta de Relaxamento e Treinamento em Gerenciamento de Estresse e Resiliência, em português) no cérebro, bem como fatores biológicos que promovem a aterosclerose.

O programa foi desenvolvido para ajudar as pessoas a reduzir o estresse e aumentar a resiliência por meio de técnicas mente-corpo, como meditação baseada em "mindfulness", ioga e tai chi. Tais medidas ativam o sistema nervoso parassimpático, que acalma o cérebro e o corpo.

Desativando o estresse e seus efeitos

Mesmo sem um programa formal, Osborne disse que os indivíduos podem minimizar as reações prejudiciais do estresse ao corpo. Uma das melhores maneiras é com o exercício físico habitual, que pode ajudar a diminuir o estresse e a inflamação por ela causada em todo o corpo.

Como o sono ruim aumenta o estresse e promove a inflamação arterial, desenvolver bons hábitos de sono também pode reduzir o risco de danos cardiovasculares. Adote um padrão consistente de hora de dormir e acordar, e na hora de dormir evite a exposição a telas que emitem luz azul, como smartphones e computadores, ou use filtros de luz azul para esses dispositivos.

Pratique medidas relaxantes como meditação mindfulness, técnicas calmantes que retardam a respiração, ioga e tai chi.

Vários medicamentos comuns também podem ajudar, disse o dr. Osborne. As estatinas não apenas reduzem o colesterol, como também combatem a inflamação arterial, resultando em um benefício cardiovascular maior do que seus meros efeitos de baixar o colesterol.

Os antidepressivos, incluindo o anestésico cetamina, também podem ajudar a minimizar a atividade excessiva da amígdala e aliviar o estresse em pessoas com depressão.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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