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Exercícios regulares após perder peso podem diminuir metabolismo, sugere estudo

Pesquisa foi feita com participantes de reality show de emagrecimento; resultados não são conclusivos

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Gretchen Reynolds
The New York Times

Muitos conhecem o seriado americano de "The Biggest Loser" (O maior perdedor, em português), reality show um tanto notório que ficou no ar por mais de uma década na TV americana, começando em 2004, em que os participantes competiam febrilmente para perder peso maciço em pouco tempo.

Uma das maiores lições que o programa parece ter ensinado é que exercício intenso aliado a uma restrição calórica draconiana levariam a uma perda de peso enorme.

Mas a cobertura de mídia dos participantes anos mais tarde parece ter revelado uma realidade diferente envolvendo peso recuperado, metabolismos que se tornaram mais lentos, e a futilidade de tentar perder peso no longo prazo.

Homem corre na ciclovia da Avenida Sumaré, em São Paulo - 19.ago.2015 - Rodrigo Dionisio/Folhapress

Uma nova análise científica do programa e suas consequências, publicada em maio no periódico Obesity, sugere que muitas das ideias comuns do seriado podem ser equivocadas. A análise procura deslindar o que de fato aconteceu com o metabolismo dos participantes e por que alguns deles conseguiram manter a perda de peso melhor que outros.

O estudo também analisa o papel complexo desempenhado pelo exercício físico e se conservar-se fisicamente ativos ajudou os participantes a manter seu peso sob controle por anos, ou não.

Para quem não conhece, "The Biggest Loser" foi transmitido pela na emissora americana NBC, com audiência de modo geral grande, por mais de 12 temporadas. Os participantes competiam para perder o maior número de quilos usando restrição calórica extrema e horas de exercício físico intensivo. Os "ganhadores" geralmente se livravam de muitos quilos em poucos meses.

Essa perda de peso rápida e extrema chamou a atenção de Kevin Hall, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais (EUA), que faz parte dos Institutos Nacionais de Saúde americanos.

Especialista em metabolismo, Hall sabia que quando as pessoas perdem muito peso num período de tempo muito curto, geralmente provocam uma queda acentuada em sua taxa metabólica basal –as calorias que queimamos diariamente apenas para continuar vivos. Uma taxa metabólica basal mais baixa pode significar que queimamos menos calorias no geral.

Acreditava-se que esse efeito era causado em parte pela perda de massa muscular produzida quando as pessoas faziam dieta. Um tecido relativamente ativo, o músculo queima mais calorias que a gordura, e mais massa muscular geralmente significa taxas metabólicas mais elevadas.

Sendo assim, Hall se perguntou: os níveis extremos de exercício físico praticados durante "The Biggest Loser" ajudariam os participantes a conservar sua massa muscular e manter seu metabolismo basal elevado ao mesmo tempo em que estavam cortando calorias?

Começando há mais de uma década, Hall e seus colegas iniciaram o primeiro de uma série de experimentos para descobrir a resposta.

Em um estudo de 2014, eles compararam 13 homens e mulheres que haviam perdido peso muito grande pela redução de calorias, graças à cirurgia de bypass gástrico, com 13 participantes do "The Biggest Loser", cuja perda de peso extrema envolveu exercício físico e dieta.

Conforme o previsto, o grupo que fizera cirurgia bariátrica perdeu massa muscular além de gordura, enquanto os participantes de "The Biggest Loser" conservaram a maior parte de sua massa muscular, perdendo principalmente gordura. Mas a taxa metabólica basal de todos caiu e mais ou menos na mesma proporção, quer as pessoas tivessem se mantido musculosas, quer não.

Hall disse que ele e seus colegas se surpreenderam com os resultados. E sua confusão aumentou quando, para um estudo feito em 2016, eles reexaminaram 14 dos mesmos participantes seis anos após a competição, na expectativa de que seu metabolismo já teria voltado a subir.

Na maioria dos casos, o metabolismo basal de pessoas que fazem dietas sobe um tanto depois de as pessoas pararem de perder peso ativamente, e especialmente se elas recuperam o peso. Pessoas mais pesadas queimam mais calorias basais que pessoas mais leves.

Em 2016, a maioria dos participantes do reality show já havia recuperado o peso. Mas seu metabolismo basal permanecia obstinadamente baixo, queimando em média 500 calorias diárias menos do que era o caso antes de terem participado do programa.

Um estudo de acompanhamento feito no ano seguinte concluiu que a atividade física ajudara alguns competidores a evitar o ganho de peso.

Os que se mexiam ou praticavam exercício físico formalmente por cerca de 80 minutos na maioria dos dias recuperaram menos quilos do que aqueles que raramente se exercitavam. Mas o exercício que praticavam não elevava seu metabolismo basal. Na realidade, aqueles que faziam exercício físico apresentaram as maiores quedas relativas em suas taxas metabólicas basais.

Perplexo, Hall recentemente começou a reavaliar os estudos sobre "The Biggest Loser", analisando-os sob o crivo de um conceito emergente sobre como o metabolismo humano funciona de fato. Essa ideia nasceu de um estudo influente de 2012 que mostrou que pessoas altamente ativas da Tanzânia que vivem de caça e coleta queimam o mesmo número relativo de calorias diárias que o resto de nós, apesar de se movimentarem muito mais.

Os cientistas envolvidos no estudo postularam que o corpo dos caçadores tanzanianos deveria estar compensando automaticamente por algumas das calorias que eles queimavam enquanto caçavam para se alimentar, reduzindo outras atividades fisiológicas, como o crescimento (os caçadores tendiam a ter baixa estatura).

Desse modo, pensaram os pesquisadores, o corpo dos caçadores podia limitar o número total de calorias que eles queimavam diariamente, independentemente de quantos quilômetros eles corressem à procura de raízes e animais para caçar. Os cientistas chamaram essa ideia de a teoria do gasto energético total restrito.

Ciente dessa pesquisa, Hall começou a enxergar paralelos potenciais nos resultados de "The Biggest Loser". Assim, para a nova análise ele voltou a examinar os dados de seu grupo à procura de sinais de que o metabolismo dos participantes teria, na prática, se comportado como o metabolismo dos caçadores-coletores. E encontrou pistas em suas taxas metabólicas basais.

Essas taxas caíram fortemente já no início das filmagens de "The Biggest Loser", ele observou, quando os participantes reduziram sua ingestão alimentar e seu organismo, compreensivelmente, reduziu o número de calorias que eles queimavam, para evitar que passassem fome.

Mas nos anos posteriores, quando os competidores normalmente voltavam a seus padrões alimentares anteriores, seu metabolismo continuou lento, porque, Hall concluiu –e esse foi o fator chave--, a maioria deles ainda se exercitava.

Contra-intuitivamente, ele escreveu na nova análise, a atividade física frequente parece ter levado seu organismo a conservar sua taxa metabólica basal baixa, para que o gasto energético diário total pudesse ser limitado.

"Isso ainda não passa de hipótese", disse Hall, "mas parece que o que estamos observando" nos dados sobre os participantes no "The Biggest Loser" "é um exemplo do modelo de energia restrita".

Tradução de Clara Allain

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