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Exercitar-se pela manhã ou noite pode influenciar resultados, sugere estudo

Pesquisa feita com camundongos indica que horário do treino interfere no emagrecimento e controle açúcar no sangue

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Gretchen Reynolds
The New York Times

O exercício matinal tem efeitos no metabolismo muito diferentes do mesmo treino realizado no fim do dia, segundo um novo e ambicioso estudo com animais sobre o horário do exercício.

O estudo, que envolveu camundongos de laboratório saudáveis correndo em pequenas esteiras, mapeou centenas de disparidades nos números e atividades de moléculas e genes em todo o corpo dos roedores, dependendo de eles correrem pela manhã ou à noite.

Muitas dessas mudanças estão relacionadas à queima de gordura e outros aspectos do metabolismo dos animais. Com o tempo, essas mudanças podem influenciar substancialmente seus riscos de doenças e bem-estar.

Embora o estudo tenha apresentado roedores, suas descobertas provavelmente são relevantes para qualquer pessoa que se pergunta se é melhor malhar antes do trabalho ou se podemos obter tantos –ou mais– benefícios para a saúde com exercícios após o expediente.

Mulheres correm no Parque Ibirapuera, em São Paulo - 10.jan.2017 - Danilo Verpa/Folhapress

Como qualquer pessoa sabe, nossas operações internas e as de quase todas as criaturas vivas seguem um ritmo circadiano de 24h, bem orquestrado e abrangente.

Estudos recentes com animais e pessoas mostram que quase todas as células do nosso corpo contêm uma versão de um relógio molecular que se coordena com um sistema de temporização de corpo inteiro para conduzir a maioria das operações biológicas.

Graças a esses relógios internos, nossa temperatura corporal, açúcar no sangue, pressão arterial, fome, frequência cardíaca, níveis hormonais, sonolência, divisão celular, gasto de energia e muitos outros processos aumentam e diminuem em padrões repetidos durante o dia.

Esses ritmos internos, embora previsíveis, também são flexíveis. Nossos relógios internos podem se recalibrar, como mostrou a pesquisa, com base em pistas complexas dentro e fora de nós. Em particular, eles respondem à luz e à escuridão, mas também são afetados por nossos hábitos de sono e horários de alimentação.

Pesquisas recentes sugerem que a hora do dia em que nos exercitamos também ajusta nossos relógios internos. Em estudos anteriores com camundongos, correr em horários diferentes afetou a temperatura corporal, a função cardíaca e o gasto energético dos animais ao longo do dia e alterou a atividade de genes relacionados ao ritmo circadiano e ao envelhecimento.

Os resultados nas pessoas, no entanto, têm sido inconsistentes.

Em um pequeno estudo de 2019 com homens que aderiram a um programa de exercícios para perder peso, por exemplo, aqueles que se exercitaram pela manhã perderam mais quilos do que os que treinaram no final do dia, mesmo que todos completassem a mesma rotina de exercícios.

Mas em um estudo de 2020 homens com alto risco de diabetes tipo 2 que começaram a se exercitar três vezes por semana desenvolveram maior sensibilidade à insulina e controle do açúcar no sangue quando treinaram à tarde do que de manhã.

Esses resultados repetiram descobertas semelhantes de 2019, em que homens com diabetes tipo 2 que se exercitaram intensamente logo ao acordar tiveram picos inesperados e indesejáveis nos níveis de açúcar no sangue após o exercício, enquanto os mesmos treinos à tarde melhoraram seu controle do açúcar no sangue.

Poucos desses estudos se aventuraram mais profundamente, entretanto, para analisar as alterações moleculares que promovem os resultados de saúde e circadianos, o que pode explicar em parte as discrepâncias entre os estudos. Os experimentos que examinaram os efeitos do exercício em nível microscópico, geralmente em camundongos, tendiam a se concentrar em um único tecido, como sangue ou músculo.

Mas os cientistas que estudam atividade física, metabolismo e cronobiologia suspeitam que os impactos do tempo de exercício se estenderiam a muitas outras partes do corpo e envolveriam uma interação complexa entre várias células e órgãos.

Assim, para o novo estudo, publicado este mês como artigo de capa da revista Cell Metabolism, um consórcio internacional de pesquisadores decidiu tentar quantificar quase todas as alterações moleculares relacionadas ao metabolismo que ocorrem durante o exercício em diferentes momentos do dia.

Usando camundongos machos saudáveis, eles fizeram alguns correrem moderadamente em rodas durante uma hora no início do dia e outros correrem o mesmo tempo à noite. Um grupo adicional de camundongos ficou em rodas travadas durante uma hora nesses mesmos horários e serviu como grupo de controle sedentário.

Começando cerca de uma hora após os treinos, os pesquisadores coletaram amostras repetidas do músculo, fígado, coração, hipotálamo, gordura branca, gordura marrom e sangue de cada animal e usaram máquinas sofisticadas para identificar e enumerar quase todas as moléculas desses tecidos relacionadas ao uso de energia. Eles também verificaram marcadores de atividade em genes relacionados ao metabolismo. Em seguida, tabularam os totais entre os tecidos e entre os grupos de camundongos.

Surgiram padrões interessantes. Como os ratos são noturnos, eles acordam e ficam ativos à noite e se preparam para dormir de manhã, um horário oposto ao nosso (a menos que sejamos vampiros ou adolescentes).

Quando os camundongos correram no início de seu horário ativo –o equivalente à manhã para nós–, os pesquisadores contaram centenas de moléculas cujo número aumentou ou diminuiu após o exercício, e que diferiram dos níveis observados em camundongos que correram mais perto de sua hora de dormir ou não se exercitaram.

Além disso, algumas dessas mudanças ocorreram de forma quase idêntica em diferentes partes do corpo, sugerindo aos pesquisadores que vários órgãos e tecidos estavam, de fato, se comunicando. Os músculos e fígados dos roedores, por exemplo, compartilhavam muitas mudanças moleculares quando os animais corriam de manhã, mas menos quando corriam pouco antes de dormir.

"Foi notável" ver como o tempo de exercício afetou os níveis e as atividades de tantas moléculas em todo o corpo dos animais, disse Juleen Zierath, professora de fisiologia integrativa clínica no Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia, e diretora executiva do Centro de Pesquisa Metabólica Básica da Fundação Novo Nordisk na Universidade de Copenhague (Dinamarca), que supervisionou o novo estudo.

Em geral, as diferenças nos perfis moleculares entre os treinos matinais (em termos de ratos) e aqueles mais tardios tendiam a sinalizar maior uso de gordura que de açúcar no sangue para abastecer o exercício inicial. O oposto ocorreu quando os ratos correram à noite. Se esses padrões forem válidos para seres humanos, isso pode sugerir que o exercício matinal contribui mais para a perda de gordura, enquanto os praticados no final do dia podem ser melhores para controlar o açúcar no sangue.

Mas camundongos não são pessoas, e ainda não sabemos se os mesmos padrões moleculares são válidos para nós. Os pesquisadores do estudo estão trabalhando em um experimento comparável envolvendo pessoas, disse Zierath.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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