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Por que seu treino queima menos calorias do que você imagina? Entenda

Corpo faz uma compensação que diminui o déficit necessário para o emagrecimento

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Gretchen Reynolds
The New York Times

Para cada 100 calorias que podemos esperar queimar como resultado do exercício físico, a maioria das pessoas queimará menos de 72 calorias, segundo um novo estudo esclarecedor sobre como a atividade física afeta nosso metabolismo.

O estudo descobriu que nossos corpos tendem a compensar automaticamente pelo menos um quarto das calorias que gastamos durante os exercícios, minando nossos melhores esforços para perder peso ao treinar.

Os resultados também mostram que carregar quilos extras infelizmente aumenta a compensação de calorias, tornando o emagrecimento através do exercício ainda mais difícil para quem já está acima do peso.

Homem faz musculação em academia em São Paulo - 21.nov.2011 - Breno Rotatori/Folhapress

​Mas o estudo também sugere que a compensação de calorias varia de pessoa para pessoa, e que aprender como seu metabolismo responde aos treinos pode ser a chave para otimizar o exercício para controlar o peso.

Em teoria –ou em um universo alternativo mais gentil–, o exercício ajudaria substancialmente na perda de peso. Quando nos movimentamos, nossos músculos se contraem, exigindo mais combustível do que em repouso, enquanto outros órgãos e sistemas biológicos também gastam energia extra.

Graças a estudos laboratoriais anteriores, sabemos aproximadamente quanta energia esses processos demandam. Caminhar 1,5 km, por exemplo, queima aproximadamente 100 calorias, dependendo do tamanho do corpo e da velocidade de caminhada.

Até recentemente, a maioria das pessoas, incluindo cientistas do exercício, supunha que esse processo seria aditivo –ou seja, caminhar 1,5 km, queima 100 calorias; caminhar 3 km, queima 200; e assim por diante, de maneira lógica e matemática. Se não substituirmos essas calorias por alimentos extras, devemos acabar queimando mais calorias do que consumimos naquele dia e começar a perder peso.

Mas esse resultado racional raramente acontece. Em diversos estudos, a maioria das pessoas que inicia um novo programa de exercícios perde menos peso do que o esperado com base no número de calorias que queima durante os treinos, mesmo que monitore rigorosamente suas dietas.

Assim, alguns cientistas começaram a especular que o gasto de energia pode ser menos elástico do que pensávamos. Em outras palavras, pode ter limites.

Essa possibilidade se fortaleceu em 2012, com a publicação de um influente estudo sobre caçadores-coletores africanos. Ele mostrou que, embora os membros da tribo caminhassem ou corressem regularmente durante horas, queimavam aproximadamente o mesmo número total de calorias diárias que homens e mulheres ocidentais relativamente sedentários.

Os autores do estudo perceberam que de alguma forma os corpos das tribos ativas estavam fazendo uma compensação, diminuindo a queima total de calorias, para que eles evitassem a fome enquanto perseguiam sua comida.

Outros pequenos estudos desde então reforçaram a descoberta de que mais atividade não resulta necessariamente em maior gasto calórico diário. Mas poucos experimentos em larga escala tentaram determinar o quanto nossos corpos compensam as calorias queimadas durante o movimento, já que medir a atividade metabólica nas pessoas é complexo e caro.

Como parte de uma nova e ambiciosa iniciativa científica, porém, dezenas de pesquisadores recentemente reuniram dados metabólicos de vários estudos envolvendo milhares de homens e mulheres. Esses estudos envolveram beber água duplamente marcada, o padrão-ouro em pesquisas metabólicas. Ela contém isótopos que permitem aos pesquisadores rastrear com precisão quantas calorias alguém queima ao longo do dia.

Para o novo estudo, que foi publicado em agosto em Current Biology, alguns dos cientistas envolvidos na iniciativa se propuseram a ver o que acontece com nossos metabolismos quando nos movimentamos.

Eles extraíram dados de 1.754 adultos que incluíam seus resultados de água duplamente marcada, bem como medidas de suas composições corporais e gasto energético basal, que é quantas calorias eles queimam simplesmente por estarem vivos, mesmo que fiquem inativos. A subtração dos números basais do gasto total de energia deu aos pesquisadores uma aproximação do gasto de energia das pessoas com exercícios e outros movimentos, como ficar em pé, caminhar e inquietação geral.

Em seguida, usando modelos estatísticos, os pesquisadores puderam calcular se as calorias queimadas durante a atividade aumentavam o gasto energético diário das pessoas como esperado –ou seja, se as pessoas queimam proporcionalmente mais calorias diárias totais quando se movimentam mais. Mas, como os pesquisadores descobriram, elas não tendem a queimar mais calorias. De fato, a maioria das pessoas parecia estar queimando apenas cerca de 72% das calorias adicionais, em média, como seria de esperar, diante de seus níveis de atividade.

"As pessoas parecem estar compensando com energia as calorias adicionais queimadas com a atividade em pelo menos um quarto", disse Lewis Halsey, professor de ciências da vida e da saúde na Universidade de Roehampton, em Londres, e um dos principais autores do novo estudo.

Inesperadamente, os pesquisadores também descobriram que os níveis de compensação de energia aumentaram entre pessoas com níveis relativamente altos de gordura corporal. Elas tendiam a compensar 50% ou mais das calorias que queimavam sendo ativas.

É importante ressaltar que o estudo não abordou o consumo alimentar das pessoas. Concentrou-se apenas no gasto de energia e em como nossos corpos parecem capazes de compensar algumas das calorias queimadas durante o exercício, reduzindo a atividade biológica em outras partes do corpo.

No entanto, ainda não está claro como orquestramos inconscientemente esse feito e quais sistemas internos podem ser mais afetados, disse Halsey.

Ele e seus colegas especulam que as operações do sistema imunológico, que exigem energia considerável, podem ser um pouco reduzidas. Ou podemos, sem saber, ficar menos agitados ou ficar mais sedentários em geral nos dias em que nos exercitamos. Talvez, também, alguns dos funcionamentos internos de nossas células possam diminuir, reduzindo o gasto total de energia de nossos corpos.

Mas a nova ciência do exercício e da compensação de calorias não é completamente desencorajadora. Mesmo as pessoas cujos corpos compensam 50% ou mais das calorias que gastam durante a atividade física queimarão mais calorias por dia do que se permanecerem paradas, apontou Halsey.

Um problema mais intratável com o uso de exercícios para perda de peso, continuou ele, é que o exercício realmente queima poucas calorias, ponto final. Para perder peso, também teremos que comer menos.

"Meio biscoito ou meia lata de refrigerante" depois de meia hora de caminhada, e você terá ingerido mais calorias do que queimou, disse ele, por mais que você compense.

Luiz Roberto M. Gonçalves

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