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Um osso quebrado aumenta o risco de novas fraturas nos mais velhos

Evidências indicam que incidentes podem ser sinal da necessidade de uma avaliação médica completa

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Jane E. Brody
The New York Times

Digamos que você seja uma mulher de 50 e poucos anos, ou talvez um homem de 70 e poucos anos, e quebre uma perna ou um quadril ao cair de uma escada de 1,8 m. Seria um infortúnio, com certeza, mas provavelmente nem você nem seu médico ficariam surpresos com a gravidade da lesão, dada a natureza do acidente.

E seu médico provavelmente não o avisaria após a queda que ossos enfraquecidos podem ter contribuído para sua fratura, ou que você pode estar em risco de quebrar outro osso na próxima vez que tiver um pequeno acidente, como tropeçar no cachorro.

Assim, depois que a fratura for imobilizada com gesso ou reparada cirurgicamente, seu médico provavelmente não fará mais nada para evitar a possibilidade de uma nova fratura.

Ilustração
Fraturas em homens ou mulheres mais velhas pode ser um sinal para um exame de ossos - Gracia Lam/The New York Times

Os médicos são treinados para pensar que apenas ossos que quebram após trauma mínimo, ou nenhum, são indício de ossos frágeis. E que tais fraturas são as únicas que justificam uma avaliação da saúde óssea do paciente, bem como tratamento e aconselhamento para evitar mais fraturas. Além disso, as recomendações profissionais reforçam esse pensamento e levam os médicos a dar alta aos pacientes após a correção de uma fratura de alto trauma.

No entanto, agora há evidências crescentes de que, para mulheres após a menopausa e homens mais velhos, um osso quebrado por qualquer tipo de trauma –seja grave (acidente de carro) ou não (queda na calçada)– a fragilidade dos ossos provavelmente é a culpada.

Em um comentário publicado no JAMA Internal Medicine no ano passado, as médicas Anne L. Schafer e Dolores M. Shoback, do Sistema de Saúde dos Veteranos em San Francisco, nos Estados Unidos, sugeriram que as fraturas após trauma grave ou mínimo representam "uma distinção sem diferença" para pessoas de meia idade e idosas.​

Não importa como o acidente ocorreu, as evidências atuais indicam que, quando uma pessoa idosa quebra um osso, uma avaliação mais profunda da saúde óssea geral dessa pessoa e conselhos sobre como mantê-la devem seguir como parte integrante do tratamento.

Uma importante descoberta mostra que apenas 9% dos pacientes do Medicare, o seguro saúde do governo americano, que sofreram fratura de quadril ou coluna foram testados para perda óssea e receberam tratamento para evitar novas fraturas.

Dentro de três anos, 20% deles tiveram outra fratura. Provavelmente não preciso dizer que "um grama de prevenção vale um quilo de cura", mas os médicos geralmente relutam (e os pacientes geralmente resistem) a ir além de consertar a lesão inicial.

Mulheres mais velhas que sofrem fratura precisam de um exame dos ossos

O comentário no JAMA Internal Medicine foi uma resposta a um importante estudo publicado na mesma edição da revista, em julho de 2021.

O estudo catalogou a incidência de fraturas subsequentes entre 7.142 mulheres na pós-menopausa, muitas delas entre 50 e 60 anos, que sofreram uma primeira fratura, e comparou o risco de ter uma segunda fratura com 66.874 de seus pares que não tiveram uma fratura inicial. Os pesquisadores acompanharam as mulheres por cerca de oito anos em média.

Entre as que sofreram a fratura inicial por trauma mínimo, que é considerado uma marca registrada de ossos enfraquecidos, o risco de ter outra fratura aumentou 52%. Entre as mulheres cuja primeira fratura ocorreu após um acidente traumático, como queda de uma escada, o risco de uma segunda fratura foi 25% maior do que o esperado com base em mulheres que não tiveram fratura inicial.

Os autores do estudo concluíram, a partir de sua análise estatística, que tanto as "fraturas iniciais não traumáticas quanto as traumáticas" estavam "semelhantemente associadas ao risco de fratura subsequente".

Ao contrário das diretrizes atuais, os autores escreveram que "os resultados do nosso estudo são clinicamente importantes porque, em contraste com uma fratura não traumática, uma fratura considerada traumática geralmente não provoca uma avaliação adicional de osteoporose ou aconselhamento sobre o aumento do risco de fratura subsequente".

No entanto, eles acrescentaram, "fraturas de alto trauma e baixo trauma mostram associações semelhantes com baixa densidade mineral óssea".

Segundo estudos, mesmo mulheres mais jovens na pós-menopausa que sofreram fratura grave correm maior risco de ter osteoporose, disse o dr. Sundeep Khosla, especialista em ossos na Clínica Mayo em Rochester, Minnesota (EUA).

"Há evidências bastante fortes de que mulheres na pós-menopausa que sofrem fratura, independentemente do grau do trauma, devem ter sua densidade óssea avaliada", ele me disse. "Uma fratura sofrida em uma queda da própria altura confere um risco quase tão alto de uma segunda fratura quanto se a primeira fratura resultasse de uma queda da escada."

Homens idosos também têm alto risco de segunda fratura

Os homens também enfrentam um risco muitas vezes ignorado de segundas fraturas, especialmente porque suas primeiras fraturas são mais propensas a resultar de um evento traumático como um acidente de carro, e não são reconhecidas como um prenúncio de fraturas futuras, disse Schafer em uma entrevista.

A dra. Carolyn J. Crandall, médica de medicina interna na Escola David Geffen da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que liderou o estudo da JAMA Internal Medicine, disse que estudos recentes têm documentado que homens mais velhos que sofreram uma fratura de alto trauma eram frequentemente tão propensos a ter densidades ósseas baixas quanto homens com fratura de baixo trauma, além de também correr risco de novas fraturas.

"Os homens mais velhos podem estar em desvantagem especial se descartarmos suas fraturas de alto trauma", disse Schafer. "Os homens perdem ossos com a idade e desenvolvem osteoporose, embora geralmente mais tarde na vida do que as mulheres. Eles foram esquecidos. Homens que fraturaram ossos no passado não devem ser descartados."

Como testar e tratar ossos frágeis

Qual é, então, a mensagem para os homens idosos e as mulheres de meia idade e mais velhas? E para seus médicos?

Para começar, a pergunta que os médicos costumam fazer –"Como ocorreu essa fratura?"– não é relevante. O que conta, disse Khosla, é a saúde dos ossos do paciente, e isso é determinado por um exame de densidade óssea que mede o conteúdo mineral dos ossos da coluna, dos quadris e, às vezes, do antebraço. O teste é indolor, não invasivo e rápido, e seus resultados são melhor interpretados por um especialista em osteoporose.

Se o exame mostrar ossos anormalmente fracos, os médicos geralmente prescrevem medicamentos para retardar, interromper ou reverter o processo. O tratamento também deve incluir aconselhamento sobre estilo de vida em relação a dieta e exercícios, disse Khosla.

"Ser fisicamente ativo ajuda a manter a força, o equilíbrio e a agilidade, e a diminui as chances de cair e quebrar um osso." Exercícios de levantamento de peso e fortalecimento muscular são importantes ao longo da vida.

Igualmente importante: faça uma dieta bem equilibrada, rica em vegetais, frutas e grãos integrais, bem como cálcio e vitamina D. Evite fumar e limite o consumo de álcool e cafeína.

Finalmente, verifique sua casa e arredores quanto a riscos de tropeçar e elimine-os. Tapetes soltos, sapatos e outros artigos deixados no meio do caminho, falta de corrimãos e pouca iluminação especialmente nas escadas, todos tendem a provocar quedas que podem quebrar ossos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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