Medicações e estilo de vida podem diminuir risco de câncer de mama

Evidências indicam que tratamentos feitos após a remissão da doença também ajudam na prevenção

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Jane E. Brody
The New York Times

A mamografia é uma ferramenta valiosa para descobrir o câncer de mama quando ainda está limitado à mama e é altamente passível de cura. Mas não importa quão boas sejam as chances de sobrevivência com a detecção precoce, tenho certeza de que as mulheres preferem não desenvolver câncer de mama, em primeiro lugar.

No entanto, embora 1 em cada 8 mulheres venha a receber um diagnóstico de câncer de mama, hoje apenas uma minoria aproveita as medidas de estilo de vida comprovadas para reduzir as chances de desenvolver a doença, e muito menos tomam medicamentos que podem ajudar a evitá-la em mulheres com risco acima da média.

Parte do problema pode muito bem ser a confusão causada por relatos frequentes de evidências conflitantes sobre o que aumenta –ou diminui– as chances de uma mulher desenvolver câncer de mama, desde os medicamentos que ela usa até os alimentos e bebidas que consome.

Ilustração de uma mulher com luvas de boxe fazendo o movimento de um soco
Medicações e estilo de vida podem diminuir o risco de câncer de mama - Gracia Lam/The New York Times

Outro fator inibidor é a quantidade limitada de tempo que os médicos podem dedicar para avaliar o risco de câncer de mama em uma mulher e explicar as complexas compensações envolvidas na prevenção da doença.

Em relatório publicado no JAMA (Jornal da Associação Médica Americana, em português) em 2020, especialistas da Universidade da Califórnia em San Francisco revisaram evidências convincentes de duas classes de medicamentos normalmente prescritos após o tratamento do câncer de mama que também podem ajudar a prevenir o câncer em algumas mulheres ainda não afetadas pela doença.

Uma classe consiste em duas drogas, tamoxifeno e raloxifeno, que inibem a ação do estrogênio em tecidos seletivos. A outra inclui três inibidores da aromatase –anastrozol, exemestano e letrozol– que reduzem os níveis de estrogênio circulante, que poderiam estimular o crescimento de câncer de mama sensível ao estrogênio.

Se uma mulher pode considerar tais drogas depende em parte de suas opções de vida e seu histórico médico.

Embora algumas mulheres prefiram ignorar as evidências existentes e continuar fazendo o que gostam, independentemente do risco associado, especialistas dizem que elas devem pelo menos ser capazes de pesar suas opções de comportamento contra um risco maior de câncer de mama.

Suas decisões também devem considerar seu histórico de saúde pessoal e as doenças que ocorrem em suas famílias, às quais também podem ser suscetíveis.

O consumo de álcool é um exemplo clássico. Mesmo uma pequena quantidade de álcool – menos de uma bebida por dia – pode aumentar o risco de câncer de mama, e quanto mais uma mulher bebe maiores são suas chances de desenvolver a doença. Uma amiga recém-tratada de um câncer de mama em estágio inicial parou de beber vinho, o que resultou em perda de peso, que também pode reduzir o risco de um câncer de mama novo ou recorrente.

Em relação ao fumo não há benefício para a saúde, apenas risco –para seus seios, bem como para todos os principais órgãos e sua vida.

Outro risco modificável do câncer de mama é o excesso de peso, especialmente após a menopausa, quando a gordura corporal se torna a principal fonte de hormônios promotores do câncer. A boa notícia é que as duas medidas que podem ajudar a reduzir o peso –dieta saudável e atividade física regular– também protegem contra o câncer de mama e reduzem o risco de doença cardíaca.

Esforce-se para fazer uma dieta baseada principalmente em vegetais, frutas, grãos integrais, feijões e nozes; fontes saudáveis de gorduras como azeite e óleo de canola; e peixe em vez de carne vermelha. E inclua um mínimo semanal de duas horas e meia de atividade física moderada, ou 75 minutos de atividade vigorosa, além de treinamento de força duas vezes por semana.

Infelizmente, dois fatores de proteção há muito conhecidos –a gravidez precoce (na adolescência e na faixa dos 20 anos) e a amamentação prolongada– vão contra os objetivos de vida de muitas mulheres modernas que querem obter diplomas de pós-graduação e progresso profissional, bem como mulheres jovens financeiramente incapazes de sustentar uma família.

Muitas mulheres mais velhas se deparam com outra decisão confusa e controversa: se e por quanto tempo tomar a terapia hormonal para combater os sintomas da menopausa, que perturbam a vida.

Exceto no caso de uma história anterior de câncer de mama, o conselho atual para mulheres que não fizeram histerectomia é fazer terapia hormonal combinada (isto é, estrogênio e progestina) por um período tão curto quanto necessário para controlar os sintomas, mas não mais do que alguns anos.

Outro estudo, também publicado em 2020 no JAMA, descreveu os efeitos em longo prazo de risco de câncer de mama entre 27.347 mulheres na pós-menopausa, aleatoriamente designadas para fazer ou não reposição hormonal. Os autores, liderados por Rowan T. Chlebowski no Centro Médico da Universidade da Califórnia em Los Angeles, revisaram o estado de saúde das mulheres participantes mais de duas décadas depois.

Entre as 10.739 mulheres que não tinham útero e podiam tomar estrogênio sozinho com segurança (a progestina é normalmente adicionada para prevenir o câncer uterino), a terapia hormonal na menopausa reduziu seu risco de desenvolver e morrer de câncer de mama. No entanto, entre as 16.608 mulheres com útero que fizeram a terapia hormonal combinada, a incidência de câncer de mama foi significativamente maior, embora não tenha havido aumento do risco de morte pela doença.

Ao comentar esses resultados, Christina A. Minami, cirurgiã de câncer de mama no Brigham and Women's Hospital, e Rachel A. Freedman, oncologista no Dana-Farber Cancer Center, escreveram que as novas descobertas "não devem levar ao uso de terapia hormonal com o único objetivo de reduzir o risco de câncer de mama".

Mas Freedman disse em uma entrevista: "Se eu estiver aconselhando uma paciente que está realmente infeliz com os sintomas da menopausa e é candidata apenas ao estrogênio, essas descobertas garantem que seu risco de câncer de mama não será maior ao longo do tempo".

Depois, há a possibilidade de tomar um medicamento diário para suprimir um potencial câncer de mama em mulheres de alto risco que ainda não tiveram a doença.

O doutor Jeffrey A. Tice, internista na Universidade da Califórnia em San Francisco, sugeriu que os médicos das mulheres usassem uma das várias calculadoras de avaliação de risco para determinar a probabilidade de a paciente desenvolver câncer de mama nos próximos cinco ou dez anos.

A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos concluiu que os benefícios da medicação superam os riscos para mulheres na pós-menopausa com 3% ou mais de probabilidade de receber um diagnóstico de câncer de mama dentro de cinco anos.

A partir dos 40 anos, mulheres mais jovens com forte histórico familiar de câncer de mama e aquelas que tiveram resultados pré-cancerosos em uma biópsia de mama devem considerar a terapia medicamentosa preventiva, como sugeriram Tice e Yiwey Shieh no JAMA.

Tice disse que as mulheres entre os 5% com maior risco de câncer de mama para sua idade também podem avaliar o benefício da terapia preventiva e seus possíveis riscos, que podem incluir coágulos sanguíneos ou perda óssea, dependendo do medicamento usado.

"Cinco anos de terapia podem reduzir o risco de câncer de mama por até 20 anos", relatou ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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