Ter problemas digestivos pode tornar os jantares de fim de ano um campo minado

Entregar-se durante a época pode piorar sintomas, mas especialistas têm dicas para navegar pela temporada

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Fortesa Latifi
The New York Times

Harrison Kefford está finalmente ansioso pelas festas de fim de ano, mais uma vez. Depois de ter seu cólon removido em fevereiro, ele mal pode esperar para comer o pudim de sua avó e encher o prato com algo diferente de peru simples no Dia de Ação de Graças. Talvez ele até aceite um pouco de molho espesso com a refeição.

Kefford, um motorista entregador de pizzas de 28 anos e criador do TikTok que mora em Melbourne, na Austrália, tem a doença de Crohn, uma condição que muitas vezes lhe causava fortes dores intestinais, náuseas e perda de apetite durante dias a fio.

Ele é uma das mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo diagnosticadas com doença inflamatória intestinal (DII), que inclui doença de Crohn e colite ulcerativa. Cerca de 11% da população global enfrenta uma condição gastrointestinal de definição mais ampla, chamada síndrome do intestino irritável (SII), que tem uma ampla gama de causas e inclui sintomas como gases, inchaço, constipação e diarreia.

Mãos brindando em mesa de ceia
As ceias de Natal e Ano Novo podem trazer alguns gatilhos para pessoas com problemas digestivos - Adobe Stock

SII e DII são doenças distintas com tratamentos separados, mas os desafios diários podem ser semelhantes. Alimentos processados ou com alto teor de gordura –e, entre outras coisas, nozes, laticínios e bebidas alcoólicas frequentemente servidas nas festas– são gatilhos comuns para pessoas com ambas as condições.

Antes de Kefford passar por uma colostomia, as festas eram cheias de minas terrestres. Um ano, ele se lembra de ter tomado esteroides para ajudar a aliviar os sintomas antes do jantar de Natal com sua família. Ele pensou que a medicação tivesse funcionado, até que acordou às 3h com dor de estômago. Acabou hospitalizado durante sete dias.

Sneha Dave, uma jovem de 24 anos de Greenfield, em Indiana, foi diagnosticada com colite ulcerosa quando tinha 6 anos e vive com uma bolsa interna que permite que as fezes passem pelo intestino delgado. Dave, que fundou uma organização dedicada a jovens com doenças crônicas, chamada Generation Patient, está ciente de seus gatilhos culinários, mas quando ela celebra o Diwali com sua família, todo mês de outubro, ainda é tentada por alguns de seus pratos indianos favoritos, aromatizados com especiarias que agravam sua condição.

Ao aproveitar a alegria de estar com a família, uma indulgência "não parece tão séria", disse ela. "Até que você esteja sozinho e sofrendo as consequências dessas decisões."

Se alguém está controlando os sintomas há anos ou foi diagnosticado recentemente, as condições gastrointestinais podem exigir atenção constante. E embora os planos de festas sejam perturbadores para a maioria –com noitadas, comida à vontade, longas viagens e tempo social intenso–, as consequências costumam ser maiores para pessoas com DII e SII. Abaixo, especialistas compartilharam estratégias para ajudar a navegar na temporada.

Como lidar com SII e DII durante as festas de fim de ano

Prepare-se para uma pequena interrupção

Muitos pacientes com doenças crônicas apresentam piora dos sintomas durante as férias porque houve uma mudança na rotina, disse a doutora Fola May, gastroenterologista e professora assistente de medicina na Universidade da Califórnia em Los Angeles. "Novembro e dezembro são as épocas em que tendemos a nos desviar de nossos hábitos, como alimentação saudável e exercícios", disse ela. Mesmo viajar pode estar associado a um aumento dos sintomas.

Para começar, a doutora May recomendou que os pacientes se certifiquem de viajar com medicação suficiente e saibam como contatar seus médicos, se necessário.

Desenvolva um plano para gerenciar o estresse

Há evidências de que o estresse pode agravar os sintomas da DII e da SII, disse May. E as férias estão cheias de estressores.

Agendar o tempo de inatividade antes e depois de festas ou viagens pode ajudar a evitar possíveis sintomas. A doutora May recomenda atividades de atenção plena, como meditação, ioga e massagem com aromaterapia.

Recrute ajudantes

Shay Habestroh, uma criadora de conteúdo de 25 anos de Rochester, em New Hampshire, disse que experimentou surtos de DII nas festas ao tentar participar de todas as atividades familiares. Para combater isso, ela conta ao marido quando não se sente bem, e ele repassa a mensagem para a família. "É bom porque eles ouvem isso de outra pessoa saudável, então ouvem um pouco melhor", disse ela.

Pedir ajuda é uma parte importante para se sentir preparado para as festas, disse Catalina Lawsin, terapeuta de Los Angeles que dirige grupos de apoio para pessoas com DII e SII. "Você não precisa contar tudo a eles. Só precisa ter alguém a quem possa recorrer quando precisar de espaço ou de reforço. É identificar alguém em quem você realmente pode confiar."

Esteja atento aos gatilhos alimentares (e leve suas próprias guloseimas)

Habestroh aprendeu a evitar qualquer coisa com milho e leite, o que pode eliminar muitos pratos festivos. Seus alimentos seguros para o Dia de Ação de Graças são peru simples, purê de batatas e abóbora.

Beth Morton, 43, de Vermont, administra sua SII levando seus próprios pratos para as reuniões de fim de ano. Trabalhando com nutricionistas, ela descobriu que alho e cebola são seus maiores gatilhos e aprendeu a cozinhar sem eles. "Encontrei substitutos que acho que têm o mesmo sabor", disse.

Estar ciente de seus gatilhos, no entanto, não significa que você sempre será capaz ou estará disposto a evitá-los. Às vezes, entrar no espírito festivo inclui comer algo que cause desconforto. A doutora May sugeriu que qualquer pessoa que se desvie de sua dieta normal "o faça com moderação", acrescentando que mesmo a moderação pode resultar em alguns dias difíceis.

Crie um roteiro de jantar

Habestroh disse que evitar certos alimentos pode deixá-la aberta a comentários não solicitados –especialmente no Dia de Ação de Graças, festa que geralmente gira em torno da alimentação. "A atenção é difícil", disse ela. "Todo mundo quer saber de tudo, e você fica quase com vergonha de falar sobre isso." Criar uma resposta que você ensaia com antecedência pode aliviar o desconforto, disse a doutora Lawsin.

Morton, que tem SII e às vezes leva suas próprias refeições para reuniões sociais, responde às perguntas dizendo: "Tenho que evitar certos alimentos para controlar os sintomas, então preparei algo diferente". Sua família imediata está acostumada com suas substituições, ela disse, mas às vezes ela ouve perguntas de parentes.

Seja gentil consigo mesmo durante toda a temporada

Mesmo se você aderir à sua dieta e rotina, ainda poderá ter surtos de festas. Essa é a natureza da doença crônica. Para combater qualquer vergonha ou desapontamento, a doutora Lawsin sugeriu praticar empatia e bondade. "Reconheça seu corpo como ele é", disse ela. "Ter compaixão antes, durante e depois é a melhor coisa que você pode fazer."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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