Descrição de chapéu The New York Times

Estresse pode deixar os cabelos grisalhos? Estudos sugerem que sim, mas evidências são poucas

Levantamentos mostram que o hormônio norepinefrina foi relacionado, em alguns casos, ao aparecimento de fios brancos

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Sarah Klein
The New York Times

Associar o surgimento de cabelos grisalhos ao estresse, quando, por exemplo, se passa por um momento difícil e aparecem novos fios, é comum. Basta olhar para os vários presidentes que deixaram o cargo com muito mais fios prateados do que quando entraram.

Mas existem poucos estudos sobre o assunto. E, por mais que alguns desses levantamentos até tenham encontrado associações entre envelhecimento prematuro e estresse, nenhuma pesquisa provou, de fato, essa ligação.

"Ainda há muita coisa que não sabemos", afirma Paradi Mirmirani, dermatologista do Kaiser Permanente Vallejo Medical Center, no norte da Califórnia (EUA).

A imagem mostra o perfil de uma mulher com cabelo longo e grisalho, que cai suavemente sobre os ombros. Ela está olhando para baixo, com uma expressão serena. A luz incide sobre seu cabelo, destacando os fios prateados. O fundo é neutro e desfocado.
Alguns estudos relacionam o aparecimento de cabelos brancos com estresse - Joyce Lee/The New York Times

A ciência do estresse e dos cabelos grisalhos

Em estudos anteriores, pesquisadores pediram aos participantes que preenchessem questionários sobre a cor do cabelo e os níveis de estresse, e então os cientistas verificaram se era possível relacionar os dois.

Um trabalho publicado em 2016, por exemplo, em que cientistas entrevistaram mais de mil jovens adultos turcos, foi descoberto que os 315 que relataram cabelos grisalhos prematuramente tinham níveis mais altos de estresse do que aqueles que não tinham —mas aqueles com cabelos grisalhos prematuros também tinham histórico de uso de álcool, doenças crônicas e pais que ficaram grisalhos ainda jovens.

Em 2020, pesquisadores realizaram um outro estudo em que camundongos estressados de várias maneiras, incluindo com a injeção de uma substância química semelhante à pimenta, que induziu uma resposta de "luta ou fuga", fez com que os animais liberassem o hormônio do estresse norepinefrina, que, por sua vez, esgotou os folículos capilares das células-tronco envolvidas na adição de pigmento ao pelo do camundongo. O cabelo então cresceu em cinza.

Pesquisadores também demonstraram efeitos semelhantes de altos níveis de norepinefrina em células-tronco humanas em um laboratório, complementando a ideia de que o hormônio do estresse está relacionado ao envelhecimento em humanos, diz Ya-Chieh Hsu, professor de células-tronco e biologia regenerativa na Universidade de Harvard e um dos autores desta pesquisa.

Mas estudos sobre esse tópico são desafiadores para serem realizados em pessoas porque os pesquisadores não podem eticamente induzir respostas artificiais de alto estresse em humanos como podem em animais ou células, completa Hsu.

Publicado em 2021, um estudo menor feito com humanos conseguiu avançar na narrativa. Nele, os pesquisadores arrancaram vários fios de cabelo de 14 voluntários que tinham pelo menos algum grisalho. Vários fios estavam totalmente grisalhos, alguns estavam parcialmente e outros não tinham grisalho nenhum. Os cientistas então criaram imagens digitais de alta resolução dos fios e calcularam quando cada um perdeu a pigmentação usando estimativas de quão rápido o cabelo cresce.

Eles também pediram aos participantes para traçar experiências estressantes do ano anterior em uma linha do tempo e classificá-las da menos para a mais angustiante. Os pesquisadores descobriram que quando um fio ficava grisalho frequentemente correspondia ao momento mais estressante do ano anterior daquele voluntário.

Esta foi a primeira vez que um estudo relacionou eventos estressantes específicos com o momento exato em que o cabelo começou a ficar grisalho, afirma Martin Picard, professor associado de medicina comportamental na Universidade de Columbia e autor do estudo.

Ela ofereceu "nossa primeira evidência real de que talvez o estresse de fato tenha um papel para algumas pessoas", diz Victoria Barbosa, professora associada de dermatologia na Universidade de Chicago.

Se essa pesquisa preliminar continuar a identificar mudanças relacionadas ao estresse que causam o embranquecimento do cabelo, isso pode um dia levar a tratamentos que podem repigmentar o cabelo, completa Mirmirani. Mas ainda precisamos de mais e maiores estudos humanos para confirmar as ligações, afirma Barbosa.

Pesquisas futuras também podem ajudar a explicar por que o estresse está relacionado ao envelhecimento dos cabelos em algumas pessoas, mas não em outras, informa Sindhuja Sominidi Damodaran, dermatologista da Clínica Mayo em Rochester, no estado de Minnesota.

Também é muito cedo para saber se aliviar o estresse pode retardar ou reverter o envelhecimento prematuro.

Outras causas de cabelos grisalhos

Para a maioria das pessoas, a genética é o principal fator para o embranquecimento dos cabelos, afirma Barbosa. Se um dos pais ficou grisalho quando jovem, é provável que o filho também fique.

Certas condições médicas podem fazer com que o cabelo perca pigmento prematuramente, completa Barbosa. Elas incluem vitiligo, que faz com que manchas na pele percam a cor, e alopecia areata, um tipo de perda de cabelo. Uma tireoide hiperativa ou hipoativa e tratamentos de quimioterapia também podem contribuir para o envelhecimento prematuro, diz Damodaran. Deficiências em ferro, cálcio e vitaminas B12 e D também estão correlacionadas com o envelhecimento precoce, diz, assim como obesidade e tabagismo.

Barbosa afirma que gosta de usar o envelhecimento como uma oportunidade para conversar com seus pacientes sobre a aceitação da idade como uma parte natural. Isso pode ser especialmente libertador para as mulheres, afirma, já que "os cabelos grisalhos sempre foram socialmente mais aceitáveis para os homens".

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