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Perda cognitiva pode estar ligada a problemas auditivos
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STEPHANIE KUYKENDAL
DO "NEW YORK TIMES"
Recentemente, em um evento para levantar fundos para uma revista literária, eu me vi conversando com um conhecido autor cujo trabalho admiro muito. Eu uso a palavra "conversando" em um sentido amplo. Eu não conseguia escutar nenhuma de suas palavras. E, pior, o esforço que eu fazia para escutar gastava tanta energia cerebral que eu esqueci os títulos dos livros que ele tinha escrito.
Um momento geriátrico? Talvez (eu tenho 65 anos). Mas, para mim, a situação é mais complicada porque tenho uma perda de audição grave, apenas ligeiramente atenuada por um aparelho auditivo e um implante de cóclea.
O doutor Frank Lin, um otorrinolaringologista e epidemiologista da Escola de Medicina Johns Hopkins, em Maryland, descreve esse fenômeno como "sobrecarga cognitiva". Essencialmente, o cérebro está tão preocupado em traduzir os sons em palavras que parece não ter mais poder de processamento para procurar uma resposta.
Nos últimos anos, o doutor Lin trouxe más notícias para nós que temos perda auditiva.
Em um trabalho de 2011 publicado no "The Archives of Neurology", ele e colegas revelaram uma forte associação entre a surdez e a demência.
"Comparados com indivíduos com a audição normal, os que têm perda auditiva branda, moderada e severa tinham respectivamente um risco duas, três e cinco vezes maior de desenvolver demência ao longo do estudo", escreveu o doutor Lin em um e-mail, resumindo os resultados. Quanto pior a perda auditiva, maior o risco.
O médico discutiu algumas explicações possíveis para essa associação. A primeira é o isolamento social. Outra é a sobrecarga cognitiva. Uma terceira é algum processo patológico que causa tanto a surdez quanto a demência.
Em um trabalho publicado recentemente na revista "Neurology", John Gallacher e colegas da Universidade de Cardiff, no País de Gales, sugeriram a possibilidade de que uma patologia degenerativa que leva à demência poderia ser a causa da perda de audição.
Outra pesquisa descobriu uma associação entre a surdez e outra condição imprevista: a doença cardiovascular.
Uma causa patológica comum poderia ajudar a explicar por que os aparelhos de audição não parecem reduzir o risco de demência. Mas as pessoas que têm perda auditiva esperam que não seja o caso. O senso comum sugere que, se você não tiver que se esforçar tanto para ouvir, poderá prestar mais atenção e compreender.
Um fator crítico talvez seja o modo de utilização dos aparelhos auditivos. O usuário deve praticar para maximizar sua eficácia, e às vezes os aparelhos precisam ser reprogramados por um audiologista. Cada vez mais pessoas compram aparelhos auditivos pela internet ou em grandes lojas, o que dificulta o acompanhamento do usuário. No primeiro ano em que usei aparelhos, eu ia ao audiologista a cada 15 dias.
Em um estudo, o doutor Lin e seu colega Wade Chien descobriram que apenas um em cada sete adultos que precisavam de aparelhos auditivos os utilizavam.
Um fator de dissuasão é o preço (de US$ 2.000 a US$ 6.000 por ouvido), raramente coberto pelo seguro-saúde. Outro é o estigma da velhice.
Para a maioria das pessoas que têm perda auditiva, segundo o Instituto Nacional de Surdez e outros Distúrbios da Comunicação dos EUA, a condição começa muito antes da velhice.
Quase dois terços dos homens com perda auditiva começam a ter o problema antes dos 44 anos. O meu começou quando eu tinha 30.
Se puder ser provado em um teste clínico que os aparelhos de surdez podem ajudar a retardar ou evitar a demência, os benefícios seriam incomensuráveis.
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