Com má fama, PMMA não deveria ser usado para fins estéticos, dizem médicos

Bancária morreu no RJ sob suspeita de complicação após aplicação do produto

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São Paulo

Não é de hoje que o PMMA (polimetilmetacrilato) carrega má fama, mas a substância continua causando complicações graves.

No domingo (15), a bancária Lilian Calixto, 46, morreu após complicações em cirurgia realizada pelo médico Denis Cesar Barros Furtado, 45, conhecido em redes sociais como Doutor Bumbum. Além de não ter formação em cirurgia plástica, o médico, que está foragido, realizou o procedimento em sua casa, o que é proibido.

A suspeita é que ela tenha sofrido uma embolia pulmonar devido à aplicação da substância PMMA (polimetilmetacrilato) para preenchimento estético no glúteo.

Pessoa de luva branca, suga com uma agulha o conteúdo de um recipiente
O PMMA (polimetilmetacrilato) não é recomendado pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) para fins estéticos - Rafael Andrade/Folhapress

De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o PMMA pode ser usado em procedimentos estéticos para corrigir rugas e restaurar pequenos volumes perdidos de tecidos com o envelhecimento. 

Mas nem a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) nem a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) recomendam o uso do produto para fins estéticos. Segundo médicos das entidades, a exceção seria o uso do preenchimento facial em pessoas com HIV/Aids, para corrigir a lipodistrofia causada pelos medicamentos, indicação prevista pela Anvisa em portaria de 2009.

Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), quando usado em grandes quantidades, o PMMA não é seguro, tem resultados imprevisíveis a longo prazo e pode causar reações incuráveis, como inflamações, nódulos, necrose e até a morte. 

No censo de 2017 da SBCP, a entidade incluiu pela primeira vez dados sobre as sequelas dos implantes com PMMA devido ao aumento no número de complicações. Em 2016, foram feitas 4.432 cirurgias plásticas para corrigir defeitos decorrentes da aplicação da substância, de um total de 664.809 operações reparadoras.

O total de complicações, porém, é bem maior, segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica "“ Regional São Paulo (SBCP-SP). No mesmo ano de 2016, houve mais de 17 mil registros em todo o país.

Para a maioria dos cirurgiões plásticos ouvidos pela entidade, o produto deveria ter seu uso e  comercialização banidos do mercado nacional.

Em 2006, o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a SBCP já haviam se manifestado sobre o assunto, condenando a utilização indiscriminada. Em 2007, após ampla discussão, a Anvisa proibiu a manipulação da substância em farmácias.

"Há vários produtos biocompatíveis e seguros, como o ácido hialurônico, que faz parte do corpo e é absorvível. O PMMA é barato, definitivo e traz um monte de riscos, mas as pessoas se enganam pelo sonho, pela mentira, pela fantasia", diz Níveo Steffen, presidente da SBCP. 

O material é permanente, ou seja, não é absorvido pelo corpo, e pode causar deformações, inflamações, necrose e até a morte. 

"Imagine se você coloca essa substância solta num tecido como a região glútea. Você levanta, senta, anda, se mexe, e o organismo reage àquilo como um corpo estranho, provocando uma reação inflamatória", diz ele.

Para médicos, a autopromoção agressiva em mídias sociais aumenta o risco de problemas do tipo. 

"Pacientes estão se deixando levar por médicos blogueiros. A participação nas redes é legítima, mas o conteúdo tem que ser ético e educativo. Parece que quem mais posta está mais atualizado", diz Sergio Palma, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

"As redes sociais estão descaracterizando a valorização do profissional correto. Hoje não é a formação que conta, mas quantas visualizações a pessoa teve em seu Instagram", diz Elvio Bueno Garcia, presidente da SBCP-SP. "Estou cansado de ver gente esclarecida com poder aquisitivo alto tomando decisões erradas, utilizando critérios de escolha equivocados."

Os médicos lembram que, para se certificar da procedência do médico, é recomendável verificar seu nome nos sites da SBCP e da SBD

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