Como se reconciliar com a família e os amigos após as eleições?

É preciso, em primeiro lugar, respeitar o fato de que as pessoas podem ter opiniões diferentes

São Paulo

Com o fim das eleições de 2018, que geraram brigas, discussões acaloradas e até rompimentos, será possível fazer as pazes com familiares e amigos que estejam do outro lado, seja qual lado for?

Para Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Br (International Stress Management Association), o primeiro passo é lembrar que cada um tem o direito de ter sua própria opinião e respeitá-lo. 

“Cada pessoa tem seu banco de dados pessoal e o direito de tomar decisões de acordo com sua própria percepção de realidade e pode divergir de você”, afirma.

Preste atenção também nas possíveis armadilhas inconscientes. Às vezes, uma discussão sobre política está encobrindo divergências ou outras questões familiares.

Depois, avalie a importância que a pessoa com quem você brigou tem na sua vida. “Isso independe de parentesco ou amizade, até porque muitas vezes os parentes estão mais distantes do que certos amigos.

 

Se você quer manter a pessoa na sua vida, tem que fazer algo para mudar essa situação.”

Combinação de rostos das eleições de 2018 - AFP

Tomar a iniciativa de se aproximar é um gesto de grandeza, segundo Rossi. Se houve insultos, pedir desculpas por eventuais excessos no calor do momento só é algo possível para quem é forte, tem uma boa autoestima e não vai se importar com o que o outro vai pensar. Quem tem baixa autoestima pode achar que vai se diminuir. 

“É preciso ter em mente que o pedido de desculpas pode ou não ser aceito e que não se deve fazê-lo com o intuito de reciprocidade, esperando que o outro também se desculpe. É sobre você, sobre aquilo que você pode controlar, para ficar bem com a sua própria consciência, e não sobre a outra pessoa.”

Só você e as pessoas com quem você discutiu vão saber dizer se a briga merece ser depurada ou se o ideal é colocar uma pedra em cima e seguir em frente. Muitas vezes, a melhor solução é evitar falar de política, procurar assuntos mais amenos e virar a página. Para muitas pessoas, o tema é sensível e tem uma importância grande, e qualquer discussão pode acirrar demais os ânimos por causa das discordâncias. 

“Costumo dar um pequeno anzol dourado para os meus pacientes para lembrá-los de não serem atraídos e manipulados para entrarem em polêmicas. É mais fácil fugir do anzol do que sair após ser fisgado, mas isso requer disciplina mental.”

Se houver persistência do outro lado para entrar na discussão, deixar o recinto pode ser melhor do que começar um debate que possivelmente sairá sem nenhum vencedor.

“Muitas vezes ficamos tristes quando as coisas não acontecem do jeito que gostaríamos, quando as pessoas queridas ao nosso redor não pensam como nós, mas é preciso empatia para se colocar no lugar do outro e pensar que ele também pode estar triste por você não pensar como ele.”

Para Rossi, essa eleição está sendo tão atípica que é impossível prever se os ânimos devem se acalmar logo após o resultado, terminado o período de disputa nas urnas.

“É uma eleição essencialmente emocional, com muito amor e muito ódio. Não acho que essa transição será tão rápida, porque quem ganhar pode querer se impor, e quem perder vai sofrer uma frustração muito grande. É preciso um período de maturação e reflexão para todo mundo se dar conta de que a vida continua”, afirma Rossi. Afinal, o Natal e o Ano Novo daqui a pouco estão aí. 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.