Academia aposta em treinos à base de pulos com molas nos pés

Aulas, que duram uma hora, são agendadas por app e planos vão de R$ 50 (aula avulsa) a R$ 349 por mês

Gabriel Alves
São Paulo

Academias especializadas estão na moda. Há unidades apenas para spinning, outras só para exercício funcional ou até as especializadas em terceira idade. Agora, uma academia recém-inaugurada em São Paulo resolveu chamar a atenção nesse mercado disputado com aulas com botas que têm uma espécie de mola em sua base que ajudam a propulsionar os usuários em aulas de ginástica funcional, dança e até corrida. 

Para quem como eu não morre de amores pela musculação e procura variação, brincar de canguru parece divertido. Fortalecer membros inferiores, além de abdominais e outros músculos importantes para o equilíbrio seriam alguns dos benefícios.

As botas Kangoo Jumps não são exatamente uma novidade. Elas existem há pelo menos uma década, mas não tinham uma academia para chamar de sua. A empresária Viviane Laginha então se juntou ao casal Fabiana e Julio Neves, que comercializa o calçado no Brasil, para abrir o estúdio SpringFit. Desembolsaram cerca de R$ 300 mil.

Segundo Laginha, as botas são higienizadas periodicamente, mas é possível comprar seu próprio par por R$ 1.000 ou parte interna da bota, de tecido, das botas, por pouco mais de R$ 100.

À aula: começa com uma explicação rápida de como calçar a bota e, muito importante, como sair do chão e ficar em pé. Eu não consegui levantar do jeito demonstrado graças à uma fraqueza na perna direita, mas arrumei um outro caminho e me ergui com as pernas esticadas. Já duvidei da história de que a modalidade seria amigável para pessoas com problemas nas articulações. 

Não leva muito, porém, para se acostumar. A dica é não ficar parado e andar de um lado para o outro e saltitar. É prudente economizar energia.

“Você consegue fazer os movimentos, mas tem que dosar o gás. Eu tive que me controlar para não desmaiar”, disse o arquiteto Cássio Vinícius Pereira, 35, que já estava em seu quarto treino na modalidade. Uma pena eu ter recebido o conselho só depois da aula.

O treino é dividido em duas partes. Na primeira, ao som de versões eletrônicas de músicas do mundo pop, o professor Adan Conceição explica com o auxílio de um microfone (mesmo assim nem sempre dá para entender) o que se deve fazer: saltos em todas as direções ou elevação de joelhos —sem contar o esforço do corpo para se manter equilibrado em uma mola a 15 cm do chão.

Foi difícil acompanhar com fidelidade os movimentos vistosos do professor. Boa parte dos alunos, como eu, fazia versões ligeiramente mais tímidas, sem saltos tão longos ou chutes tão altos (senti um pouco de instabilidade no joelho, achei melhor não abusar muito).

Depois de um pouco menos de meia hora de atividade, tiramos as botas: era hora da parte de exercícios funcionais da aula. “Ninguém aguenta uma hora inteira com as botas naquela intensidade”, diz Adan, 25, e que ensina a modalidade há cinco anos. Para o circuito daquele dia, o professor preparou alguns movimentos que incluíam agachamento, flexões e uma espécie de remada a 45º. 

O pouco de energia que me restava acabou no meio da segunda parte, mas Nikaeelly Loiola, 34, estudante de educação física (e ex-gordinha), não parecia ter qualquer dificuldade, embora estivesse apenas na segunda aula. Ela, que já passou por step, zumba e jump, afirmou ter adorado a novidade. “É uma aula boa para quem não tem tempo, só uma hora, fácil de encaixar na agenda. Para as pessoas que não gostam de musculação, é uma boa alternativa.”

Laginha diz que a modalidade serve para todos, independentemente de idade ou biotipo. Cássio começou as aulas ao mesmo tempo que o pai, Ideraldo, 59, e, no treino que fiz, havia uma mulher, que aparentava estar perto dos 50 anos, se esforçando bastante. “A gente não quer criar estereótipos de beleza, mas incentivar hábitos saudáveis.”

Empresário no ramo fitness há quatro décadas, Waldyr Soares avalia como promissora a iniciativa da SpringFit, mas sugere que o público-alvo deve ser mais jovem. “Acho que velho não vai querer fazer, só quem tem até uns 30, 40 anos. É uma alternativa legal fortalecer as pernas brincando —você parece uma girafa andando com aquele negócio. As pessoas não querem mais puxar ferro (que é um pé no saco), elas querem a experiência do bem-estar, e o Kangoo é compatível com essa revolução.”

Já Rodrigo Sangion, da badalada academia paulistana Les Cinq Gym, não é tão otimista: “Não vejo como uma tendência. Já teve sua época.”

O plano, depois de estabelecer a matriz, diz Laginha, é expandir a rede por meio de franquias. Os alunos devem reservar vaga no horário desejado por meio de um app. No espaço, cabem até 45 pessoas por vez. 

Hoje, uma aula avulsa custa R$ 50 e um pacote com duas aulas semanais, R$ 249 por mês, o plano mais procurado (por mais R$ 100, o aluno pode pular à vontade). Além da modalidade funcional, existe uma versão de dança (um pouco menos intensa, na qual as botas são usadas por uma hora inteira) e a de corrida na rua.

Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas, explica que é importante que exista oferta de um grande número de modalidades de atividade física, o que aumenta a chance de as pessoas encontrarem alguma com a qual se identifiquem. 

“Há uns 15 anos o profissional de educação física passou a ter uma atuação mais direta na saúde pública, envolvendo-se em políticas públicas, seja na criação de ciclovias ou dando aulas para comunidade em programas de governo. Nesse contexto, quanto mais diversidade for ofertada, melhor. Tem gente que gosta de futebol, aeróbica, step, musculação… Vai ter gente que vai gostar de ficar pulando na botinha. Eu nunca pulei, mas deve ser divertido”, diz Hallal.

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