Mudanças bruscas de comportamento, abuso de substâncias e irritabilidade. Se essa descrição corresponde a alguém próximo a você, talvez essa pessoa precise de ajuda de um profissional de saúde mental.
Segundo Rodrigo Leite, coordenador dos ambulatórios do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da USP, ninguém sabe muito bem como se comportar no momento em que se depara com uma situação como essa.
Mas a primeira coisa a se fazer é prestar atenção ao início dos sintomas. "Não precisa esperar a pessoa quebrar a casa inteira para ver que tem algo errado", diz Leite. "Os transtornos não começam do dia para a noite. Seguem um curso, que começa com alterações mais leves, que, se não são tratadas, vão evoluindo para alterações comportamentais mais grosseiras."
As mudanças de padrão de comportamento estão entre os primeiros sinais perceptíveis do declínio da saúde mental. É o caso de uma pessoa expansiva que se torna muito retraída.
"Você nota que a pessoa procura se manter mais afastada e evita diálogo", diz Elko Perissinotti, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. "Algo do tipo 'não me encha o saco'."
Em crianças e adolescentes, mudanças em rendimento escolar também podem apontar uma série de problemas, entre eles questões de saúde mental. Da mesma forma, em adultos, o déficit de performance pode ser um sinalizador de que algo está errado. Nos idosos, esquecimentos e dificuldades com atividades do dia a dia também são sinais de alerta.
"Se a pessoa começa a ficar muito explosiva e irritadiça diante de problemas mínimos, os quais já provocam uma hostilidade, isso também é um dado importante", diz Leite. Não se deve ignorar, por fim, a expressão de ideias de que não vale a pena viver ou pensamentos explicitamente suicidas.
A busca por ajuda nesses casos nem sempre é fácil, considerando os preconceitos envolvidos com a saúde mental. Por isso, o apoio e a conversa com pessoas próximas podem ajudar quem está com dificuldades.
Uma coisa importante é evitar o julgamento dos sentimentos de quem se encontra em dificuldade. Outro passo é buscar mostrar que há serviços de saúde, tanto públicos quanto privados que podem ajudar —o que pode ser importante para a sensação de acolhimento e definição do que fazer.
Criar uma rede de apoio com pessoas queridas também pode ser eficaz para ajudar no direcionamento a um profissional de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras.
Consultar um especialista e contar os detalhes do caso também podem ser táticas interessantes para criar um plano de ajuda para a pessoa.
Segundo Perissinotti, por conta do medo das pessoas, pode haver resistência na procura de profissionais de saúde mental. Por isso, em um primeiro momento, tentar levar a pessoa a médicos de outras especialidades, como clínicos gerais e neurologistas, pode abrir o caminho para o tratamento adequado.
Por ainda ser um tema delicado, as tentativas podem não dar resultado. Quem está tentando ajudar deve tomar cuidado para não desenvolver sentimentos de culpa relacionados à resistência, diz Perissinotti.
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