O que fazer se batem no seu filho? Em 1º lugar, não dizer para bater de volta

Caso de Brasília mostra que dificuldade para lidar com conflitos atinge pais e filhos

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São Paulo

Crianças brigam entre si, dão mordidas umas nas outras, lidam com a raiva e a frustração de uma maneira primitiva. Afinal, seus cérebros ainda estão amadurecendo, o controle dos impulsos tem de ser aperfeiçoado e elas precisam aprender que o mundo não deve(ria) se resolver na base da pancada. 

É consenso entre especialistas que cabe aos pais, portanto, ensinar essa lição —o contrário do que demonstraram os pais de um menino de seis anos em Brasília ao segurarem uma criança para 
que seu filho batesse nela.

As cenas foram gravadas no dia 9 de dezembro pelo circuito interno de um condomínio de Brasília. As crianças jogavam futebol no prédio até o momento em que o filho do casal sofre uma queda depois de tentar tirar a bola de outro menino. Em seguida, a criança que estava caída é levada 
por um adolescente ao pai. 

Polícia do DF investiga homem que segurou criança para que filho a agredisse; caso envolvendo garoto de 6 anos foi gravado por câmera em condomínio de Brasília
Polícia do DF investiga homem que segurou criança para que filho a agredisse; caso envolvendo garoto de 6 anos foi gravado por câmera em condomínio de Brasília - Divulgação

O homem volta gesticulando e segura os braços do menino de seis anos para trás. Seu filho, então, lhe dá um soco. A mãe chega ao local e empurra a vítima, que cai no chão. O caso foi levado por uma tia do menino agredido à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Brasília.

A defesa de Danielle Cavalcanti e Alexandre Campos de Jesus disse na sexta (14) que o casal está “extremamente arrependido da fatalidade” e que os dois “foram tomados por violenta emoção” após presenciarem o filho com o “rosto deformado, boca e lábios sangrando muito”. 


O texto diz também que os pais “sempre buscaram dar uma boa educação para seus filhos pautada no diálogo e respeito para com o próximo”.

Diálogo é a palavra-chave nessa discussão, tanto para prevenir casos de violência como para apurar agressões.

Seja ele o agredido ou o agressor, a especialista em psicopedagogia Irene Maluf lembra que não é porque é seu filho que ele tem razão ou está dizendo a verdade. 

“É preciso perguntar exatamente o que aconteceu e deixar claro que a criança não será castigada —caso contrário, ela não se abrirá para você. O que você precisa fazer, como pai ou mãe, é orientar, e não incitar mais violência.”

Se o caso aconteceu na escola, ela precisa ser avisada. Cabe à instituição fazer a mediação entre os alunos, afirma Márcia Régis, diretora pedagógica do Colégio Presbiteriano Mackenzie.

Segundo ela, a primeira coisa que a escola deve fazer é socorrer a criança agredida e, depois, ouvir os dois lados. Afinal, se trata de um caso de bullying ou um desentendimento passageiro entre amigos? As abordagens seguintes dependem dessa apuração.

Se o seu filho é o agressor, é preciso analisar o que o levou a fazer isso e ver se faltam habilidades para ele se expressar e resolver as coisas com diálogo, se houve alguma provocação ou incidente prévio ou até se faltam exemplos em casa. 

“Do ponto de vista psicológico, sabemos que as crianças imitam adultos e que, em geral, a criança que mais bate é a que mais apanha dos pais. A violência é um modelo para ela”, diz Maluf.

Mas, se falta traquejo para as crianças lidarem com os conflitos, os pais parecem não estar em situação muito melhor. 

“Relações têm conflitos e crianças se machucam. Não que seja aceitável ou adequado, mas faz parte da vivência e do aprendizado do respeito um pelo outro. Hoje, porém, vejo que os pais se doem mais quando algo acontece. É muito grave para eles. Eles escrevem para a escola e dizem que nada aconteceu com o agressor, acho que esperam uma punição maior. O que aconteceu, na verdade, foram a mediação, a conversa, o ensinamento. E a gente mostra que é importante também ter respeito, diálogo e perdão 
dentro de casa”, diz Régis.

Edith Rubinstein, psicopegadoga e terapeuta familiar, diz que também nota mais pais agindo com um certo furor em caso de qualquer frustração ou dissabor que seus filhos experimentem. “Os pais devem ajudar as crianças a viver em sociedade, a postergar suas vontades, suportar problemas. Se eles são imaturos, o que elas aprenderão?”

Maluf, por fim, vê muitos casos em que os pais assumem o lugar dos filhos na resolução de conflitos —justamente como no caso de Brasília. 

“Dessa forma, os pais anulam a criança, não deixam que ela mesma resolva o problema e ainda a humilham, porque mostram que ela não é capaz. Lamentei muito esse episódio. O pai quer dar uma de pai herói, de machão, mas a criança não se sente protegida, e sim menosprezada. Hoje todo mundo quer ser amigo, não quer ser pai e mãe e ensinar como agir, como dialogar, e dar limites.”

 

O QUE FAZER EM CASO DE BRIGA

Conselhos para as crianças

  • Quando sentir raiva, respire fundo e não reaja de imediato
  • Em caso de briga, coloque-se no lugar da criança agredida. Como você se sentiria? 
  • O que você acha que poderia ter evitado essa situação?

Conselhos para os pais

  • Diga que entenda a raiva e a frustração da criança mas peça para ele refletir sobre outras maneiras de resolver a situação
  • Não queira resolver todas as brigas do seu filho por ele. Isso tira a autonomia dele e não o ensina a lidar com situações desse tipo
  • Seja o exemplo de diálogo e respeito em casa. Crianças que apanham são, em geral, as que mais batem
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