Foliões ensopados correm de chinelo ou tênis em meio a poças e correntes de água sujas, tentando chegar à estação de metrô mais próxima ou a algum abrigo. Alguns brincam de jogar o líquido escuro em amigos, até com a ajuda de armas de brinquedo; outros perdem o equilíbrio e caem direto na água.
Cenas do tipo foram comuns durante os últimos dias de Carnaval em São Paulo e também no Rio, marcados por fortes chuvas.
Não que seja necessário tomar um banho de álcool gel agora ou alimentar uma hipocondria, mas é importante ficar atento a sinais de doenças que possam aparecer após a festa.
A leptospirose, causada por uma bactéria presente na urina de roedores, é uma delas. A doença causa febre, dor muscular, redução na quantidade da urina e até icterícia, quando a pele e os olhos ficam amarelados. Os sintomas costumam aparecer entre 10 e 20 dias depois da contaminação ou algumas horas depois, em casos mais graves.
A doença pode ser contraída mesmo que os foliões não tenham feridas abertas, diz a médica infectologista Dania Rahman, que trabalha nos hospitais Albert Sabin e Sírio Libanês, ambos na capital paulista.
O tempo de exposição à bactéria, o tamanho da lesão na pele e a imunidade da pessoa influenciam a forma como a doença se manifestará no corpo. Só há vacina para animais, mas existe a possibilidade de se tomar uma medicação profilática após a exposição de risco para tentar conter a manifestação da doença. O tratamento é feito com antibióticos.
É preciso tomar cuidado também com a hepatite A, transmitida por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes que contenham o vírus.
Um folião pode, por exemplo, tocar no líquido sujo e, sem perceber, levar a mão à boca. Ou então pisar em uma poça e ter o rosto atingido por respingos. Latinhas de cerveja e garrafinhas de bebidas também podem estar infectadas.
Os sintomas incluem dores nas articulações, no abdômen ou nos músculos, diarreia, náusea ou vômitoNo corpo: fadiga, febre ou perda de apetite e pele e olhos amarelados.
Não existe um tratamento específico contra a doença, que ataca o fígado e é altamente contagiosa, observa a infectologista Roberta Schiavon, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Por isso tomar a vacina é tão importante. “E higienizar a mão com bastante frequência, com sabão e água ou álcool gel”, afirma.
Segundo a médica, menos de 2% das pessoas desenvolvem a forma grave da enfermidade.
Os mais descuidados podem ainda contrair tétano, transmitido por meio do contato entre lesões e objetos contaminados com a bactéria que causa a doença. Em meio a uma tempestade, é fácil não enxergar objetos pontiagudos enferrujados e se ferir. A bactéria pode estar ali e até mesmo no asfalto.
Nessa situação, é preciso tomar um banho o quanto antes e lavar bem a área atingida com água e sabão, diz Dania. Caso não seja possível evitar a doença, o tratamento é feito com antibiótico.
Para todos os casos acima, trocar os chinelos por botas de galocha pode ajudar a evitar o contágio. Melhor checar a previsão do tempo antes de ir para a rua. Sacos de plástico podem ser dispensados, já que rasgam facilmente.
Conseguiu driblar todos os riscos e só tomou um banho de chuva revitalizante no meio do bloco? Ainda assim você não está a salvo. A umidade das roupas e sapatos pode causar micoses na pele, especialmente nas dobras. Os sintomas incluem coceira, vermelhidão e manchas no corpo e só aparecem alguns dias depois da exposição ao toró, diz o dermatologista Samuel Mandelbaum, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Deixar a roupa secar sozinha após a chuva não é uma boa opção, segundo ele. O ideal seria dar uma pausa na folia, ir para casa e trocar de roupa. “Quanto mais tempo exposto à umidade, maiores as chances de o fungo se desenvolver”, diz.
A exposição à água suja traz riscos, mas não é preciso ficar paranoico. “Não acho que todo mundo que se molhou deva ir para o pronto-socorro em seguida. É preciso ficar de olho nos sintomas e tomar cuidados”, diz o médico.
Cuidado com a água suja
Doenças que podem aparecer após contato duvidoso
Hepatite A
Causa: vírus HCV
Como é contraída: por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes. Provoca infecção no fígado
Sintomas: febre, náusea, desconforto abdominal, redução do apetite, urina escura, icterícia (amarelamento da pele e dos olhos)
Leptospirose
Causa: bactéria Leptospira
Como é contraída: por meio do contato com a urina de rato. Formas mais graves da doença podem afetar órgãos como fígado e pulmões
Sintomas: febre, dor muscular, redução da quantidade de xixi, icterícia
Tétano
Causa: bactéria Clostridium tetani
Como a doença é contraída: por meio do contato entre ferimentos do corpo e objetos contaminados. Afeta o sistema nervoso central e pode ser fatal
Sintomas: febre, mal estar, rigidez muscular, espasmos
Micose
Causa: fungos
Como é contraída: o uso de roupas e sapatos molhados favorece o aparecimento da doença de pele, especialmente nas dobras
Sintomas: coceira, vermelhidão, manchas na pele
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