Descrição de chapéu Cabeça de Adolescente

Rede social testa autoestima e pode piorar depressão e ansiedade

Expectativa por likes e aceitação social estão entre os problemas mais comuns

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São Paulo

“Se abro o Instagram e vejo que não tem novidades, vou para o Whatsapp. Se não tem mensagem nova, entro no Facebook. Depois, volto para o Instagram e fico nesse ciclo vicioso o dia inteiro." É assim a rotina da recepcionista Rafaella Bonato, 19, diagnosticada com depressão e ansiedade.

A jovem se diz “viciada em redes sociais” e passa cerca de 12 horas diárias dedicada a likes, comentários e fotos.

Essa relação entre o desenvolvimento de transtornos mentais nos jovens e o uso intenso das redes sociais é alvo de diversos estudos. A University College London, por exemplo, apontou que 38% dos adolescentes que passam mais de cinco horas por dia nas contas virtuais mostraram sinais de depressão mais grave do que os que checam menos os aplicativos.

Ilustração em preto e branco feita à mão com caneta preta que mostra adolescente com expressão triste e três balões de conversa acima do personagem, todos com caracteres ininteligíveis
Quanto mais próximo da vida adulta, mais o jovem sofre com a expectativa de curtidas, diz psicóloga - Ilustração: Estela May

Estudo da Viacom International Media Networks, realizado com adolescentes entre 12 e 17 anos, constatou que os jovens brasileiros utilizam as redes sociais 63 vezes por dia —a média mundial é de 50.
E eles têm dificuldade em lidar com o que encontram nas redes pela razão biológica: a região do cérebro ligada à razão e à lógica ainda estão em desenvolvimento. “O jovem fica mais vulnerável nas redes sociais”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Segundo especialistas, o uso excessivo de redes sociais não pode ser considerado causador de depressão e ansiedade, mas está ligado ao agravamento dos transtornos mentais. 

“Se surgir um ‘hater’, o jovem vai dar conta? E se chamarem ele de gordo? Se o jovem já tem dificuldade de lidar e está deprimido, é uma bola de neve”, explica Andrea Jotta, psicóloga do Laboratório de Estudos da Psicologia, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP.

Foi o que aconteceu com Rafaella. “Olhava imagens daquelas meninas magras e me sentia mal. Tinha uma meta de ficar como elas, mas eu sabia que meu biotipo jamais me deixaria atingir aquilo.”

O problema, segundo Jackeline Giusti, psiquiatra da infância e da adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, é que esses modelos a serem copiados não são reais. “Todo mundo só mostra a parte legal, e quem está deprimido acaba se sentindo pior vendo imagens perfeitas.”

Os algoritmos, explica Andrea Jotta, têm parte da responsabilidade. “Há depressivos que vão para a rede buscar ajuda e, ao invés de achar palavras de apoio, encontram resultados de suicídio”.

Ela acrescenta que, quanto mais próximo da vida adulta, mais o jovem sofre com a expectativa de curtidas. “Os mais novos não têm curvas do que entendem como sucesso nas redes. Se eles postam uma foto e em 30 minutos só recebem dez curtidas, apagam e seguem a vida. Quanto mais velho, mais sofrimento por conta do histórico de expectativa de aceitação”, diz. 

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