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É preciso avançar e enxergar a beleza depois dos 50

Uma nova geração de mulheres tem combatido os estereótipos do envelhecimento

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Camila Faus

A sociedade tende a tornar a mulher invisível com o passar do tempo. Primeiro, vem a desconstrução da beleza, uma vez que os padrões estéticos exaltam a juventude. Depois, a perda da capacidade reprodutiva, erroneamente interpretada como perda da sexualidade.

No entanto, vemos uma nova geração de mulheres maduras muito plenas, que tem combatido estes estereótipos. É a geração dos novos 50 (da qual faço parte) trazendo algo bem mais forte que 
o discurso: a prática.

Com vitalidade para realizar antigos sonhos, estamos construindo novos relacionamentos e até resolvendo ter filhos. Essa geração, aliás, é a que mais cresce no país. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem mais pessoas acima de 50 anos do que jovens de 0 a 14 anos. Daqui a 15 anos, os brasileiros de 50 ou mais ultrapassarão a faixa etária que compõe a maior parte dos trabalhadores atuais, de 25 a 49 anos. São números muito significativos para serem ignorados.

Myrian Martim, 72 anos, dança com seu personal dancer no baile do clube Piratininga, em São Paulo
Myrian Martim, 72 anos, dança com seu personal dancer no baile do clube Piratininga, em São Paulo - Gustavo Lacerda/Folhapress

Naturalmente, a chegada dos 50 representa uma série de mudanças físicas, emocionais e psicológicas. Apesar de a alma continuar jovem, o corpo dá sinais da passagem do tempo. O mais gritante e cercado de tabus é a menopausa. Para muitas mulheres, sua chegada é o começo do fim. Mas não é verdade. Menopausa pode ser tudo, menos pausa, inclusive para o sexo. Fisicamente, continuamos com tesão. E mais, hoje, com a conscientização da importância de cuidar do corpo, o que não nos falta é disposição.

Já as mudanças emocionais são mais profundas. Principalmente pela queda hormonal que nos atinge mais drasticamente por volta dos 45. Começamos a ter variações de humor, sono picado, e muitas vezes nos perguntamos: “O que está acontecendo? Estou ficando louca?” Não, só estamos lidando com muitas mudanças. E podemos ficar mais fragilizadas. Precisamos discutir o assunto até ficarmos confortáveis com isso.

Quanto às mudanças psicológicas, a que mais me preocupa é o modo estigmatizado pelo qual começamos a ser vistas, quando somos vistas. Às vezes, as próprias mulheres têm dificuldade em aceitar a nova fase. Eu as entendo. Afinal, como não senti-la numa sociedade em que beleza e juventude se confundem e, ao surgirem os primeiros traços de envelhecimento, a mulher não é mais notada? Lidar com isso é puxado. Precisamos ser gentis com nós mesmas. 

Mas quem disse que as mudanças são para pior? Elas podem ser muito favoráveis. É a fase em que nos sentimos mais maduras e confiantes (mesmo que nem sempre), fortalecidas pelas experiências de vida. 

Precisamos desconstruir padrões e não simplesmente aceitá-los. Por que não ver a beleza em uma ruga? Por que alguém que assume os cabelos brancos é “desleixada”? Por que não podemos recomeçar a vida aos 50? A única pessoa que pode ditar regras da sua vida é você mesma. Ou, claro, todas aquelas outras versões que moram dentro de você e que, com a maturidade, finalmente podem ser ouvidas.

Camila Faus é criadora, ao lado de Fernanda Guerreiro, do SHEt (@shet_alks) e diretora de cena da produtora Hungry Man 

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