Descrição de chapéu The New York Times

Adolescentes não binários escolhem roupas que vão além da androginia

Ideia está relacionada a aceitar a diversidade de expressão de gêneros

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Hayley Krischer
Nova York | The New York Times

Anna Kinlock, 17, estava no Brooklyn Museum um dia desses usando botas plataforma de couro preto, com pequenas tachas prateadas, fivelas e saltos de 12 centímetros. Meias arrastão, um minivestido de renda cinzenta e um cardigã longo de lã preta completavam o “look”. Anna se identifica como “queer” e não binária, e usa pronomes neutros.

Anna fala sobre “ancestrais andróginos” como a madrinha dos góticos, Siouxsie Sioux, Lydia Lunch e Peter Murphy, vocalista do Bauhaus.

Meias arrastão e botas plataforma costumavam significar que você é uma garota gótica. Mas as definições de moda mudaram. Assim como as descrições baseadas em gêneros. 

 

Kinlock, que estagia no programa de sexualidade e gênero para adolescentes do Brooklyn Museum, InterseXtions, estava no museu algum tempo atrás se preparando para a sexta noite adolescente LGBTQ+ do InterseXtions. No ano passado, organizaram uma palestra sobre moda andrógina e “queer”, convidando o ativista, ator e artista Chella Man, e distribuindo “zines” com fotos dos cantores David Bowie e FKA twigs e do ator Ezra Miller, que se define como tendo “gênero fluido”.

No começo da década, as limitações de gênero pareciam fixas. O termo “não binário” não era parte do vocabulário. Androginia era reservada a subculturas e não tinha lugar na máquina de marketing voltada aos adolescentes.

O começo dos anos 2000 tinha por foco a hiperfeminilidade. Modelos muito jovens desfilavam nas passarelas. Uma sessão de fotos da Vogue Paris em 2011 tinha como estrela Thylane Blondeau, aos 10 anos de idade, usando maquiagem pesada e olhando para a câmera de modo sedutor.

O livro “Cinderella Ate My Daughter”, de Peggy Orenstein, sobre criar uma filha na cultura da Disney, entrou para a lista de best-sellers do The New York Times. Kylie Jenner estava a caminho de criar uma nova versão, hiperfeminina, de si mesma.

O termo “não binário” se tornou algo que as pessoas começaram a pesquisar na internet por volta de 2014. A identidade de gênero se tornou tema de diálogo internacional, especialmente entre adolescentes, Em 2017, um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles constatou que 27% (796 mil) dos jovens da Califórnia entre os 12 e os 17 anos acreditavam que as demais pessoas os viam como não enquadrados aos papéis tradicionais de gênero.

Mais adolescentes estavam se identificando com rótulos de gênero não tradicionais, em geral, de acordo com um estudo publicado em março de 2018 pela revista acadêmica Pediatrics. 

“Quando estudamos tendências que podem ser vistas na comunidade de jovens que se identificam como não binários, o que estamos vendo de fato é uma comunidade de pessoas que estão aceitando a diversidade de expressão de gêneros”, disse Jeremy Wernick, professor assistente no departamento de psiquiatria da infância e adolescência na Universidade de Nova York Langone. 

“Sim, a garotada não binária está liderando na expansão das fronteiras desses estereótipos binários”, disse Wernick. “Mas o que eles estão realmente fazendo é servir como modelos, para outros jovens e adultos, da realidade de que a expressão de gênero pode ter impacto sobre o resto do mundo se as coisas forem aceitas e celebradas”.

Só porque um adolescente pinta as unhas ou apara a barba de certa maneira, acrescentou Wernick, isso não significa que vai desenvolver um tipo determinado de identidade de gênero.

Uma foto que resume o movimento da juventude não binária pode ser encontrada na conta de Instagram do ator Lachlan Watson, 18, que estrela a série “The Chilling Adventures of Sabrina” e na foto usa uma camiseta inspirada por John Lennon e Yoko Ono, com os dizeres “os gêneros acabaram. Se você quiser”.

Billie Eilish, 17, cujas canções foram tocadas mais de um bilhão de vezes em serviços de streaming, é o foco atual dos olhares adolescentes. Eilish é a anti-Britney Spears, a anti-Katy Perry. 

Ela é conhecida por usar roupas largas, grandes, e por ir a eventos de tapete vermelho vestindo casacos superdimensionados e calças de pelúcia. 

Para os adolescentes não binários, Eilish foi uma revelação. Zai Nixon-Reid, 19, estudante da New School, que é não binária mas se alinha como mulher, e usa pronomes neutros, diz que as pessoas muitas vezes comparam seu estilo ao “look” andrógino de Eilish.

“É por isso que gosto dela, definitivamente, porque tudo que ela usa é bem grande e é assim que eu queria que meu guarda-roupa fosse”, disse. A conta de Instagram de Nixon-Reid mostra um estilo que consiste de camisas grandes, com botões, e correntes, mas também ternos, echarpes e chapéus.

Expressar-se pela moda é novidade na vida de Nixon-Reid, e nem sempre foi fácil. A mãe da adolescente é uma mulher hiperfeminina, por isso a maior parte de suas roupas durante infância eram tradicionalmente femininas.

“Aqueles dias meio que acabaram em 2018. Consegui explorar a questão do gênero por meio da moda, e isso me ajudou a compreender o meu gênero via roupas, afirma Nixon-Reid.

Tradução de Paulo Migliacci

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