Descrição de chapéu The New York Times

Cigarro eletrônico com sabor acumula problemas e pode ser vetado nos EUA

Doenças pulmonares e mortes são relacionadas ao dispositivo; venda no Brasil é proibida, mas mesmo assim ocorre via rede social

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Sheila Kaplan Matt Richtel Matheus Moreira
Nova York e São Paulo | The New York Times

Após o surgimento de centenas de casos de doenças pulmonares graves e até mortes nos Estados Unidos ligadas a cigarros eletrônicos com sabor, o governo americano e os estados de Nova York e Michigan se movimentam para proibir os dispositivos, populares especialmente entre adolescentes e jovens adultos. 

Para piorar a imagem dos chamados vaporizadores, a FDA (agência de fiscalização e regulamentação de remédios dos EUA) afirmou recentemente que a Juul Labs, companhia dominante no mercado americano de cigarros eletrônicos, comercializou ilegalmente seus produtos como uma alternativa menos nociva aos cigarros tradicionais.

A agência encaminhou uma carta de advertência à Juul, afirmando que a companhia violou regulamentos federais, porque não havia recebido aprovação federal para promover e vender seus produtos de "vaping" como alternativa mais saudável ao cigarro.

A ação da FDA representa um revés para os esforços da companhia em se reposicionar em um momento em que a segurança dos cigarros eletrônicos está em xeque.

Cinco mortes foram vinculadas ao "vaping", e centenas de pessoas foram hospitalizadas. 
"Investigadores de saúde pública ainda não determinaram uma causa específica, mas mencionaram o uso de produtos de nicotina e maconha para vaporizadores como uma das possibilidades. Não há um produto ou companhia específicos implicados nos casos até o momento.

 

Em reunião com as principais autoridades de saúde do país na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que removeria do mercado os cigarros eletrônicos e vaporizadores de sabores a base de nicotina, com exceção aos de tabaco.

A investigação sobre as práticas da Juul precedem o surto de doenças pulmonares dos últimos meses e foi causada pela preocupação de que as ações de marketing e vendas da empresa direcionassem seus produtos aos jovens. A investigação incluiu uma revisão de depoimentos feitos ao Congresso por executivos da Juul, consumidores e ativistas antifumo.

A FDA apontou exemplos específicos que, segundo ela, representam violações. Um deles é a declaração de Kevin Burns, presidente-executivo da companhia, publicada no site da Juul, na qual ele dizia que o sistema de "vaping" da foi projetado "para aquecer nicotina líquida e propiciar aos fumantes a satisfação que desejam sem a combustão e os danos a ela associados".

A carta também citou depoimentos ao Congresso sobre uma palestra em uma escola. Um representante da Juul disse aos estudantes que os produtos da marca "eram muito mais seguros que os cigarros".

No Brasil, cigarros eletrônicos são proibidos, mas são facilmente encontrados à venda na internet. É possível adquirir vaporizadores da Juul em mais de 20 perfis no Instagram que anunciam a venda do produto "100% original". As páginas afirmam que o produto pode chegar em uma semana se ele vier direto dos EUA, mas apontam que há lojas virtuais com estoque e promessa de entrega rápida via delivery. Um kit para iniciantes custa de R$ 250 a R$ 450.

Durante o Fórum Global sobre Nicotina, que aconteceu em junho em Varsóvia, na Polônia, representantes da Juul Labs disseram que sabiam da entrada ilegal do produto no Brasil, mas afirmaram que não que eles não eram originais, já que a empresa não tem revendedores na América Latina.

Em agosto, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) realizou, no Rio de Janeiro, uma audiência pública para debater o tema. O órgão afirma que tem uma equipe para monitorar os anúncios irregulares e que, entre 2017 e 2019, retirou da internet 727 anúncios de cigarros eletrônicos. Esse tipo de propaganda e venda ilegal tem penalidades que vão desde advertência e apreensão do produto até multa, que varia de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão.

Os níveis elevados de nicotina nos produtos da Juul são especialmente preocupantes por causa de seus efeitos nos cérebros ainda em desenvolvimento de uma geração de adolescentes e por seu potencial em reverter décadas de declínio no fumo.

Pesquisas sobre os efeitos dos cigarros eletrônicos em longo prazo estão em estágio inicial –um dos motivos para a FDA tentar restringir as afirmações de marketing da Juul e outras empresas do setor. A agência ordenou que a empresa submeta seu plano para corrigir os problemas delineados na carta de advertência em prazo de 15 dias.

Há mais de um ano a Juul vem sendo o principal alvo dos especialistas em saúde pública e da FDA por conta dos atrativos de seu produto para os jovens. Com um aparelho esbelto de "vaping" que se tornou onipresente como acessório para muitos jovens, a Juul teve uma ascensão meteórica, cultural e financeiramente. Sua linha de produtos foi lançada em 2015 e as vendas da companhia dispararam. Em 2018, seu valor de mercado foi estimado em US$ 16 bilhões. 
 

A crescente popularidade dos cigarros eletrônicos surgiu em paralelo a uma estrutura regulatória ainda indefinida. A questão central que as autoridades regulatórias e especialistas em saúde pública enfrentam é determinar se os potenciais benefícios da nova tecnologia, como a possibilidade de que reduza as mortes causadas pelo fumo, superam os riscos.


Tradução de Paulo Migliacci

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