Descrição de chapéu The Washington Post

Possível causa de mortes ligadas a cigarros eletrônicos é identificada

Acetato de vitamina E foi encontrado nos fluidos pulmonares de pessoas que adoeceram

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Lena H. Sun
Washington | The Washington Post

Autoridades federais de saúde dos Estados Unidos identificaram o acetato de vitamina E nos fluidos pulmonares de 29 pessoas que adoeceram ou morreram com lesões relacionadas ao fumo de cigarros eletrônicos.

O óleo é, então, apontado como provável culpado pela epidemia que atingiu mais de 2.000 pessoas e matou pelo menos 39.

“As descobertas oferecem provas diretas da presença de acetato de vitamina E nos locais primários de lesão dentro dos pulmões”, disse Anne Schuchat, diretora assistente do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês). As mais recentes informações revelam indícios cada vez mais fortes de que o acetato de vitamina E é um forte culpado pelas mortes e lesões, e causa de preocupação, disse Schuchat.

As descobertas anunciadas na sexta-feira (8) não descartam que outros possíveis compostos ou ingredientes estejam entre as causas de lesões pulmonares. Mas Schuchat descreveu os resultados dos testes de laboratório como um salto na investigação. O CDC conduziu testes para detectar a presença de uma ampla gama de substâncias que podem ser encontradas no fluido pulmonar de pacientes, entre as quais óleos de plantas e destilados de petróleo, como o óleo mineral.

Técnicos do CDC encontraram acetato de vitamina E, um óleo derivado da vitamina, em todas as 29 amostras de fluidos pulmonares recolhidas de pacientes que adoeceram ou morreram por conta de lesões pulmonares. O THC, o componente psicoativo da maconha, também foi identificado em 23 pacientes, entre os quais três que disseram não usar produtos de THC. A presença de nicotina foi detectada em 16 de 26 pacientes. A maioria dos pacientes que adoeceram durante o surto consumiu THC em cigarros eletrônicos, segundo as autoridades.

O acetato de vitamina E já havia sido detectado em testes anteriores conduzidos pela Food and Drug Administration (FDA), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, e por laboratórios estaduais de análises, em produtos que continham THC.

O laboratório do Wadsworth Center, do estado de Nova York, foi o primeiro a descobrir o composto, cerca de dois meses atrás, em amostras extraídas de pacientes atingidos pelo surto. Das 595 amostras de produtos ligadas a pacientes que foram analisados pela FDA, 70% continham THC. Metade dos produtos que continham THC também continha acetato de vitamina E, com concentrações de até 88%.

Muitos dos produtos que continham THC foram obtidos no mercado ilícito, disseram as autoridades. O acetato de vitamina E vinha sendo usado nos últimos meses como mistura ou aditivo, no mercado negro de maconha, a fim de aumentar a presença de THC nos cartuchos de cigarros eletrônicos. O acetato de vitamina E é um aditivo popular porque é incolor e inodoro, tem viscosidade semelhante à do óleo de THC, e é muito mais barato.

As descobertas são importantes porque pela primeira vez cientistas conseguiram conectar resultados de testes de produtos a espécimes clínicos obtidos de pacientes, disse Schuchat. Os 29 pacientes vêm de 10 estados, e representam uma área geográfica diversificada, o que torna as descobertas “muito mais robustas” do que se os pacientes estivessem concentrados em um só local. A maior parte dos pacientes são homens, e sua idade média é de 23 anos.

As descobertas “nos ajudam a compreender melhor os potenciais compostos” que podem contribuir para lesões, segundo Schuchat. “Isso nos diz o que entrou nos pulmões de alguns desses pacientes”.

O acetato de vitamina E está presente em muitos alimentos e cosméticos, especialmente produtos para a pele. Não está associado a danos quando engolido ou aplicado na pele, disse Schuchat. Mas, quando é aquecido e inalado, pode interferir com as funções pulmonares normais. Suas propriedades podem estar associadas ao tipo de sintoma respiratório que muitos pacientes reportaram, como tosse, respiração curta e dores no peito.

A professora de química Michelle Francl descreveu o acetato de vitamina E como basicamente graxa. Sua estrutura molecular significa que é preciso aquecê-lo muito para que se vaporize. O ponto de ebulição da substância é de 184 graus, bem acima do ponto de ebulição de 100 graus da água.

Assim que o óleo é aquecido a ponto de ser vaporizado, ele tem o potencial de se decompor, e “nesse caso a pessoa estará respirando sabe-se lá o quê’, disse Francl.

No entanto, as autoridades ainda precisam testar a substância em outras pessoas que fumaram cigarros eletrônicos sem passar por lesões parecidas e em uma gama mais ampla de amostras de fluidos pulmonares, de pacientes em diferentes locais.

Estudos com animais também precisam ser conduzidos para compreender melhor de que forma o acetato de vitamina E pode causar danos aos pulmões, disse Schuchat.

Especialistas em saúde pública receberam a notícia positivamente, mas disseram que testes mais completos precisam ser realizados. “Embora esse seja um grande passo para nos ajudar a compreender o que pode estar causando essas lesões, as constatações não descartam o fato de que outros compostos ou ingredientes possam contribuir para o surto”, disse Scott Becker, diretor executivo da Associação de Laboratórios de Saúde Pública dos Estados Unidos. “Pode haver mais de uma causa para o surto”.

As descobertas, detalhadas em um relatório do CDC divulgado na sexta-feira, também reforçam os alertas oficiais de saúde contra o uso de cigarros eletrônicos e produtos que contenham THC, especialmente os comprados nas ruas.

O CDC vai manter sua recomendação de que os consumidores deveriam tentar se abster completamente dos cigarros eletrônicos, o que inclui aqueles que contêm nicotina. 

Tradução de Paulo Migliacci

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