Asiáticos pelo mundo já sofrem discriminação diante do temor do coronavírus

Petições buscam isolar comunidades e impedir entrada de chineses nos países; na França, asiáticos usam a #Eunãosouumvírus

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Denise Paglinawan Moira Warburton
Toronto | Reuters

Comunidades chinesas pelo mundo já demonstram o medo de sofrer discriminação e atitudes xenófobas diante do medo crescente do novo coronavírus.

Uma petição na Malásia lançada na semana passada buscou banir a entrada de cidadãos chineses e já foi assinada por mais de 400 mil pessoas até a quarta (29). No texto que acompanha a petição, seus criadores culpam o "estilo de vida sem higiene" dos chineses pelo espalhamento do vírus.

Petições similares surgiram em Singapura e na Coreia do Sul. 

Algumas comunidades no Canadá e na França reagiram contra o uso de linguagem discriminatória já usada contra elas. Asiáticos na França usaram a hahtag  #JeNeSuisPasUnVirus (eu não sou um vírus) nas redes sociais para identificar casos de abuso e discriminação.

O Canadá identificou apenas três casos até agora do novo coronavírus, mas há receios de que um surto maior fomente sentimento antiasiático, em cenas que recordam a epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave) que fez dezenas de mortos na área de Toronto no início da década de 2000.

Mais de 9.000 pessoas assinaram uma petição solicitando que crianças cujos familiares tenham retornado da China recentemente sejam mantidas fora das salas de aula. E alguns estabelecimentos comerciais do bairro de Chinatown, em Toronto, já estão registrando movimento reduzido.

A Sars matou 44 pessoas na região de Toronto, disseminando o medo e fazendo do Canadá o único país fora da Ásia a informar mortes devido a esse vírus entre 2002 e 2003. O novo coronavírus já matou mais de cem pessoas na China.

“Foi exatamente isso o que aconteceu durante a epidemia de Sars”, disse à Reuters Amy Go, presidente nacional interina do Conselho Nacional Canadense de Justiça Social, aludindo à petição feita ao conselho de escolas.

“Precisamos tomar muito cuidado para não nos deixarmos dominar pelo medo e o pânico irracionais.”

O Conselho Escolar da Região de York respondeu à petição dizendo entender que “os estudantes e suas famílias estejam sentindo alguma ansiedade”, mas destacando que qualquer pessoa pode contrair e transmitir o vírus.

Essa situação “pode, lamentavelmente, levar à discriminação baseada em percepções, estereótipos e ódio”, disse o conselho.

A ministra da Saúde, Patty Hajdu, disse na terça-feira (28) que há o risco de canadenses de origem chinesa se sentirem “um tanto visados” devido ao local de origem do vírus e observou que se as pessoas evitarem o contato com elas devido ao medo, isso pode prejudicar seus negócios.

Mas a comunidade asiática também está entre os setores mais preocupados com o vírus, disse Polly Chow, uma mãe sino-canadense que vive em Toronto.

Ela disse que concorda com a petição enviada ao conselho escolar e com a “ordem emergencial” emitida pela escola particular de seu filho determinando que as crianças fiquem em quarentena em casa por 15 dias se pessoas de sua família tiverem viajado a locais onde há casos confirmados do vírus.

Chow descreveu um ambiente de medo e sentimento protetor por parte de pais e mães, dizendo que muitos alunos da classe de seu filho não foram à escola na segunda-feira (27).

“As crianças que faltaram à aula eram todas asiáticas”, ela disse à Reuters. “Quem é asiático é exposto às notícias através da mídia asiática. Você acompanha mais de perto o que está acontecendo na China, então isso eleva o medo.”

As comunidades chinesa e asiática do sul são as duas maiores minorias visíveis no Canadá. Cerca de 1,8 milhão de pessoas, quase 5% da população total do Canadá, têm origem chinesa.

Na terça-feira as autoridades da Colúmbia Britânica anunciaram o terceiro caso de coronavírus no Canadá, este em Vancouver. As duas primeiras pessoas no país a terem contraído o vírus, um casal, vivem em Toronto. As três pessoas retornaram recentemente de Wuhan, o epicentro do surto.

Tonny Louie, presidente da Área de Melhoria Empresarial de Chinatown em Toronto, disse que a atividade comercial no distrito já se enfraqueceu devido aos receios em relação ao vírus, e que cenas como o que se viu na terça-feira no restaurante da rede Chongqing Liuyishou Hot Pot em Toronto, onde todos os funcionários usavam máscaras cirúrgicas para proteger-se da possibilidade de contágio, não ajudam.

“Os números são baixos”, disse Louie. “Não há tanta gente assim na rua.”

Tradução de Clara Allain; com Washington Post

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.