Brasil registra nove casos de suspeita de coronavírus; três são em São Paulo

Outros quatro casos foram descartados após exames; país ainda não tem nenhum caso confirmado

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Brasília

O Brasil tem ao menos nove casos de suspeita de coronavírus chinês. Os pacientes são de São Paulo (3), Santa Catarina (2), Rio de Janeiro (1), Minas Gerais (1), Paraná (1) e Ceará (1).

Todos eles aguardam resultado de exames, de acordo com o Ministério da Saúde.

“Não temos neste momento nenhum caso confirmado de coronavírus no Brasil”, disse o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, nesta quarta (29).

O número de mortos na China pelo surto de coronavírus chegou a 162 na noite de quarta (29) e o número de casos confirmados já passa de 7.000 em todo o mundo.

Segundo Oliveira, ao menos outros quatro casos chegaram a ser contabilizados como suspeitos, mas foram descartados após exames confirmarem o diagnóstico para outras doenças. Entre eles, estão três casos notificados no Rio de Grande do Sul e um no Paraná.

O primeiro caso de suspeita de coronavírus foi divulgado pelo Ministério da Saúde na terça-feira (28). Uma estudante de 22 anos atendida em Belo Horizonte viajou para a cidade de Wuhan, na China, epicentro da doença. Ela diz que não foi ao mercado de peixes da cidade (possível origem da epidemia) nem teve contato com pessoas doentes. 

Seu estado de saúde é estável. Após ser atendida, ela foi encaminhada a um hospital de referência e ficará em isolamento até que os resultados dos exames saiam. Cerca de 14 pessoas que tiveram contato com a paciente no Brasil também são monitoradas. 

A previsão é que os resultados dos exames fiquem prontos até sexta-feira (31). 

Atualmente, não há um teste rápido para o coronavírus, mas é possível fazer exames laboratoriais que verificam se o padrão do vírus é equivalente ao identificado na China.

O protocolo adotado pelo Ministério da Saúde prevê que os casos sejam testados inicialmente para diferentes tipos de síndrome gripal, com exames mais simples. Caso não haja confirmação, as amostras seguem para exames de RT-PCR, que analisa uma parte do DNA do vírus. Uma terceira fase envolve
testes de metagenômica na Fiocruz, considerados mais complexos e capazes de verificar se a infecção foi por coronavírus. O caso da jovem de Belo Horizonte está nesta etapa. Os demais ainda são avaliados para outras doenças. Todos têm tido boa evolução, sem que haja agravamento do quadro, segundo Oliveira.

Mesmo após o descarte, secretarias ainda podem enviar amostras para checagem, diz a pasta. Segundo o diretor de vigilância de doenças transmissíveis, Julio Croda, a escolha por fazer primeiro testes mais simples ocorre para agilizar o diagnóstico. "A probabilidade de encontrar outros vírus é maior do que encontrar o coronavírus. Nesse sentido, otimizamos nossos recursos e técnicas nesse momento", afirma.

Segundo Croda, a pasta tem enviado mensagens a passageiros que estiveram em voos de pessoas com suspeita da doença para que procurem a rede de saúde em caso de sintomas. A lista tem sido obtida junto às companhias aéreas.

Ainda de acordo com o ministério, desde 18 de janeiro, outros 20 casos de pessoas com sintomas respiratórios chegaram a ser notificados por secretarias de saúde para serem avaliados, mas nenhum se enquadrava na definição de casos suspeitos. O balanço aponta, assim, 33 casos notificados, sendo 20 excluídos, quatro descartados e nove ainda em investigação.

Na segunda-feira (27), a OMS (Organização Mundial de Saúde) corrigiu a avaliação de risco diante do coronavírus de "moderado" para "alto" e atualizou as áreas de transmissão ativa da doença. A medida levou o Ministério da Saúde a alterar a definição de suspeita de coronavírus.

Antes, eram considerados suspeitos os casos de pessoas com sintomas respiratórios, como febre, tosse e dificuldade para respirar, e com histórico de viagens a região de Wuhan nos últimos 14 dias antes do início dos sintomas. 

Agora, passam a ser considerados como suspeitos aqueles com histórico de viagens à China ou contato com casos suspeitos ou confirmados em até 14 dias antes do início dos sintomas. O intervalo corresponde ao período verificado até o momento de incubação do vírus —tempo entre infecção até o desenvolvimento dos sintomas. Todos os nove casos de suspeita até o momento são de pessoas que vieram da China nesse intervalo.

Para o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, a tendência é que a adoção de uma definição mais ampla eleve também o registro de casos de suspeita de coronavírus.

Na última semana, o Ministério da Saúde ativou um centro de operações de emergência para monitorar o registro de possíveis casos. O centro, formado por especialistas em emergência em saúde pública, foi ativado em nível 1, entre três possíveis, o que indica um alerta inicial, visando a preparação da rede de saúde.

Com o registro do primeiro caso suspeito, o nível de alerta passou a 2, o que indica um risco iminente do vírus entrar no país.

Segundo a pasta, o termo adotado para classificação de cada nível segue protocolos de saúde. A partir da primeira confirmação, o ministério poderá declarar emergência em saúde pública nacional. A medida visa adotar ações para evitar a transmissão local e sustentada no país.

Nesta quarta, a OMS anunciou que decidiu reconvocar o comitê de especialistas para avaliar se há necessidade de declarar uma emergência em saúde pública a nível internacional devido ao coronavírus. 

Já houve notificações sobre disseminação do vírus de pessoa para pessoa fora da China, na Alemanha, no Vietnã e no Japão.

Reuniões virtuais para empresas com negócios na China

Diante do avanço de casos, representantes do Ministério da Saúde voltaram a desaconselhar viagens à China neste momento. De acordo com o secretário-executivo do ministério, a pasta também têm recomendado a empresas que têm negócios com a China para privilegiem reuniões virtuais neste momento.

"Muitos chineses vêm ao Brasil para participar de reuniões e fazer negociações comerciais. Obviamente não cabe ao governo brasileiro recomendar aos chineses se devem sair de lá ou não. Mas estamos recomendando às empresas brasileiras que evitem nesse momento organizar reuniões com presença física de pessoas que vêm da China e que optem por reuniões virtuais", afirma.

Apesar da recomendação, a pasta descarta neste momento a necessidade de medidas restritivas em portos e aeroportos, ou de ações como triagem de temperatura. Também não há nenhuma medida de restrição ao comércio neste momento devido ao coronavírus.

Mais cedo, o Ministério da Saúde fez uma videoconferência com representantes de secretarias de saúde para explicar informações sobre o coronavírus e protocolos que devem ser adotados na rede de saúde.

No encontro, o diretor Julio Croda frisou aos estados que os dados sobre o vírus ainda são iniciais, mas que informações preliminares apontam para uma baixa letalidade. “Mas só o tempo vai gerar as evidências necessárias”, disse ele, que lembra que o risco é maior em idosos e pessoas com outras doenças associadas. 

Outros pontos que ainda são alvo de dúvidas são o período de incubação do vírus e a extensão da transmissão, em um contexto em que estudos já apontam a possibilidade de que algumas pessoas transmitam a doença sem que registrem sintomas.

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