Descrição de chapéu Coronavírus

Ampliação de ventiladores é prioridade e gera confisco

Ministério, estados e municípios já desapropriam material contra a epidemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Mapeados os leitos de UTI no país, a nova prioridade das redes hospitalares no combate ao coronavírus passou a ser equipar outras áreas de suas unidades com ventiladores mecânicos, para aumentar a capacidade de atendimento para além das unidades de tratamento intensivo.

O Ministério da Saúde já começou a desapropriar esse tipo de equipamento junto a importadores e fabricantes, e as secretarias de Saúde nos estados e municípios planejam fazer o mesmo.

Outros materiais, como luvas, aventais, máscaras e lotes de álcool em gel, também já são confiscados —o que tem provocado reclamações e conflitos.

Eventos desse tipo foram registrados em SP, PE, BA, PR e MG, segundo ofícios e decretos estaduais e municipais autorizando a desapropriação e obtidos pela Folha.

O Brasil tem cerca de 46 mil leitos de UTI com ventiladores, divididos meio a meio nas redes pública e privada. Mas a taxa de ocupação desses leitos já era de 95% e 80%, respectivamente, antes da epidemia do coronavírus.

Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro
Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro - Zo Guimarães - 16.mar.2020/Folhapress

Com isso, sobravam cerca de 6.000 leitos de UTI, cujo número vem crescendo com o cancelamento de cirurgias eletivas e outras medidas emergenciais.

Já o total de ventiladores mecânicos, fundamentais para tratar os infectados graves com problemas respiratórios, são 62 mil.

Embora eles façam parte dos leitos de UTI, é elevada a sua ociosidade no dia a dia dos internados: mais da metade fica parada na rede pública e 80%, na privada.

A corrida agora é para mapeá-los e utilizar os equipamentos em outros leitos fora das UTIs, se necessário. Além disso, salas de recuperação de cirurgias e anestesia com esse tipo de máquina também serão usadas para receber pessoas com dificuldades extremas de respiração.

“A reserva técnica de ventiladores respiratórios do sistema não é ruim, mas é preciso agora estabelecer planos para que eles sejam incorporados no atendimento aos pacientes graves”, diz Suzana Margareth Lobo, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).

Como comparação, o Brasil tem pouco mais de 2,1 leitos de UTI por 10 mil habitantes, considerando os hospitais públicos e privados (a maioria sempre ocupados). Já o total de ventiladores mecânicos chega a quase 3 por 10 mil (com alta ociosidade antes da epidemia).

Um agravante no caso da Covid-19, no entanto, é que os pacientes chegam a ficar de duas a três semanas internados em estado grave, na maioria das vezes usando ventiladores. Na média, internações normais em UTI duram apenas 6,5 dias.

Assim como também ocorre com leitos de UTI, as regiões Norte e Nordeste são as menos equipadas com ventiladores, sobretudo as redes estaduais e municipais ligadas ao SUS (Sistema Único de Saúde) —o que demandará coordenação nacional para distribuir equipamentos.

A preocupação dos hospitais privados, que contam com mais leitos de UTI e ventiladores, proporcionalmente, é que haja uma apropriação indiscriminada de seus equipamentos daqui para frente com base em decretos autorizando esse tipo de ação —como já está ocorrendo.

“Entendemos que seja uma emergência de saúde pública, mas há todo um planejamento e contratos que estão sendo interrompidos”, diz Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). “É uma situação muito preocupante, que demandaria outro tipo de organização.”

A Anahp reúne 122 hospitais e entidades filantrópicas, como as Santas Casas de São Paulo e de Porto Alegre e a Beneficência Portuguesa, na capital paulista. Segundo Ferreira, mais da metade de seus associados atende pacientes do SUS.

Entre as empresas afetadas por esse tipo de medida está a Magnamed, fabricante de ventiladores pulmonares em Cotia (SP).

Em comunicado a seus clientes, ela informou a suspensão das operações comerciais e disse que toda a sua produção e estoque serão dirigidos ao Ministério da Saúde pelos próximos 180 dias.

A decisão tem como base a lei 13.979, de fevereiro de 2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento à epidemia do novo coronavírus.

Segundo a Anahp, hospitais que tinham comprado de forma antecipada, e já haviam pago pelos ventiladores, tiveram suas entregas suspensas.

O esforço para ampliar o número de ventiladores no sistema também já mobiliza parte da indústria automobilística.

Em coordenação com órgãos de saúde, montadoras como a GM e a Mercedes usarão impressoras 3D para fabricar peças de cerâmica e plástico para abastecer as indústrias de equipamentos respiratórios.

Segundo a Anfavea, que reúne as montadoras, elas também estão reservando caminhões para ajudar a escoar a produção de fabricantes e ônibus e vans para o transporte de profissionais da área médica.

Em vários estados, mais de uma centena de empresas já se mobilizaram para ajudar na produção de equipamentos de ventilação, segundo associações que representam essas indústrias.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.