Descrição de chapéu Coronavírus

Afastamentos por suspeitas de coronavírus explodem entre profissionais da saúde

Levantamento do sindicato indica que profissionais também estão se afastando por mais tempo

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São Paulo

O número de licenças médicas de servidores da saúde de São Paulo e também de hospitais particulares explodiu em tempos de coronavírus, indicam números de sindicato, de hospitais e relatos de funcionários.

As licenças médicas na rede municipal paulistana aumentaram 57% na comparação entre a primeira e a segunda quinzenas de março, passando de 356 para 559 casos, segundo o Sindsep (sindicato dos servidores municipais de SP). Há também mais licenças por mais de 14 dias, tempo previsto para a quarentena do coronavírus.

Hospitais particulares em São Paulo, epicentro da crise, também estão sofrendo centenas de baixas. Apenas no hospital Albert Einstein 348 colaboradores foram diagnosticados e no Sírio Libanês, 104 funcionários estão afastados. Unidades de referência também sofrem, como o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, maior hospital público do país, que já afastou 125 funcionários.

Ainda não há dados centralizados sobre afastamentos no país, mas a situação já faz com que profissionais da saúde temam cenário parecido com o europeu, onde funcionários de hospitais são cerca de 10% dos infectados em países como Espanha e Itália.

Na rede municipal paulistana, a compilação foi feita com base em dados do Diário Oficial da Cidade, relacionados à Autarquia Hospitalar Municipal, que concentra a maioria dos profissionais da saúde da capital.

Os dados compilados pela categoria mostra que também aumentou o tempo médio de licença, o que indica que se tratam de afastamentos de 14 dias, o padrão no caso de suspeita de coronavírus. O tempo médio das licenças passou de 2,5 dias para 7,5 dias.

"As licenças de até 5 dias, que eram 92% do total na primeira quinzena, passaram a ser apenas 46% das licenças nas últimas duas semanas. Essas mudanças nos números foram causadas especialmente pelos afastamentos de 14 a 15 dias. Se, entre os dias 1 e 14, foram afastados apenas 10 servidores por 14 e 15 dias, esse número subiu para 190 afastamentos a partir do dia 15 e até o dia 28, com especial crescimento no dia 23 de março", diz o sindicato.

O líder em servidores afastados por duas semanas é o Hospital do Tatuapé (zona leste), onde há muitos casos de coronavírus e denúncias de falta de equipamentos de segurança. Segundo o sindicato, desde 15 de março foram 44 afastamentos neste hospital.

A reportagem conversou com funcionários do hospital, que relatam estar muito sobrecarregados, devido ao alto número de afastamentos. Em comum nos relatos está a descrição de que a unidade, assolada pelo coronavírus, virou uma zona de guerra.

Situação similar contaram funcionários de outras unidades de saúde da capital, sob condição de terem seus nomes mantidos em sigilo. Há também profissionais com sintomas que permanecem trabalhando.

Em segundo lugar está o Hospital do Campo Limpo (23), na zona sul, seguido pelo de Ermelino Matarazzo (19), no extremo leste.

O governo informou nesta semana que há 12 mil testes aguardando para ser avaliados. Nesses exames há vários de médicos e de profissionais da saúde afastados por suspeitas da doença, sem poder atender.

Funcionária de unidades públicas e privadas no interior, a médica Silvia Kamijo, 42, diz que foi afastada no dia 22 após sentir febre e dor no corpo. Passou a cumprir uma quarentena, conforme o protocolo que estabecele 14 dias. Desde então, espera o resultado de um teste do Instituto Adolfo Lutz, que não chega, para voltar a trabalhar.

"A secretaria de estado tem que fazer alguma coisa. A gente quer voltar, eu já estou bem. É mão de obra que está faltando em três serviços, nas prefeituras e nos serviços privados", diz a médica.

Sem acesso a material próprio de proteção como máscaras, aventais, luvas e até álcool em gel, dizem eles, a tendência é que esses números sejam cada vez maiores.

Além da falta de equipamentos, a reportagem ouviu médicos de hospitais privados que afirmaram, inclusive, terem sido proibidos de usar máscaras compradas com o próprio dinheiro durante o trabalho para não assustar os pacientes.

Sindicatos e conselhos da área médica têm cobrado e feito campanha pelas EPIs.

"Os profissionais de saúde são o grupo social mais vulnerável às infecções respiratórias. Estão sendo infectadas muitas pessoas na Itália, na Espanha, já foram na China e agora nos Estados Unidos. A gente precisa proteger os profissionais de saúde oferecendo equipamentos de proteção individual adequados", afirmou Gerson Salvador, diretor do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo).

Ele também cobra a realização dos testes no profissionais. "A falta de testes faz com que um profissional seja afastado de suas atribuições por até 14 dias e, por outro lado, pessoas com menos sintomas não são afastadas e também podem transmitir para outras pessoas, pacientes e colegas", disse.

A reportagem questionou a prefeitura sobre as baixas no sistema de saúde, mas não obteve resposta.

O governo estadual afirmou que os profissionais da saúde estão entre as prioridades para os testes. Segundo a Secretaria da Saúde, o governo "possui uma rede de 100 hospitais e está fazendo o levantamento junto às unidades" dos afastamentos. "Importante destacar que a pasta atua com modelos diferentes de gestão (administração direta, autarquias e contratos com OSS). No caso das OSS, por exemplo, por contrato, a empresa é responsável pela reposição do quadro de forma a atender plenamente as metas", afirma o governo estadual. Segundo o governo, "qualquer colaborador com suspeita de Covid-19 será afastado para proteção da sua saúde e das demais pessoas que frequentam a unidade".

Para tentar suprir as baixas, o governo federal publicou uma portaria que permite que estudantes de medicina, enfermagem e outros da área da saúde cumpram estágio para ajudar no combate ao coronavírus. O Brasil tem 490 mil médicos ativos, sendo que 141 mil estão no estado de São Paulo.

A portaria permite a participação de estudantes de 5º e 6º ano de Medicina. Ela depende de adesão dos estados e municípios, mas é automática a órgãos federais.

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