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Com cuidado dobrado, mãe com coronavírus pode amamentar bebê, transmitindo anticorpos

Higienização é importante, pois recém-nascidos e crianças têm sistema imunológico frágil

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São Paulo

Em tempos de pandemia de coronavírus, muitos se preocupam não só com os mais velhos, um dos grupos mais vulneráveis, mas também com os bebê novos, que ainda têm um frágil sistema imunológico.

Por isso, claro, todo cuidado é pouco. A higiene deve ser feita com afinco antes de ter contato com um recém-nascido, e é recomendada distância de pessoas com quadros gripais, de coronavírus ou não.

No entanto, não é por isso que as mães, mesmo as que tenham contraído a Covid-19, devam manter-se longe dos filhos, explica Victor Nudelman, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein.

“O que a OMS recomendou, e sociedades de pediatria adotaram, é que não se interrompa o aleitamento materno. Mãe com suspeita ou confirmação [de coronavírus] precisa tomar cuidados, higiene e máscara, mas pode segurar o bebê, ter contato pele a pele, pode amamentar. Se não estiver se sentindo bem, mental ou fisicamente, pode dar [o leite] com copinho”, diz.

Nudelman explica, inclusive, que as mães podem acabar transmitindo a seus filhos, pela placenta ou pelo leite, os anticorpos necessários para o combate da doença. Por isso é que se pede, por exemplo, que mães tomem vacinas contra gripe e hepatite durante a gestação.

“A mãe não precisa se desesperar, é isso que quero dizer. Não que não se preocupe; ela deve tomar todos os cuidados de isolamento como se fosse um caso de alguém não grávida, mas não precisa correr para tirar o bebê [num parto], por exemplo”, diz.

Ele ainda ressalta que, mesmo entre crianças com até 28 dias de vida, que têm uma resposta imunológica demorada, a imunidade transmitida pela mãe pode ser fundamental, desde que os cuidados com o bebê sejam reforçados para que ele não tenha chance alguma de contrair a doença.

Renato Grinbaum, infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, recomenda que a criança fique apenas com os pais e tenha contato com o mínimo de pessoas possível.

“Nenhum pediatra gosta que beije demais uma criança, ela nem percebe o carinho [dependendo da idade]. Pessoas com gripe e resfriado não podem ficar próximas, porque o bebê não consegue lidar com um resfriado da mesma forma que um adulto”, diz.

Segundo Nudelman, há que se ter cuidado com qualquer estudo quanto aos efeitos do vírus em bebês, sobretudo porque os dados ainda são poucos.

Médicas chinesas se despedem de bebê de sete meses, que pegou coronavírus, mas se recuperou após nove dias no hospital
Médicas chinesas se despedem de bebê de sete meses, que pegou coronavírus, mas se recuperou após nove dias no hospital - Peng Zhaozhi - 17.fev.2020/Xinhua

Dos seis casos, na China, que se teve notícias de gestantes que contraíram a doença, ele afirma que não se encontrou qualquer indício de transmissão do novo cornavírus pela placenta, o que se chama de transmissão vertical.

Os poucos bebês recém-nascidos, também na China, que tiveram resultado positivo para o exame de coronavírus “evoluíram tão bem que pensaram até poder ser um falso positivo”.

Por outro lado, em casos com outros coronavírus parecidos, como o Sars e da Mers (que são usados em estudos para tentar compreender melhor o Sars-COV-2), os bebês de mães doentes tiveram graves sequelas.

Para Nudelman, além de amamentar é importante criar mecanismos para que, com cuidado redobrado e medidas de isolamento, conseguir ter consulta com médico responsável e realizar os exames necessários, sobretudo para os recém-nascidos.

Ele ressalta ainda que há que se tomar cuidado ao se decidir, por exemplo, ir para uma casa de campo. O local pode, sim, trazer menos perigo ao sistema imunológico da criança, mas precisa ter acesso rápido e fácil a algum consultório ou hospital especializado.

Caso a criança apresente sintomas como tosse, atenção: “A gente tem que segurar um pouco [a inalação com soro fisiológico], porque esses procedimentos inalatórios disseminam mais o vírus no ambiente, bom evitar fazer em casa”, diz.

No caso da mãe apresentar sintomas como febre, prostração e respiração rápida ou cansada fora da hora da febre, ele indica que se comunique a um médico e que se procure um local sem fila e sem aglomeração para fazer a consulta.

A recomendação que ele faz é que tanto bebê quanto mãe tomem bastante líquido e que se use soro nasal ao invés de inalação. E lavar, sempre, muito bem as mãos.

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