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Coronavírus

Como dados e transparência podem ajudar no combate ao coronavírus

Uma constante entre os países asiáticos é a preocupação com a comunicação com a população

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Voluntários que produzem máscaras se alongam durante o expediente em Seul, na Coreia do Sul - Ed Jones/AFP

Enquanto os países europeus agora são o novo epicentro da epidemia de Covid-19 e não parecem apresentar boas soluções para o problema, os asiáticos como Coreia do Sul, Taiwan e Singapura já têm apresentado excelentes resultados no controle da doença.

Um dos casos de sucesso, a Coreia do Sul tem 8.652 casos no total, mas apenas 87 casos novos e 94 mortes. O país não adotou quarentena generalizada ou fechamento generalizado de comércios ou transporte público.

Taiwan e Singapura, que tiveram seus primeiros casos em janeiro, mantêm a epidemia controlada com 108 e 345 casos respectivamente.

Uma constante entre os países é a preocupação com a transparência e comunicação com a população. Desde 22 de janeiro o Ministério da Economia taiwanês lista diariamente a capacidade de manufatura de máscaras e a demanda. Quantas máscaras o Brasil tem? Qual nossa capacidade de produção?

Em Singapura, o governo fornece informações claras e acuradas sobre cada pessoa infectada com o vírus, incluindo idade e hospital.

Esses países, porém, conseguiram conter o surto de Covid-19 no começo, quando é mais fácil. Além disso, são países pequenos.

Na Coreia do Sul, autoridades declararam que quarentenas e fechamentos de cidades e regiões são incompatíveis com uma sociedade aberta e democrática. Por isso, combinaram participação do público para autoquarentena e medidas de higiene, juntamente com o maior e mais bem organizado programa de testes do mundo, e o uso de tecnologia para rastrear os casos suspeitos.

Obviamente, a capacidade estatal para tanto não foi construída do dia para a noite, mas ao longo das últimas duas décadas, após as experiências com outras epidemias, como Sars (síndrome respiratória aguda grave) e Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio).

Além disso, o uso de tecnologia de rastreamento —incluindo dados dos celulares— sugerem que o governo tem muito mais acesso a dados pessoais do que em países como o Brasil.

Um dos aprendizados da epidemia de Mers foi a importância de disponibilizar informação sobre as fontes de transmissão da doença. Há evidência de que a publicação da lista de hospitais com casos da doença ajudou a reduzir o contágio, já que esses eram um dos principais focos de contaminação.

E um dos legados foi a aprovação de uma lei que autorizou o governo a prender pessoas que não respeitem quarentena ou mintam sobre sintomas e fechar lugares infectados.

Segundo Justin Fendos, doutor em microbiologia por Yale e professor da Dongseo University na Coreia do Sul, um dos diferenciais é ter um Procedimento Operacional Padrão sobre como agir.

No caso da Coreia do Sul, envolve cinco passos fundamentais: campanha de informação transparente agressiva, testes em massa, quarentena de indivíduos infectados, tratamento dos pacientes e desinfecção dos ambientes contaminados.

Transparência é o componente usado para direcionar quem deve ser testado, já que é impossível testar todo mundo. Assim, comunicar fatores de risco e medidas úteis é fundamental.

Você visitou um lugar onde um paciente infectado passou na janela de contaminação? Vá se testar. Essas informações são comunicadas diariamente pela TV, sites e mensagens de texto. E tais mensagens de texto chegam de um contato governamental que vem de fábrica nos celulares, evitando o problema das fake news.

Desafios existem. Segundo Fendos, o letramento científico é menor em idosos, e eles são o grupo mais refratário a seguir as orientações, juntamente com algumas denominações religiosas.

Não adianta imaginar que o Brasil poderá simplesmente copiar a estratégia da Coreia do Sul. Não só eles estão se preparando há muito tempo para lidar com uma epidemia assim, como são um país menor, mais rico e menos desigual que o Brasil, além de culturalmente diferente.

Mas entender como eles estão tendo sucesso pode nos dar pistas importantes do que devemos fazer aqui.

Manoel Galdino

Diretor-executivo da Transparência Brasil

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