Descrição de chapéu Coronavírus

Em 1º dia de proibição de estrangeiros, Guarulhos tem apreensão e aglomerações

Passageiros relatam baixo controle sanitário; embarque internacional tem filas longas

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São Paulo

No local por onde chegou o novo coronavírus ao Brasil, o clima era de apreensão na tarde desta segunda-feira (23).

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, o maior do país, passageiros usavam máscaras, trabalhadores evitavam contato próximo e filas e filas eram formadas por estrangeiros tentando voltar a seus países.

Desde esta segunda, o governo barra a entrada de estrangeiros vindos de países da União Europeia, China, Islândia, Noruega, Suíça, Reino Unido, Austrália, Japão, Malásia e Coreia do Sul —com exceções como imigrantes com prévia autorização de residência.

Em geral, esses países representam 25% dos passageiros de destinos internacionais que vêm ao Brasil nos meses de março e abril. Portugal é de onde mais vêm passageiros (no ano passado, vieram de lá 7% dos passageiros internacionais). A segunda colocação fica com Espanha e França (4% dos passageiros).

Epicentros do novo coronavírus, Itália representa 3% dos passageiros que veem ao país; China, 0,1%. Os dados são da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), tabulados pela Folha.

Eles não podem mais entrar, mas muitos tentavam sair para enfrentar a epidemia em seus lares nesta segunda. Um voo gratuito repatriava alemães no Brasil nesta tarde, segundo funcionários de uma companhia aérea relataram à reportagem, procedimento já feito por outros governos, como Israel.

As filas não chegavam perto de respeitar a distância mínima de 2 metros recomendada pelo Ministério da Saúde, e, no terminal internacional, eram comuns máscaras de todos os tipos —nos terminais domésticos, por outro lado, a movimentação era mínima. Havia pouca sinalização para o novo vírus, além de alguns paineis de LED e avisos sonoros orientando a lavar as mãos.

Renan Corrêa, 26, deixou estudo e trabalho em Melbourne, Austrália, para se juntar à família em São Paulo. Do outro lado do mundo, não houve qualquer controle de saúde, mas na conexão no Chile ele teve sua temperatura medida pela testa e foi entrevistado por um agente local.

No voo para o Brasil, afirma ele, o único procedimento foi um anúncio dos comissários de bordo de que, caso alguém apresentasse algum sintoma como tosse ou febre, deveria procurar um agente no aeroporto.

“Passei pelo controle de passaporte e fui recolher a minha mala. No longo caminho, nenhum agente de saúde, ninguém medindo temperatura, achei apenas uma estação com álcool em gel próximo ao banheiro. Na esteira para recolher as malas, aglomeração e um pouco de demora”, diz ele. “Se alguém tivesse com sintomas ali teria passado despercebido.”

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão responsável pelo controle sanitário dos aeroportos do país, diz que a notificação de casos e suspeitas a bordo e a veiculação dos alertas antes dos voos são de responsabilidade da companhia aérea.

O órgão afirma ainda que não faz triagem aleatória nem mede a temperatura dos passageiros porque a “medida é avaliada pelo Brasil como de baixa efetividade, devido a diferentes fatores individuais de cada pessoa” e não tem suporte nas evidências científicas. A agência diz que segue as orientações da OMS.

O órgão travou embates recentes com governos estaduais que adotaram o procedimento, caso da Bahia.

A Anvisa diz que casos suspeitos são encaminhados para o serviço de saúde do município e que passageiros sem sintomas não devem ficar retidos no aeroporto, mas desembarcar e seguir as orientações dadas à população.

Um painel de LED exibe um anúncio do governo federal que diz: “Se você voltou de viagem internacional, recomenda-se isolamento domiciliar voluntário por sete dias após o desembarque, mesmo que não tenha apresentado sintomas.”

A recomendação de isolamento voluntário, em outros países, é obrigação. Na última semana, reportagem da Folha mostrou que o governo argentino deportou 270 turistas que não cumpriram a quarentena obrigatória a que foram submetidos —o governo checou com os hotéis se eles descumpriram o confinamento.

A apreensão também existe nos voos domésticos. Cícero Santana, 47, trabalhava numa empresa metalúrgica em Goiás, mas foi dispensado com o começo da epidemia. Nesta segunda, de máscara, fez conexão em Guarulhos antes de seguir de volta a Aracaju, de onde é.

No voo, os comissários usavam máscara e luvas e não serviram lanche. “A maior preocupação é se vai poder ou não pousar, porque tem muito boato, o pessoal fala que vai fechar o aeroporto, é complicado. E com a família, porque não quero levar nada a eles”, diz Santana.

Quem trabalhava no local se queixava da exposição. Cozinheiras e garçonetes de um restaurante no local, que preferem não serem identificadas, dizem que, apesar de terem tido a jornada reduzida, ainda têm contato direto com os clientes, além de operar dinheiro em espécie.

Contato direto mesmo tem o massagista Robson dos Santos, 34, que há quatro anos trabalha no aeroporto. “É banho de álcool em gel e muita oração”, resume ele, que diz usar máscara nos atendimentos.

A partir desta terça (24), porém, não vai abrir mais. “É bom para nos protegermos. Mas sou um prestador de serviços. Se não trabalho, não ganho”, lamenta.

A vendedora Maria Gabriela, 19, por sua vez, diz que acabou de começar a trabalhar lá —“e já enfrentei essa loucura toda.” Na loja de lembrancinhas, atende cerca de 40 pessoas por dia. Um colega diz que antes da epidemia eram mais de 100.

Decreto do governador João Doria (PSDB) determina que restaurantes e comércios no estado não podem mais abrir ao público a partir desta terça.

A GRU Airport, que administra o aeroporto, diz que está instalada em área da União e, por isso, fica fora da área do decreto, além de ser prestadora de serviço público essencial.

"Diante do cenário atual, sem precedentes, a GRU Airport reitera que cabe aos lojistas a definição sobre suas operações, mas recomenda que operem em horários reduzidos para manutenção das condições mínimas de funcionamento do aeroporto."

A empresa diz que tem orientado as companhias a estabelecerem filas com uma distância mínima entre as pessoas, em todas as fases de embarque e desembarque.

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