Governo italiano impõe restrições de viagem em todo o país por causa do coronavírus

Novas regras também pedem para evitar aglomerações; governo havia isolado 16 milhões no norte do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Milão (Itália)

O governo italiano anunciou na noite desta segunda-feira (9) que o deslocamento de pessoas está proibido em todo o país, ampliando, menos de 48 horas depois, as restrições impostas à região da Lombardia e a outras cidades do norte por causa do novo coronavírus.

A partir de terça-feira, a circulação dentro da Itália está vetada, a não ser por motivo de saúde, trabalho ou "casos de necessidade". O mesmo vale para quem pretende sair ou entrar no país, independentemente do lugar de destino ou origem.

Os cidadãos que estão fora da própria cidade estão autorizados a voltar para casa. Todos os deslocamentos, inclusive o de turistas, dependem da autorização dos agentes de segurança, que, em tese, vão exigir um documento com os dados pessoais e o motivo da viagem. O módulo a ser preenchido está disponível online.

A autocertificação, que já estava sendo usada nesta segunda na região norte, é considerada um instrumento frágil de controle. O primeiro-ministro Giuseppe Conte, no entanto, reforçou que se o documento for, depois, comprovado como falso, seu autor será submetido a penas que incluem multa e prisão por três meses. Os sistemas de transporte municipais e regionais não serão interrompidos.

Com mais de 9.000 casos positivos e 463 mortos (até as 18h de segunda-feira), a Itália, com 60 milhões de habitantes, é o primeiro país a entrar inteiramente em quarentena por causa do coronavírus. É também o segundo mais afetado pela doença covid-19 depois da China, onde a emergência sanitária começou, em janeiro.

"Não existe mais zona vermelha, uma zona um ou uma zona dois. Haverá a Itália. Uma Itália zona protegida", afirmou Conte, em entrevista para jornalistas nesta noite, quando anunciou o teor do novo decreto.

"Os números nos dizem que está havendo um crescimento considerável de contágios, de pessoas internadas em terapia intensiva e semi-intensiva e vítimas", disse. "A decisão certa hoje é ficar em casa. O futuro da Itália está em nossas mãos, que devem ser mãos responsáveis, mais do que nunca. Cada um deve fazer a sua parte", pediu Conte.

No domingo (8), cerca de 16 milhões de italianos acordaram impedidos de viajar livremente na região mais rica do país, a Lombardia, e em outras cidades do norte da Itália, como Veneza, por causa do novo coronavírus, até pelo menos o dia 3 de abril.

Segundo informações das autoridades sanitárias italianas, há 5.049 contaminados internados, sendo 733 em unidades de terapia intensiva. O sistema de saúde da Lombardia, a área mais rica do país, e de cidades vizinhas está perto do colapso, com hospitais lotados e carência de médicos e enfermeiros.

Com a intenção de barrar a difusão do vírus, as medidas restritivas valem, pelo menos, até o dia 3 de abril. Até lá, todas as escolas continuam fechadas, assim como estão vetadas atividades culturais (museus, cinemas e teatros), missas, cerimônias civis (casamentos e funerais) e eventos esportivos. O campeonato da Série A de futebol, que já teve diversas partidas adiadas ou realizadas sem torcidas, está suspenso.

 

Bares e restaurantes só podem funcionar até as 18h. Lojas, supermercados e demais estabelecimentos comerciais podem abrir desde que tenham condições de respeitar a distância mínima de um metro de distância entre os clientes.

Nesta segunda (9), os pontos de controle começaram a funcionar em cidades da Lombardia e vizinhança, com policiais checando um a um nas estações de trens, aeroportos e estradas.

O ampliação das restrições da região norte para todo o país aconteceu depois que vários cidadãos tentaram escapar da área que entrou em quarentena neste domingo, o que pode ter espalhado ainda mais o coronavírus.

O rascunho do decreto com as duras medidas foi publicado pelos jornais italianos no início da noite de sábado (7), levando a um corre-corre a estações de trem e terminais de ônibus, com pessoas embarcando com destino às cidades do sul. Agora, todo tipo de deslocamento está vetado.

O decreto do governo italiano também provocou, nesta segunda (9), rebeliões em 28 centros de detenção do país, com prisioneiros protestando contra a suspensão das visitas e das saídas de quem vive em regime de semiliberdade. Ao menos sete pessoas morreram em Módena e mais de 30 fugiram em Foggia.

No Brasil, quem comprou passagens ou fechou pacotes turísticos para a Itália e quer cancelar ou adiar a viagem por causa da epidemia pode procurar o Procon para obter ajuda sobre como fazê-lo. Segundo o órgão, é preciso negociar com a empresa responsável pela venda, que não pode se recusar a oferecer alternativas.

A Hungria interrompeu todos os voos para o norte da Itália e a concessão de vistos para iranianos. Também cancelou as cerimônias de seu dia nacional, 15 de março, e suspendeu visitas a hospitais.

A Suíça anunciou o fechamento de sua fronteira com a Itália, a não ser para quem comprove que trabalha no país vizinho —cerca de 80 mil italianos atravessam diariamente a fronteira com a Suíça para trabalhar, segundo o governo suíço.

A medida drástica tomada pelo governo italiano aumentou o nível de alerta em outros países, tanto pelo medo de contágio semelhante quanto pelos prejuízos que esse tipo de ação pode trazer.

Com AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.